Tiveram início nesta semana os trabalhos de busca no cemitério Vila Formosa, na Zona Leste de São Paulo, dos restos mortais de cerca de dez desaparecidos políticos do período do regime militar no Brasil (1964-1985). Entre os desaparecidos está Virgílio Gomes da Silva, o Jonas. A família dele obteve documentos que apontam o número do terreno em que ele pode ter sido enterrado no cemitério da Vila Formosa, em 1969.
As informações foram repassadas à procuradora da República Eugênia Gonzaga e ao procurador regional da República Marlon Alberto Weichert. Depois de uma investigação, constatou-se que a sepultura e respectiva quadra foram renumeradas e há a possibilidade de que os restos mortais de Jonas tenham sido transferidos para um ossário não identificado. Os trabalhos começaram na terça-feira (9) e a primeira etapa se encerra já nesta semana.
Os trabalhos buscam primeiro identificar o desenho original de duas quadras no cemitério para localização e posterior exumação de corpos, pois o cemitério passou por modificações nos anos 70. Uma análise inicial realizada com base nos dados preliminares coletados com a ajuda de um radar de penetração no solo (GPR) combinado com fotografias aéreas de 1972 permitiu que os peritos localizassem uma estrutura que pode estar relacionada a um depósito de ossos sob um canteiro onde se encontrava um letreiro do cemitério. A confirmação depende de uma escavação no local.
O canteiro foi removido pela Prefeitura contando com a presença de integrantes do Ministério Público Federal em São Paulo, da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), ligada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, do Instituto Nacional de Criminalística do Departamento de Polícia Federal e do Instituto Médico-Legal.
O equipamento (GPR) permitiu detectar a existência de uma estrutura que pode, abaixo do nível do solo, ser um compartimento feito com paredes, medindo aproximadamente três metros de largura, três de comprimento e com profundidade indeterminada. A análise também confirmou que foram feitas alterações e suprimidas fileiras de sepulturas nas antigas quadras de números 57 e 50 (atuais números 54 e 47, respectivamente).
Os peritos da Polícia Federal irão compilar os dados obtidos para proceder à indicação do local provável das sepulturas de Virgílio Gomes da Silva e de outros desaparecidos políticos. As exumações e a abertura da estrutura encontrada nessa expedição deverão ocorrer na última semana de novembro.
As ossadas que eventualmente forem encontradas no depósito clandestino permanecerão no local, que deverá ser mantido intacto até a sua abertura e, posteriormente, identificado e vedado até remoção definitiva. Até a construção do Cemitério de Perus, os cadáveres dos militantes políticos eram enterrados em outros cemitérios públicos, sendo o mais conhecido deles o de Vila Formosa. Mais de 450 pessoas foram mortas ou desapareceram durante a ditadura militar, segundo a assessoria da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.