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José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, está preso em Curitiba. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, está preso em Curitiba.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Para tentar obter uma pena menor, o pecuarista José Carlos Bumlai, o amigo do ex-presidente Lula que foi preso no dia 24 de novembro pela Operação Lava Jato, decidiu confessar crimes que cometeu. Ele contou nesta segunda-feira (14) a delegados da Polícia Federal que pegou emprestado R$ 12 milhões do Banco Schahin em 2004 para repassar ao caixa dois do PT. A informação foi publicada nesta terça (15) pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Bumlai relatou aos policiais que metade desse valor foi destinado ao PT de Santo André, onde o partido teria sido chantageado por um empresário, Ronan Maria Pinto, que teria pedido R$ 6 milhões para não contar o que sabia sobre o caixa dois do diretório local e a relação desses recursos com o assassinato do prefeito Celso Daniel, ocorrida em 2002. Os outros R$ 6 milhões foram enviados ao PT de Campinas para quitar dívidas de campanha, segundo a confissão de Bumlai.

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No depoimento, que se tornou público nesta terça (15), Bumlai relata que soube que parte do dinheiro iria para Campinas por causa da presença de marqueteiros que atuavam na campanha daquela cidade. Sobre a remessa para Santo André, ele contou que só ficou sabendo em 2012 que os R$ 6 milhões seriam para calar um suposto chantagista.

As negociações para o empréstimo ocorreram em outubro de 2004, quando o PT participava do segundo turno de uma série de eleições municipais, entre as quais a de Campinas. Naquele ano, Dr. Hélio (PDT) venceu a disputa, tendo um candidato do PT, Demétrio Vilagra, como vice.

A dívida, de acordo com ele, nunca foi quitada. Antes de ser preso, Bumlai disse que pagara o empréstimo com embriões bovinos e negara enfaticamente que o dinheiro tivesse o PT como destino final. O PT afirma em nota que só recebe doações legais.

Bumlai contou que não fez nada para que o braço de óleo e gás do grupo Schahin conseguisse um contrato de R$ 1,6 bilhão com Petrobras, para fornecimento e operação de navios-sonda para prospecção de petróleo. rocuradores dizem que o contrato com a estatal, assinado em 2006, serviu para quitar de maneira indireta a dívida com o banco.

O lobista Fernando Soares, o Baiano, relatou em delação que Bumlai agiu junto ao então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, para que a Schahin ganhasse o contato em 2006. Tanto Gabrielli quanto Bumlai refutam essa versão. Segundo Bumlai, foi o presidente do Banco Schahin na época, Sandro Tordin, quem solicitou a ele que fizesse o empréstimo para o PT. Inicialmente, segundo o pecuarista, ninguém lhe explicou claramente qual seria o destino dos recursos.

Bumali disse que numa ocasião Tordin lhe “revelou que os dirigentes do Banco Schahin iriam mantê-lo como ‘refém’, principalmente pela relação de amizade que o interrogando [Bumlai] possuía com o então presidente da República”.

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Um dos donos do banco, Milton Schahin, disse em delação premiada que foi ele quem solicitou o empréstimo. O pecuarista relatou também que teve uma reunião no banco com Delúbio Soares, tesoureiro do PT em 2004, para confirmar que os recursos iriam para o partido. Dois marqueteiros que trabalhavam para o PT de Campinas (Armando Peralta Barbosa e Giovane Faviere) também participaram do encontro no banco, segundo Bumlai. O presidente do banco, de acordo com o pecuarista, queria tanto que o empréstimo saísse que foi até a sua casa em Campo Grande (MS) para ultimar o negócio.

O pecuarista disse ter topado fazer o empréstimo porque queria manter boas relações com o PT e ficaria constrangido se não atendesse a um pedido do presidente do Banco Schahin, depois reforçado pela encontro com Delúbio Soares. Bumlai disse que, posteriormente, teve encontros com outro tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, para cobrar a dívida.

À época do empréstimo, Bumlai disse ao banco que o recurso seria usado para comprar uma fazenda de Natalino Bertin, um dos donos do grupo homônimo, o que explica o fato de que os recursos saem do banco e vão por meio de duas transferências para Bertin.

Na confissão, ele relatou que Bertin repassou o dinheiro para o PT, mas nega que o empresário soubesse que era uma operação para beneficiar o PT. Bumlai afirmou acreditar que o PT tenha feito outros empréstimos junto ao Schahin para o caixa dois do partido, feitos por laranjas.

O depoimento de Bumlai começou por volta das 15h desta segunda (14), no mesmo horário em que procuradores da Lava Jato apresentavam à imprensa a denúncia contra o pecuarista, na qual ele é acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude bancária. O interrogatório só acabou por volta das 21h. A PF avisou os procuradores que estavam com uma nova prova importante, mas a entrevista coletiva dos procuradores já havia sido marcada.

Confissão espontânea é uma figura prevista no Código Penal e serve para atenuar a pena. Difere da delação porque o investigado não precisa assinar um compromisso no qual se compromete a revelar tudo o que sabe.

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A versão de que Bumlai repassou recursos para o PT a partir de um empréstimo foi relatada pela primeira vez pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza em 2012, após ter sido condenado a 40 anos de prisão no processo do mensalão.

Ele contou que os R$ 6 milhões destinados a Ronan Maria Pinto seriam usados pelo empresário para a compra do jornal Diário do Grande ABC. Marcos Valério, que buscava fazer um acordo de delação após ter sido condenado, disse que fora procurado pelo PT para fazer a operação, mas que se recusara.

Outro lado

O PT refutou que tenha recebido recursos ilegais de José Carlos Bumlai. Em nota, o partido disse que “todas as doações recebidas pelo PT aconteceram estritamente dentro da legalidade e foram posteriormente declaradas à Justiça eleitoral”.

O advogado de Sandro Tordin, Adriano Salles Vanni, também atacou a versão de Bumlai de que foi o seu cliente quem pediu para ele tomar o empréstimo. Segundo Salles Vanni, Tordin era presidente do banco, mas não tinha poder para conceder um empréstimo de R$ 12 milhões. “O Schahin era um banco familiar e quem mandava de fato era a família”. De acordo com o defensor, é mentirosa a versão de que Tordin tenha estado na casa de Bumlai para concluir a negociação do empréstimo.

O advogado afirmou ainda que o empréstimo feito em 2004 foi considerado regular pelo Banco Central, mas sua liquidação em 2009, não. Segundo ele, Tordin deixou o Banco Schahin em 2007. O advogado de Bumlai, Arnaldo Malheiros Filho, não quis comentar a confissão. Ele disse, porém, que acha “temerário o Ministério Público oferecer uma denúncia contra quem não foi ouvido”.

Procurada pela Folha de S.Paulo, a advogada de Ronan Maria Pinto, Sonia Drigo, não foi encontrada. A reportagem também não localizou os defensores de Natalino Bertin.

Os advogados de Armando Peralta Barbosa e Giovane Faviere também não foram encontrados pela reportagem.

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