Entrevista
Rodrigo Rocha Loures, chefe de relações institucionais da Vice-Presidência da República
Chefe de Relações Institucionais da Vice-Presidência, o paranaense Rodrigo Rocha Loures acompanhou de perto os momentos de tensão entre o vice-presidente, Michel Temer, e o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, na semana passada. Segundo ele, o episódio trouxe ensinamentos para ambos os lados. Além disso, afirmou ser "bastante improvável" o apoio do PMDB à abertura de uma CPI para investigar o ministro.
O que ficou de lição após a discussão entre o vice-presidente, Michel Temer, e o ministro Antonio Palocci na semana passada?
Que o PMDB e o PT têm a responsabilidade de governar o Brasil juntos. Acho que ficou claro que é preciso estreitar o diálogo do governo com o Congresso. Também precisamos dedicar mais tempo para a base aliada e não apenas para o PMDB.
O Michel Temer disse hoje [ontem] que a discussão já faz parte do passado. Esse é realmente o clima?
Usando uma metáfora do futebol: em alguns momentos o jogo fica mais quente, mas ao final da partida todos se cumprimentam e partem para a próxima. A discussão aconteceu no calor da votação do Código Florestal, um momento isolado. Houve um desalinhamento momentâneo, que já foi superado. Até porque a orientação da posição do PMDB na Câmara cabe ao seu líder, Henrique Alves, e não ao vice-presidente da República.
É seguro que o PMDB atuará unido para barrar uma CPI para investigar o ministro Palocci?
O PMDB aguarda o pronunciamento do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que já recebeu a defesa por escrito do ministro. Tanto no Senado quanto na Câmara me parece que nossos deputados e senadores irão aguardar essa definição. Parece que, neste momento, ela é bastante improvável. Não há fato novo, além dos já divulgados, que se apresente como suficiente para que a bancada pense de outra forma. (AG)
Daniel Castellano/ Gazeta do PovoOAB pede afastamento imediato de Palocci
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, defendeu ontem o afastamento imediato do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, do cargo. Segundo o presidente da entidade, a medida "soaria muito bem" até que o ministro desse as devidas explicações sobre o crescimento do seu patrimônio nos últimos anos.
O agravamento da crise com o PT deu força às alas "independentes" do PMDB no Congresso Nacional. Até agora isolados das decisões da cúpula do partido sobre a aliança com o governo, esses grupos serão decisivos para o futuro do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. Enquanto ontem o vice-presidente, Michel Temer, tentava esfriar o conflito, eles preparavam novas manifestações de descontentamento para hoje.
A primeira delas será um discurso em plenário do senador Pedro Simon (RS). Na fala, o gaúcho pedirá o afastamento de Palocci até que as denúncias contra ele sejam esclarecidas. Há suspeitas sobre a evolução patrimonial do ministro, cujos bens cresceram 20 vezes entre 2006 e 2010 (de R$ 356 mil para R$ 7,5 milhões) graças ao desempenho de sua empresa de consultoria.
Simon vai apresentar a sugestão pessoalmente à presidente Dilma Rousseff na quarta-feira, quando ela vai se reunir com a bancada de senadores do PMDB. O senador vai usar como exemplo o caso do ex-ministro da Casa Civil Henrique Hargreaves, afastado do cargo pelo então presidente Itamar Franco. Hargreaves era suspeito de envolvimento em desvios no orçamento da União e, depois de comprovar que era inocente, voltou ao posto.
Na época, o peemedebista era líder do governo Itamar no Senado. Em entrevista à Gazeta do Povo publicada no último dia 23, o ex-ministro Hargreaves disse que tomou a decisão para "não prejudicar o presidente". No mesmo dia, outra senadora gaúcha, Ana Amélia Lemos (PP), também citou o episódio como modelo para o caso Palocci.
Na Câmara dos Deputados, outro grupo de peemedebistas articula uma manifestação pública do partido contra dois acontecimentos da semana passada. O primeiro foi a declaração do líder do governo na Casa, Cândido Vaccarezza (PT-RS), que afirmou que a proposta de mudança no Código Florestal feita pelo PMDB era "uma vergonha para o Brasil". O outro foi a ameaça feita por Palocci a Temer de que os ministros da legenda seriam demitidos caso os deputados peemedebistas não ficassem com o governo na votação do código.
"Foram demonstrações claras de arrogância, tanto do Palocci quanto do Vaccarezza. Não podemos aceitar uma agressão dessas sem reagir", diz o deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS). O parlamentar coordena uma corrente da sigla batizada como Afirmação Democrática, que reúne outros 15 deputados três deles paranaenses (João Arruda, Osmar Serraglio e Reinhold Stephanes).
Terra diz que, por enquanto, a ala não defende a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar se há irregularidade no crescimento patrimonial de Palocci. "Mas o ministro tem de vir ao Congresso para pelo menos se explicar", diz o deputado gaúcho. Até agora, o PMDB vem auxiliando o PT na derrubada dos pedidos de convocação de Palocci em comissões permanentes da Câmara e do Senado.
"Acho que essas explicações seriam melhores do que uma CPI. Ninguém no partido quer fazer o jogo da oposição", diz João Arruda. Entre os dissidentes do PMDB no Senado, porém, a ideia é outra.
O senador Jarbas Vasconcellos (PE) já assinou o requerimento de abertura de CPI. Segundo o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias, outros sete peemedebistas disseram na semana passada que iriam apoiar as investigações caso Palocci não esclarecesse sua situação junto à Procuradoria-Geral da República. "Como ele não acrescentou nenhuma informação sobre os clientes da sua consultoria, acredito que esses senadores estão conosco", afirmou Alvaro. Entre eles, está o colega paranaense Roberto Requião. O ex-governador escreveu anteontem em seu perfil no microblog Twitter que "certamente" assinará a CPI.
Panos quentes
No centro da confusão entre PT e PMDB, Michel Temer assumiu ontem interinamente a Presidência enquanto Dilma Rousseff viajou ao Uruguai. Durante reunião com ministros sobre conflitos agrários na Amazônia, Temer disse que os atritos com Palocci "ficaram no passado". Pela manhã, ele foi até a base aérea de Brasília para despedir-se pessoalmente de Dilma.
O presidente do Senado, José Sarney, fez declarações na mesma linha. Segundo ele, a democracia é "um regime de conflitos". "A aliança do PMDB com o PT é sólida", afirmou.
Interatividade
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