Com o afastamento de Severino Cavalcanti, a preocupação no Planalto é com a possibilidade de a oposição conquistar o controle da Casa. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira estar seguro de que a Câmara dos Deputados saberá escolher um novo presidente e que o Executivo manterá diálogo com o Legislativo quem quer que seja o escolhido.
Nos bastidores, o Planalto trabalha para que a base aliada fique unida e o PT não cometa os erros de fevereiro, quando foi dividido para a disputa e perdeu para Severino. Lula tem dito que a Câmara não pode ser uma extensão do Planalto, "mas também não pode ser um bunker da oposição".
Sem o apoio da totalidade dos aliados, o PT decidiu apresentar o nome do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), para a sucessão, mas ainda precisa convencer o PSB e o PCdoB. E também o PP, que, por sua vez, resolveu apresentar Francisco Dornelles (RJ) como opção.
Os petistas fecharam com Chinaglia depois de um dia de negociações. O nome não unifica a base. Os líderes do PSB, Renato Casagrande (ES), e do PCdoB, Renildo Calheiros (PE), defenderam um candidato de outro partido da base sob o argumento que haveria possibilidade maior de vitória. O líder do PTB, José Múcio (PE), afirmou que teria dificuldade de convencer os petebistas a votarem num petista no primeiro turno e afirmou que a candidatura de Luiz Antonio Fleury (PTB-SP) era para valer. Após reunião da bancada do PT em que seu nome foi confirmado, Chinaglia deu a senha de que o PT não vai para o confronto se não houver possibilidade de vitória.
A bancada do PP decidiu apresentar a candidatura do deputado Francisco Dornelles sob o argumento de que o governo precisava de um candidato que unisse a base e ao mesmo tempo fizesse votos na oposição. Apesar disso, Dornelles foi muito cauteloso e deixou claro que sua candidatura não é definitiva e depende de um consenso na base aliada.
- Não é hora de aventura nem bate-chapa. A hora é de entendimento e serei candidato se tiver um mínimo de apoio. Não sou um nome para dividir, só para somar - afirmou Dornelles.
Os partidos de oposição, PSDB e PFL, já contando com o apoio do PPS, do PDT e do PV, iniciaram os primeiros movimentos para atrair o PMDB, que tem bancada de 86 deputados, para a candidatura de José Thomaz Nonô (PFL-AL), que exerce interinamente a presidência. Os líderes do PSDB, Alberto Goldman (SP), e do PFL, Rodrigo Maia (RJ), decidiram oferecer para o partido a primeira vice-presidência, cargo que ficará vago se o pefelista for eleito presidente.A eleição de Nonô poderia render numa negociação bem feita até 50 votos entre os partidos da base governista.
A sucessão despertou o interesse de pelo menos dois presidenciáveis tucanos. De olho no calendário eleitoral, os governadores de Minas, Aécio Neves, e de São Paulo, Geraldo Alckmin, apoiaram a aliança estratégica com o PFL, que pode viabilizar a eleição do deputado Nonô, mas ponderaram que o PSDB não deve fechar as portas a outras alternativas como o deputado Michel Temer (PMDB-SP).
Os governadores lembraram que Temer já presidiu a Casa por duas vezes e que, além disso, poderia abrir espaço para negociações futuras com os peemedebistas, que foram aliados importantes dos tucanos no governo Fernando Henrique Cardoso.
- O PSDB está fechado com a candidatura do deputado Nonô. Mas também tem de estar aberto para uma solução congressual, pois o ideal seria fugir de uma disputa entre governo e oposição, tendo em vista que o melhor neste momento seria garantir uma vitória da instituição. Se houver uma convergência em torno do nome do deputado Michel Temer, o PSDB tem de avaliar - disse Aécio.
Aécio não é o único que defende que o nome de Temer seja considerado. Outros tucanos, inclusive os paulistas, vêem o nome do peemedebista com simpatia. A avaliação é que ele foi um aliado importante no governo passado e hoje não representaria uma ameaça às estrelas paulistas do partido, já que não tem planos de disputar cargo majoritário. Mas Temer advertiu a seus correligionários que só manteria a candidatura caso o apoio fosse além do partido.
- Só entro para somar, não entro para dividir - disse.
Até mesmo alguns pefelistas admitem que o nome de Temer pode ser uma alternativa. Mas isso, só se a candidatura de Nonô se mostrar inviável. Nas últimas 24 horas, entretanto, o nome do deputado pefelista ganhou força em razão da divisão dentro da base governista e do próprio PMDB, que tentou recuperar terreno ontem com o lançamento de Temer depois que ele foi prejudicado pelo apoio recebido do ex-governador Anthony Garotinho.
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