Um cruzamento de dados comparando números do IBGE e do TSE revela que 1.379 cidades do Brasil têm um eleitorado superior a 80% da população. De acordo com a legislação, quando este percentual é atingido, é preciso fazer a revisão do eleitorado
No município de Ermo, que fica no litoral sul de Santa Catarina, a 230 quilômetros de Florianópolis, o número de eleitores corresponde a 130% dos habitantes. Lá, moram 1.843 pessoas, de acordo com a última contagem populacional do IBGE, e 2.405 eleitores estão cadastrados para votar na cidade, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), atualizados em setembro. Ermo lidera uma lista de 50 municípios com a maior diferença entre a população e eleitorado.
A região Nordeste é a que possui o maior número - 20 municípios -; a região Sudeste possui 13; a região Sul com outros sete; e as regiões Centro-Oeste e Norte empatadas com cinco localidades.
O prefeito de Ermo, Marcos Leone de Oliveira, explica que muitos habitantes dos municípios vizinhos têm título eleitoral na cidade. Além disso, segundo ele, estudantes que vão para outros municípios para cursar uma faculdade mantêm o título em Ermo.
A cidade de Ermo é uma das 89 de Santa Catarina que terão o eleitorado revisto pelo Tribunal Regional Eleitoral. O prefeito acredita que, mesmo depois da revisão, o número de eleitores fique em torno de 2 mil. Segundo ele, já foi feito um recadastramento há quatro anos, quando o número de eleitores foi para 1,6 mil.
- Mas depois, os eleitores da divisa (dos municípios vizinhos) voltaram a votar no município - explica.
Para o coordenador técnico do censo demográfico do IBGE Marco Antônio Alexandre, no entanto, não é recomendável a comparação entre os dados utilizados pelo instituto e pelo TSE porque há diferenças de metodolodias.
Os dados usados pelo TSE também não seriam recentes. Se o tribunal pudesse ter usado números divulgados na semana passada pelo IBGE, o número de municípios passíveis de revisão do eleitorado seria diferente.
Municípios também possuem baixo número de eleitores
No outro extremo da comparação está a cidade de Jacareacanga, no sudoeste do estado do Pará. A população do município é de 37.055, mas só 6.562 pessoas são eleitores, o que corresponde a 17,7% dos habitantes.
A explicação do presidente da Câmara Municipal, vereador Raimundo Bernardo da Silva (PMDB), é que quase metade da população do município é composta por índios da tribo Munduruku. Destes, segundo ele, menos de 10% têm título de eleitor.
- Quando uma pessoa pega todos os seus documentos, ela passa a ser um cidadão, deixa de ser índio - avalia Silva.
Outra questão apontada pelo vereador é a existência de garimpos de ouro na região, que atrai moradores eventuais, que não têm título eleitoral na cidade.
- Os caras vêm, trabalham, pegam a sua produção e vão embora. São aventureiros - explica.
O TSE determinou, em setembro deste ano, a revisão do eleitorado em 1.128 dos 5.564 municípios do país. Assim, 6.812.962 eleitores de 24 estados devem comparecer ao cartório eleitoral de seu município até o fim do ano para regularizar a sua situação, caso contrário, poderá ter o título de eleitor cancelado.
Para chegar ao número de municípios que devem ter o seu eleitorado revisto, o TSE utiliza as projeções populacionais produzidas pelo IBGE. As revisões não podem ser realizadas em ano de eleição.
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