A Câmara Municipal do Rio de Janeiro anunciou hoje que vai "sustar" a compra de veículos Volkswagen Jetta para o uso dos vereadores. A decisão ocorre uma semana após o jornal O Estado de S. Paulo revelar a aquisição da frota, que custou R$ 2,3 milhões aos cofres da cidade - ou R$ 69.100 por unidade. Resultado da péssima repercussão que o caso havia provocado, até a manhã de hoje 21 dos 51 vereadores já haviam informado que não queriam mais o carro.

CARREGANDO :)

A mudança de posição, que equivale à suspensão do processo de aquisição, não significa que os R$ 2,3 milhões serão restituídos. De acordo com o presidente da Câmara, vereador Jorge Felippe (PMDB), o valor já foi pago à Volkswagen - montadora que produz o Jetta e que foi escolhida sem processo de licitação. O peemedebista convocou uma reunião com os demais vereadores para terça-feira, a fim de definir o que será feito.

Entre as propostas, estão o cancelamento integral da compra, ainda que isso resulte no pagamento de multa, ou a troca dos Jetta por veículos de transporte coletivo da montadora, que seriam utilizados pelas comissões permanentes. Ao analisar o destino dos recursos pagos à montadora, o presidente foi irônico. "Quem sabe a Volkswagen nos contempla com a sua generosidade. Porque eu nunca vi tanta publicidade de um carro. Com a Volkswagen tendo tanta publicidade para esse veículo, poderia até contemplar a Câmara dos Vereadores doando esses veículos".

Publicidade

A Câmara Municipal do Rio não tem frota oficial para os vereadores há mais de 20 anos. A decisão de reequipar a Casa com os veículos Jetta foi tomada em reunião ocorrida no dia 15 de março, com a participação de 43 vereadores. No total, 41 apoiaram a proposta. A compra, segundo o presidente, foi concluída no dia 28 de abril.

Antes da entrevista, Felippe discursou por mais de 30 minutos, com autoelogios à sua gestão. Deu a entender que se sentia traído com a mudança de posição da maior parte dos membros da Câmara. De fato, quando a compra tornou-se pública, apenas os vereadores Paulo Pinheiro (PPS), Eliomar Coelho (PSOL), Leonel Brizola Neto (PDT), Andreia Gouvêa Vieira e Tereza Bergher (ambas do PSDB) anunciaram que recusariam os veículos.

Para defender a decisão de comprar os veículos, Felippe ainda atirou contra as Câmaras Municipais de São Paulo e Belo Horizonte. Ele afirmou que os gastos dessas Casas legislativas com aluguel de veículos para os vereadores superam o valor o total pago por cada Jetta.

"A Câmara de São Paulo paga R$ 2.331 por mês para cada vereador alugar um veículo. Se você multiplicar esse valor pelos 48 meses de mandato, o valor total é de R$ 111,8 mil. Ou seja, duas vezes o valor do Jetta. Em Belo Horizonte, o valor pago pelo aluguel é R$ 3 mil mensais", argumento Felippe, sem mencionar, no entanto, que além de comprar os veículos, a Câmara do Rio também terá gastos com manutenção, seguro e impostos.

A assessoria de comunicação da Volkswagen informou que a empresa ainda não foi oficialmente informada sobre a decisão da Câmara e que, portanto, não se manifestaria sobre assunto.

Publicidade

Protesto

Indignado com a compra dos veículos, o balconista José Joel de Lima, 52 anos, acorrentou-se à mureta frontal do Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara do Rio, na manhã desta sexta-feira(13). Líder comunitário em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, ele disse que o objetivo do protesto era chamar a atenção para as necessidades da população carente, principalmente na saúde e na educação.

"Esse dinheiro poderia ser usado para melhorar a vida de quem não tem nada", defendeu Lima, que também é proprietário de um veículo Volkswagen. No seu caso, uma Paraty 1994. "Paguei R$ 6 mil pelo meu carro há dez anos. Hoje, não vale R$ 1.500", disse o balconista.