O lobista e delator Fernando Soares, o “Baiano”, que intermediou contrato de R$ 1,6 bilhão da Schahin com a Petrobras, disse em um de seu depoimentos que pressionou o pecuarista José Carlos Bumlai para que ele acionasse o presidente Lula em 2006 e o presidente da Petrobras, Sergio Gabrieli, para que o negócio fosse fechado. Segundo Baiano, “Bumlai respondeu que o depoente poderia ficar tranquilo, pois iria acionar Gabrielli e o ‘Barba’, que era como Bumlai se referia ao presidente Lula”.
INFOGRÁFICO: Os detalhes da Operação Lava Jato
O negócio, na versão de três delatores, foi uma espécie de compensação que o grupo Schahin recebeu por ter emprestado R$ 12 milhões a Bumlai em 2004, que foram repassados ao PT, segundo investigadores da Operação Lava Jato .
Ainda de acordo com o Baiano, “Bumlai posteriormente avisou o depoente que tudo estava certo, que poderia levar a questão à diretoria executiva, pois seria aprovada”. Nessa ocasião, relata Baiano, Bumlai não mencionou o nome de Lula nem o codinome “Barba”, “mas afirmou que tinha conversado com as pessoas”.
A principal dificuldade para a Schahin obter o contrato com a Petrobras era que a empresa não tinha contratos tão vultosos como o da Vitoria 10000, de R$ 1,6 bilhão, somando a compra do navio e a operação. Até então, os contratos da Schahin com a Petrobras eram de R$ 100 milhões a US$ 150 milhões para operar sondas em águas rasas, não em águas profundas, para o pré-sal, como foi o caso do navio-sonda Vitoria 10000.
A dificuldade para aprovar o negócio era tão grande, segundo Baiano, que a diretoria executiva da Petrobras recusou o negócio por duas vezes e só foi aprovada numa terceira tentativa, todas elas apresentadas num período de seis meses. De acordo com Baiano, foi o apoio político que destravou o negócio. O lobista relata ainda que “presenciou Bumlai atendendo e fazendo ligações telefônicas para o então presidente Lula e o grau de intimidade nas conversas era realmente grande”.
Citações indevidas
O juiz diz, no entanto, que não há evidências da participação de Lula em três episódios nos quais Bumlai teria usado a sua amizade com o ex-presidente. “Destaco o que parece mais relevante. Fernando Soares relatou outros três episódios nos quais José Carlos Bumlai teria invocado indevidamente o nome e a autoridade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, afirma o juiz no despacho.
Os episódios são o repasse de R$ 2 milhões para uma nora de Lula, uma palestra do ex-presidente em Angola e a intermediação entre empresas de Eike Batista e a Sete Brasil, empresa que fazia sondas para a Petrobras.
Sobre o repasse para a nora, Moro escreveu: “Não está claro se a comissão se destinava realmente a parente do ex-presidente ou ao próprio José Carlos Bumlai, mas o fato por si só revela a invocação indevida por José Carlos Bumlai do nome e autoridade do ex-presidente”.
Segundo Moro, “a fiar-se nos depoimentos, José Carlos Bumlai teria se servido, por mais de uma vez e de maneira indevida, do nome e autoridade do ex-presidente da República para obter benefícios. Não há nenhuma prova de que o ex-presidente da República estivesse de fato envolvido nesses ilícitos, mas o comportamento recorrente do investigado José Carlos Bumlai levanta o natural receio de que o mesmo nome seja de alguma maneira, mas indevidamente, invocado para obstruir ou para interferir na investigação ou na instrução”. “Fatos da espécie teriam o potencial de causar danos não só ao processo, mas também à reputação do ex-presidente, sendo necessária a [prisão] preventiva para impedir ambos os riscos”, completou o juiz
A reportagem não havia conseguido contatar até as 11h as assessorias do ex-presidente Lula e de Sergio Gabrielli.
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