Ex-assessor de Antonio Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto, o advogado Rogério Buratti afirmou em depoimento ao Ministério Público que o empreiteiro José Roberto Colnaghi conseguiu fechar negócios em Angola com a ajuda do ministro da Fazenda. No depoimento, revelado pela revista "IstoÉ Dinheiro" deste fim de semana, Buratti contou que também tentou, em vão, firmar contratos naquele país. Colnaghi é quem teria emprestado seu avião para o transporte de dólares vindos de Cuba para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O depoimento de Buratti foi dado na segunda-feira, na presença do promotor Aroldo Costa Filho e de um assessor da CPI dos Bingos, de acordo com a revista. Nele, Buratti disse que foi a Luanda, capital de Angola, em 13 de agosto de 2003, tentar conseguir um contrato para a empresa Leão Leão na área de concessão de obras e serviços públicos. O advogado deve prosseguir seu depoimento nesta semana, como parte do acordo para reduzir sua pena pelos crimes de fraude em licitações, formação de quadrilha e evasão de divisas.
A "IstoÉ Dinheiro" e a "Veja" deste fim de semana afirmam também que Palocci teria intermediado uma doação de R$ 1 milhão de empresários angolanos ligados aos bingos.
Enquanto a "Veja" diz que a intermediação foi denunciada por uma testemunha secreta, a "Dinheiro" atribuiu a acusação a Buratti. Em depoimento na semana passada à CPI dos Bingos, o advogado disse que o ministro da Fazenda tinha conhecimento da doação, mas não chegou a apontá-lo como intermediário no negócio.
O acordo para a doação teria sido fechado num jantar na casa do empresário Roberto Kurzweil, com a presença do ministro e de Ralf Barquete, que foi secretário de Finanças de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto. O empresário teria recolhido a primeira metade da remessa, de R$ 500 mil, e a repassado ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, por meio de Barquete. Kurzweil alugou dois automóveis Omega para o PT na campanha presidencial de 2002 - e um deles também teria sido usado no transporte dos supostos dólares doados por Cuba.
Os empresários angolanos são identificados como Artur José Valente de Oliveira Caio e José Paulo Teixeira Cruz Figueiredo, o Vadinho. A "Veja" diz que eles são sócios da Fábrica Brasileira de Máquinas Automotivas (Fabama), que produz equipamentos para bingos, enquanto que a "IstoÉ Dinheiro" afirma que os dois são donos de casas de bingo e possuem nacionalidade portuguesa. A revista especializada em economia também afirma que ambos são donos de uma mina de diamantes em Angola, têm negócios no México e nos Estados Unidos e moram em Miami.
As declarações de Buratti à CPI dos Bingos reveladas pela revista "Veja" sugerem que Palocci - que foi o coordenador da campanha de Lula à Presidência em 2002, no lugar do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel - pode ter participado do esquema de arrecadação de recursos clandestinos. A prestação de contas eleitorais da campanha de Lula não registra doação de bingos.
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