Acusado de movimentar US$ 1,2 bilhão entre 1995 e 2002 em pelo menos seis contas do Banestado e do Merchants Banks, de Nova York, o doleiro Hélio Renato Laniado foi preso, nesta terça-feira, pela Interpol em Praga, na República Tcheca. Laniado fugiu do Brasil em abril. Denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por evasão de divisas, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, ele tinha prisão preventiva decretada e seu nome constava da lista de "red notice" (pedido de prisão com vista a posterior extradição) da Interpol.
Ao verificar a contabilidade paralela dos negócios de Laniado, o MPF verificou ainda que ele atuava no Brasil em parceria com o doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, preso desde o ano passado e que na terça-feira afirmou a integrantes da CPI dos Correios, em São Paulo, que operou para o PT na campanha de 2002.
Responsável no Brasil pela força-tarefa que levou à prisão de Laniado, o procurador da República no Paraná Vladimir Aras disse que deverá ter dificuldade para identificar os clientes do doleiro. Muitos aparecem em documentos apreendidos de forma não-identificada:
- Eles (Laniado e Toninho da Barcelona) faziam trabalho de compensação paralela de dólares. Um socorria o outro quando não tinha posição (dinheiro) para abastecer as contas no exterior. Ao cruzar a contabilidade dos dois, vimos que eles tinham uma espécie de sociedade.
De acordo com procuradores da República, entre 1995 e 2002 Laniado, com Eliott Maurice Eskinazi, Renato Bento Maudonet Junior e Dany Lederman, também denunciados pelo MPF, movimentou US$ 1,2 bilhão nas contas Watson, Braza, Best, Wipper, Taos e Durant, nos bancos Banestado e Merchants Bank, de Nova York. Em duas contas foram bloqueados pelos Estados Unidos US$ 3,5 milhões.
O MPF decidiu iniciar amanhã, no Paraná, as negociações para a redução da pena de Toninho da Barcelona, que prometeu anteontem entregar supostos esquemas do PT e de membros do governo à CPI dos Correios. Os procuradores Carlos Augusto Cazarré e Januário Paludo, de Porto Alegre, vão iniciar as negociações com Toninho da Barcelona e seus advogados, em Curitiba. Segundo Cazarré, da Procuradoria da República na 4ª Região, não há ainda uma proposta para a delação premiada.
- A redução de pena é o pedido dos advogados dele. Mas primeiro teremos que saber exatamente o que ele tem a dizer. Se realmente puder colaborar, vamos analisar a proposta - disse Cazarré.
Os procuradores Vladimir Aras e Carlos Fernando Lima, ambos do Paraná, que atuam nas investigações do Banestado, pretendem ouvir Toninho sobre o Trade Link, que teve vinculação com as duas instituições. Segundo Aras, o MPF quer quebrar sigilos para descobrir supostos esquemas de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
- Caso apareçam nomes de pessoas que têm foro privilegiado, mandaremos o caso para a Procuradoria da República. Por enquanto não temos informações - disse Aras.
Segundo o procurador, o doleiro Richard Waterloo, citado anteontem por Toninho da Barcelona, é um dos suspeitos investigados no caso Banestado. Waterloo e seu sócio, Raul Henrique Sraur são donos de três offshores: a Sherebone. a Dairland e a Deraboix, todas com contas no MTB Bank, a mesma instituição que Toninho disse à CPI ser a maior "caixa preta" do país, negociando 90% dos dólares entram e saem ilegalmente.
Interessado no perdão judicial, Toninho da Barcelona levantou suspeitas em seu depoimento sobre o envio de recursos ao exterior, provenientes de corrupção na prefeitura de Santo André durante a gestão petista, que teria sido feito por ele. Como em todos os momentos do depoimento em que ameaçou fazer alguma revelação, Toninho citou o assunto, mas disse que explicaria tudo numa sessão pública da CPI, em Brasília.
Depois de dizer que estava sendo ameaçado de morte e lamentar pela vida que leva na cadeia, em Avaré (SP), Toninho entrou no assunto sobre Santo André. Disse que tomou conhecimento da sua convocação para depor na CPI do Banestado, em abril de 2004, por iniciativa do presidente da CPI, Antero Paes de Barros (PSDB-MT) e que, dias depois, foi procurado por outro doleiro chamado Richard Waterloo, que teria uma casa de câmbio no shopping Iguatemi. Marcaram um encontro numa doceria em São Paulo.
- Ele perguntou se eu tinha sido intimado. Respondi que não. Ele me disse: "Não vá". Insistia para eu não ir, mesmo que fosse intimado, e que já estava tudo certo - afirmou o doleiro, de acordo com relatos dos integrantes da CPI.
Toninho contou detalhes da conversa, mas não quis revelar quem seria o intermediário do suposto dinheiro proveniente da corrupção remetido ao exterior.
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