Paulo Salamuni sugeriu que vereadores deixem cargos que ocupam. Isso afetaria inclusive o presidente do Legislativo, João Cordeiro| Foto: Antônio Costa / Gazeta do Povo

Escotismo

Líder do PV é acusado de beneficiar entidade com verba

O afastamento dos vereadores denunciados, proposto pelo vereador Paulo Salamuni (PV), acabou gerando um bate-boca na sessão de ontem entre ele e Francisco Garcez (PSDB), presidente do Conselho de Ética e um dos suspeitos de irregularidades na série de reportagens "Negócio Fechado", da Gazeta do Povo e da RPCTV. Os dois trocaram acusações em plenário e tiveram uma discussão ríspida no fim da sessão.

Salamuni, que é líder do PV, pediu ao vereador que deixasse a presidência do Conselho de Ética, por causa de suspeitas de irregularidade em pagamentos da Câmara ao jornal Folha do Boqueirão, que foi presidido por Garcez. O tucano respondeu que Salamuni teria destinado uma emenda parlamentar a uma entidade que presidia – a União Brasileira dos Escoteiros. "Ele beneficiou uma entidade que presidia. Ele também tem que explicar isso para todos nós", afirma.

Emendas

Salamuni apresentou duas emendas beneficiando a entidade – da qual foi presidente em âmbito nacional entre 2002 e 2009 e que atualmente preside em nível estadual. Em 2008, foram R$ 250 mil para a realização da 39.ª Conferência Mundial do Escotismo, realizada em Curitiba em 2011. Já em 2011, o vereador solicitou mais R$ 150 mil para a instituição, para a realização de obras.

O vereador confirmou a destinação das emendas, mas afirmou que a entidade é séria e reconhecida nacionalmente. Além disso, afirmou que, no caso da primeira emenda, ajudou a custear um evento patrocinado pela própria prefeitura de Curitiba. (CM)

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Os vereadores postos sob suspeita deveriam se afastar?

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Francisco Garcez, vereador e fundador da Folha do Boqueirão

A Câmara de Curitiba começou a debater ontem a possibilidade de afastamento de cinco vereadores envolvidos em denúncias de irregularidades. Entre os nomes citados está o do presidente do Legislativo municipal, João Cordeiro (PSDB). As suspeitas sobre os vereadores foram levantadas pela série de reportagens "Negócio Fechado", publicada pela Gazeta do Povo e pela RPCTV.

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A série mostrou que vários vereadores se beneficiavam direta ou indiretamente da verba de publicidade da Câmara. No caso de João Cordeiro, a denúncia envolve um ex-funcionário de seu gabinete, que recebeu recursos para um jornal de bairro. Algaci Tulio (PMDB) chegou a afirmar na semana passada que os integrantes da "bancada dos radialistas" apresentavam notas frias para receber os recursos.

A primeira menção a um possível afastamento dos envolvidos foi feita pelo vereador Paulo Salamuni (PV). Ele sugeriu que Cordeiro se afastasse da presidência e que dois outros vereadores que ocupam funções relevantes na Câmara fizessem o mesmo. Ele citou o radialista Roberto Hinça (PSD), corregedor-geral, e Francisco Garcez (PSDB), presidente do Conselho de Ética.

Por outro lado, a vereadora Renata Bueno (PPS) apresentou um requerimento para que cinco vereadores deixem temporariamente não apenas os cargos na Câmara, mas os próprios mandatos. Além de Cordeiro, Hinça e Garcez, ela incluiu no pedido Algaci Túlio e Emerson Prado (PSDB). Prado, que presidiu no ano passado a CPI que investigou os gastos de publicidade, teve em seu gabinete um funcionário beneficiado pela verba de propaganda.

O pedido de Renata Bueno foi protocolado ontem e pode ir para plenário amanhã. A parlamentar diz que planejava apresentar o requerimento há bastante tempo. "Enquanto a CPI estava brincando de fazer teatro, estávamos investigando os fatos", diz.

Erro técnico

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Garcez deve convocar o Conselho de Ética para colocar seu cargo à disposição amanhã. "Vou colocar aos outros membros que não me sinto à vontade [para presidir o Conselho] diante dos fatos que surgiram. Não tenho apego ao cargo e meu emprego não é ser vereador", diz. Ele nega, entretanto, qualquer irregularidade. "Toda a acusação que pesa não é de apropriação indébita. É um erro técnico. Não me licenciei [da direção do jornal] em tempo hábil. Estou muito tranquilo", afirma.

Já Prado diz que o requerimento apresentado por Renata foi feito porque a vereadora "quer aparecer". "Ela já foi desmascarada pela CPI e novamente vai arcar com as consequências sobre o que faz", diz o vereador. Ele adiantou que deve esperar até amanhã para analisar o documento. Segundo ele, o requerimento está fora dos padrões internos estabelecidos pela Casa.

A reportagem tentou entrar em contato com Hinça, Algaci e Cordeiro, mas eles não atenderam às ligações.

Racha

O pedido de Salamuni acabou "rachando" a oposição. Enquanto ele e Professora Josete (PT) cobraram a saída imediata dos vereadores envolvidos no escândalo de seus cargos na Câmara, os petistas Jonny Stica e Pedro Paulo pediram calma. "Temos que dar direito à palavra àqueles que estão sendo denunciados", afirmou Pedro Paulo.

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Por outro lado, Josete disse, em pronunciamento, que sente "vergonha" da Câmara nesse momento e que é "inadmissível" que os acusados mantenham seus cargos. "Não é o momento de colocar panos quentes; é hora de a verdade vir à tona", declarou.

Dono de jornal diz que devolve R$ 31,5 mil

O vereador Francisco Garcez (PSDB) anunciou ontem que deve devolver o dinheiro pago pela Câmara de Curitiba ao jornal Folha do Boqueirão. O valor de

R$ 31,5 mil deve ser depositado judicialmente até que o caso seja esclarecido. Garcez voltou a negar que tenha se beneficiado dos pagamentos, e ressaltou que foi um dos únicos vereadores a votarem favoravelmente à cassação do ex-presidente da Câmara João Cláudio Derosso (PSDB) no Conselho de Ética.

O jornal, oficialmente dirigido por Garcez até 2011, recebeu da Câmara R$ 31,5 mil enquanto ele era vereador. O tucano alega que deixou o comando do jornal assim que tomou posse, mas que, por causa de um erro técnico, só foi oficialmente desligado da direção do jornal em setembro de 2011.

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"Houve um erro técnico, que já foi admitido. Estou me antecipando e pedindo ao jornal que deposite judicialmente nesta semana o valor de R$ 31,5 mil, que é o total recebido da Câmara de Curitiba", declarou.