A Câmara escolheu na terça-feira (3) os presidentes das 25 comissões permanentes da Casa, entre eles deputados que são ou foram investigados nos escândalos da Lava Jato, dos Sanguessugas e do empresário dos jogos Carlos Cachoeira. Ao todo, pelo menos 5 dos 25 novos chefes das comissões são alvos no STF (Supremo Tribunal Federal), incluindo Marco Tebaldi (PSDB-SC), que entre outras coisas responde a inquérito por ter, em 2013, mandado uma funcionária dos Correios de Joinville “enfiar no c...” o protocolo de retirada de uma encomenda. Ele chefiará a Comissão de Defesa do Consumidor.
CPI DO CACHOEIRA
O novo presidente da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado é Alexandre Baldy (PTN-GO). Ele não responde a investigações no STF, mas foi alvo da CPI do Cachoeira, de 2012, e acabou citado no texto final do relator, o petista Odair Cunha (MG), como importante integrante da quadrilha atribuída a Cachoeira.
“Pode-se afirmar, com segurança, que o secretário de Estado [do governo de Goiás] Alexandre Baldy mantinha uma relação pessoal, social, política e profissional muito próxima com grupo de Cachoeira, tendo-se associado, em função das defesas e pleitos que atendeu, aos desideratos da organização criminosa”, escreveu Odair, ao fim de oito meses de trabalho da CPI.
Devido a um acordo entre partidos, o relatório do petista foi derrotado por 18 votos a 16 na comissão, que acabou aprovando um texto final de apenas duas páginas que não indiciou ninguém.
MÁFIA DOS SANGUESSUGAS
Já o deputado Paulo Feijó (PR-RJ), escolhido presidente da Comissão de Minas e Energia, é um dos 72 parlamentares ou ex-parlamentares acusados pelo Ministério Público Federal no esquema de compras superfaturada de ambulância com recursos da União, episódio que ficou conhecido como Máfia dos Sanguessugas.
O parlamentar é réu em uma ação penal que tramita sob segredo de Justiça no STF desde 2012, aos cuidados da ministra Rosa Weber.
Feijó era filiado ao PSDB na época das primeiras denúncias, em 2006. Após assinarem acordos de delação premiada, os empresários pivôs do escândalo, Luiz e Darci Vedoin, afirmaram ter acertado uma propina de 10% ao deputado em troca da liberação de emendas parlamentares para aquisição dos veículos.
LAVA JATO
O novo presidente da Comissão de Agricultura é Lázaro Botelho (PP-TO), acusado ao lado de outros deputados do PP de receber propina mensal do esquema de corrupção da Petrobras. Em delação premiada, o doleiro Alberto Youssef disse que havia um grupo de parlamentares “de menor relevância dentro do partido” que recebia de R$ 30 mil a R$ 150 mil por mês do esquema, entre eles Botelho.
OUTROS CASOS
Os novos presidentes da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, Gorete Pereira (PR-CE), e de Viação e Transporte, Washington Reis (PMDB-RJ), também são alvos do STF. Gorete, por causa de suspeita de irregularidade em convênio de uma entidade filantrópica com o Ministério da Saúde.
Reis, em ação penal aberta após denúncia de crime ambiental na construção de um loteamento residencial no entorno da reserva biológica do Tinguá, em Duque de Caxias (RJ). O desmatamento foi embargado pelo Ibama em 2003.
Em março de 2014, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a condenação de Reis a 12 anos de reclusão por uso indevido de máquinas da Prefeitura de Dique de Caxias e obstáculos à fiscalização do poder público, “mediante recusa de assinatura de autos de fiscalização e ocultação de máquinas empregadas na obra”.
OUTRO LADO
Todos os deputados negam participação em irregularidade e, os que são alvo de investigação, dizem ter certeza de que serão absolvidos.
“Sou funcionário público, engenheiro há 30 anos e fui prefeito de Joinville. Ela [a funcionária dos Correios] tem que atender ao cidadão com respeito. Não atendeu, fez corpo mole, me deixou nervoso, me tirou do sério, aí mandei ela tomar no cu”, se justifica Marco Tebaldi, que diz não se arrepender da reação. “Eu era o cliente, não ela. Ela não podia me atender mal, tem que ter respeito ao cidadão.”
Segundo a acusação, Tebaldi estava sem documento com foto para retirar a encomenda, mas alegou que era conhecido na cidade e que já havia retirado várias outras encomendas na agência.
Tebaldi também responde no STF por suspeita na aplicação de recursos de saneamento e em licitação na área de educação. Ele afirma que, assim como outras investigações na Corte, será inocentado.
Alexandre Baldy ressaltou que o seu nome não consta no relatório final de duas páginas aprovado pela CPI do Cachoeira e que não há contra ele investigação sobre o episódio. Ele diz que não tinha e não tem relação com o empresário dos jogos. Sobre o relatório do petista Odair Cunha, diz que o texto não passa de “ilações sem nenhum fundamento”.
“Não tenho envolvimento nenhum com ele [Cachoeira]. Aquela CPI funcionou exclusivamente como vingança do PT contra o governador de Goiás, Marconi Perillo [PSDB]”. Segundo ele, as gravações em que seu nome é citado por Cachoeira e outros investigados, entre eles o ex-senador Demóstenes Torres (GO), são “ilações” e frutos de “montagem”.
O deputado Paulo Feijó disse que tem mais de “30 anos de vida pública, com sete mandatos de parlamentar” e lamentou que seja procurado para falar do caso dos Sanguessugas. “Ninguém me vincula a nenhum ato de corrupção”, disse o deputado, referindo-se ao seu reduto eleitoral. “Às vezes vocês da imprensa são cruéis demais. Só veem a tragédia”, disse o deputado.
Feijó afirmou que em 2006 foi “vítima de armação do PT”. “Tive meu nome covardemente envolvido naquela escândalo fabricado para tirar a atenção do mensalão do PT”, acrescentou o deputado. Segundo ele, uma prova de sua inocência é que foi apoiado para o novo cargo na comissão “pelos 40 deputados” do seu partido, o PR.
Washington Reis (PR-RJ) disse que não tem relação com o desmatamento nem é proprietário da área. “Falaram que era meu, aí o procurador da República colocou o meu nome [na investigação] . Nada a ver. Não tenho uma escrituração, nada, lá é do meu irmão, a propriedade é dele”, disse Reis.
O deputado afirmou ainda que o processo “está se arrastando, mas o assunto já esta resolvido”. “É uma bobagem lá, mas você sabe que tudo que envolve nome de político, dá essa repercussão.”
A deputada Gorete Pereira afirma que o Tribunal de Contas da União e o Ministério da Saúde já concluíram não ter havido irregularidade no convênio e que o caso já está prescrito. Ela ressalta que o STF já sinalizou que iria arquivar o inquérito desde o ano passado. “É um absurdo a demora na conclusão disso. Sou mulher, tenho filhos, e um nome a zelar.”
Por meio de sua assessoria, Lázaro Botelho disse que a citação a seu nome foi infundada e “que não teve e não tem qualquer envolvimento ou conhecimento sobre as questões declaradas pelo sr. Youssef, e que o próprio delator, durante depoimento aos deputados da CPI da Petrobrás, afirmou que não conhece e nunca esteve com o deputado federal Lázaro Botelho”. O parlamentar do PP afirma ainda ter plena convicção de que, ao final, tudo ficará esclarecido.