A CPI dos Grampos, no auge das discussões, em 2008, divulgou que havia 400 mil interceptações telefônicas autorizadas por juízes em todo o Brasil. Uma das consequências da CPI foi que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) passou a monitorar todas as escutas autorizadas judicialmente para evitar abusos. E descobriu-se que a quantidade de grampos legais no país é bem menor: 10,5 mil interceptações telefônicas atualmente estão em curso no país, decretadas pela Justiça Estadual e pela Justiça Federal. O número é considerado pequeno por juízes e pela Polícia Federal, que esperam mudanças na lei sobre interceptações para facilitar o combate ao crime organizado.
Mensalmente o CNJ recebe informações atualizadas dos juízes que acolheram pedidos da polícia ou do Ministério Público e autorizaram as escutas. "É um número relativamente pequeno de interceptações, não é nada para um país de 180 milhões de habitantes", avalia a juíza auxiliar da Corregedoria do CNJ, Salise Monteiro Sanchotene.
A grande maioria dessas interceptações mais de 10 mil foi ordenada por magistrados estaduais. Os registros do CNJ indicam que o Paraná é o estado com maior número de interceptações (o número exato de interceptações paranaenses, porém, não foi divulgado). Já a Polícia Federal, que se reporta à Justiça Federal, realiza atualmente 391 monitoramentos de comunicações.
Segundo a juíza Salise, que também exerce a função de diretora jurídica do Encla (Estratégia Nacional de Combate à Lavagem de Dinheiro e de Recuperação de Ativos), a interceptação "é usada sem exageros". "É ferramenta essencial, sem ela não se investiga crime organizado. É empregada com bastante comedimento."
Salise defende revisão urgente na lei sobre escutas. "É momento de a sociedade refletir que legislação deseja. O Judiciário é seguidamente acusado de libertar suspeitos. Mas quais as ferramentas os juízes têm para trabalhar no processo criminal?"
"Nós queremos uma legislação que permita avançarmos com o sistema automatizado de interceptação e um controle dos equipamentos que são vendidos para fazer esse tipo de serviço", diz a juíza. "Não existe no Brasil regulamentação das empresas que vendem produtos criptografados. Também é necessária regulamentação da captação ambiental. Até hoje é uma previsão abstrata. Tudo o que gera dúvidas no processo penal é ruim porque os advogados levam isso até o Supremo Tribunal Federal."
Apesar disso, ela diz que as propostas em tramitação no Congresso não avançam. O diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, concorda que é preciso mudar a lei. "Não podemos enfrentar adequadamente a criminalidade organizada com esse estágio atual de tecnologias", alerta Corrêa. "A privacidade a serviço do crime não interessa para a sociedade."
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