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Bolsonaro afirmou que  torturaria o filho se o pegasse fumando maconha | Renato Araújo/ABr
Bolsonaro afirmou que torturaria o filho se o pegasse fumando maconha| Foto: Renato Araújo/ABr

Sem punição

Deputado já "sobreviveu" a seis processos

Das agências

Aos 56 anos, começando seu sexto mandato seguido na Câmara Federal, Jair Bolsonaro (PP-RJ) habituou-se, na vida pública, a produzir frases polêmicas. Até agora, sobreviveu a seis pedidos de punição, na Câmara, por ataques a autoridades ou declarações que resvalaram para a quebra do decoro. "Com que moral vão me cassar aqui?", pergunta ele, sobre os pedidos de cassação – todos arquivados ou resumidos a moções de censura.

Sua vocação para polêmica vem de longe. Como capitão de Exército, em 1986, ficou 15 dias preso e foi depois absolvido pelo Supremo Tribunal Militar. E se marcou, na carreira, pela defesa do golpe militar de 1964.

Indignados pelas declarações do parlamentar, internautas usam as redes sociais para divulgar petições pedindo a cassação do mandato do político, por quebra de decoro parlamentar e por violação de preceitos contitucionais.

No Twitter, os links das petições são compartilhados por usuários que utilizam o marcador #forabolsonaro para demonstrar seu repúdio às declarações de Bolsonaro. O uso da hashtag é tão intenso que foi parar nos Trending Topics do Brasil (TTs), lista dos assuntos mais comentados pelos usuários da rede ontem.

O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), encaminhou ontem quatro representações contra o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) para serem analisadas pela Cor­­­regedoria da Casa. As ações dizem respeito às declarações do deputado em entrevista ao programa CQC da TV Bandeirantes.

Respondendo a uma pergunta da cantora e apresentadora Preta Gil sobre o que faria se seu filho casasse com uma negra, o deputado afirmou que não iria discutir "promiscuidade". O deputado ainda afirmou que torturaria seu filho se o encontrasse fumando maconha e que não pensa que seu filho possa ser homossexual porque ele teve "boa educação".

As ações encaminhadas foram protocoladas pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, pela seccional do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), pelo deputado Edson Santos (PT-RJ) e pela Comissão de Direitos Humanos. Hoje deve ser protocolada ainda mais uma representação da Procu­­­radoria da Mulher da Câmara dos Deputados.

Com o encaminhamento, caberá ao corregedor, Eduardo da Fonte (PP-PE), dar um parecer à Mesa Diretora sobre o tema para que seja decidido se Bolsonaro vai ou não para o Conselho de Ética. O deputado é acusado de quebra de decoro e terá cinco dias para se defender após ser notificado pela Correge­doria. Caso seja processado e condenado por quebra de decoro, Bolsonaro pode sofrer punições que vão da censura à cassação.

Depois da repercussão negativa da declaração no programa de televisão, o parlamentar divulgou nota afirmando que não havia entendido a pergunta de Preta Gil e pensava que a cantora teria lhe perguntado sobre um eventual namoro de seu filho com um gay.

Ontem, a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa promoveu um ato contra Bolsonaro. De acordo com integrantes do grupo, houve muitas manifestações contrárias às declarações do parlamentar e o evento tinha como objetivo repudiar sua postura.

Mais polêmica

Ontem, Bolsonaro voltou a fazer declarações polêmicas ao chegar para o velório do ex-vice-presidente José Alencar no Palácio do Planalto. Desta vez o alvo foi o preferido do parlamentar, o movimento gay.

"Estou me lixando para o movimento gay. O que eles têm para oferecer? Casamento gay? Adoção de filho por gay? Nada disso acrescenta nada", disse Bolsonaro.

O deputado voltou a afirmar que houve um erro na sua resposta a Preta Gil. "Eu fui entrevistado por um laptop. Minha resposta não foi àquela pergunta. O que eu entendi, por Deus do céu, era o que eu achava de um filho casar com gay."

O parlamentar disse não ter medo da ação de seus adversários que pediram uma investigação contra ele na Corregedoria da Casa. "Soldado que vai a guerra e tem medo de morrer é covarde".

"Estratégia"

O deputado federal Jean Wyllys (PSol-RJ) classificou de "estratégia" o fato de Jair Bolsonaro ter recuado da declaração de que seria "promiscuidade" se seu filho se apaixonasse por uma negra, dada ao programa CQC. Bolsonaro afirmou não ter entendido a pergunta de Preta Gil, mas Wyllys vê cálculo político na justificativa.

"É preciso desmascarar a tentativa dele de se safar do crime de racismo. É deboche à inteligência das pessoas dizer que ele se confundiu. Não dá pra confundir mulher negra com homossexual, como ele está querendo dizer. Ou ele é demente, ou está debochando", afirmou o deputado do PSol. Jean é homossexual assumido e milita no movimento LGBT.

Wyllys afirmou serem naturais as novas declarações de Bolsonaro atacando os homossexuais. "Ele está invocando essa homofobia odiosa porque sabe que a violência contra homossexual goza de mais aceite pela sociedade. Ele sabe que foi traído pela língua e que pode ser cassado pelo racismo, então ele está tentando dizer que é ‘só’ homofóbico. Ele está com medo e é covarde", disse Wyllys.

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Interatividade

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