Brasília (AE) – Da posse dos deputados, em fevereiro de 2003, até ontem, a Câmara havia registrado 248 trocas de partido. Durante todo o dia, parlamentares apressaram-se em comunicar às legendas os novos endereços ideológicos. Um frenesi migratório vale como uma polaróide do caótico sistema partidário brasileiro.

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O placar do vai-e-vem será ainda mais dilatado. Como não estavam computadas ainda os cinco deputados do Psol da líder no Senado Heloísa Helena (AL) nem os dois do PMR da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) e do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, nem mudanças recentes entre os integrantes das siglas mais tradicionais, em dois anos e sete meses, foram registradas mais de 260 trocas de agremiação.

O número de trocas relata apenas as idas e vindas dos parlamentares. Não corresponde ao de deputados porque alguns mudaram muito, como Zequinha Marinho (PSC-PA), que sozinho fez seis trocas.

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Essa realidade, no entanto, não mexeu com o equilíbrio de forças entre governistas e oposicionistas.

O troca-troca partidário até agora manteve quase igual o equilíbrio entre as duas forças.

Até ontem à noite, os partidos do governo – PT, PSB, PMDB, PP, PTB, PL e PSC – tinham 352 deputados, contra 370 na posse.

Isso ocorre porque as migrações são feitas de uma legenda para outra, e não de posição na disputa política. PDT, PPS e PV eram da base da administração federal quando ocorreu a posse. Mudaram para a oposição, que tem 161 deputados, contados aí os do PFL e do PSDB.

Os números favoráveis ao Poder Executivo, porém, não representam nenhum alívio para o Palácio do Planalto porque pelo menos duas grandes siglas – PMDB e PP -– sempre votam rachadas.

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Mas o Executivo ganhou alguns votos no PDT. A agremiação pulou de 14 para 19 deputados, vários deles, como Miro Teixeira (RJ), aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PDT, em troca de liberações orçamentárias, votou no presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP). Mas, daqui para a frente, a bancada do PDT também deverá votar rachada.

Imigração

A realidade brasileira tem mostrado um quadro de intensa migração partidária desde 1985, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que não haveria fidelidade partidária para a disputa entre os então candidatos a presidente Tancredo Neves e Paulo Maluf no Colégio Eleitoral que elegeria o sucessor do general João Baptista Figueiredo, o último presidente do ciclo militar.

A correria de ontem no Congresso aconteceu porque era o penúltimo prazo para a mudança de partido daqueles que desejam concorrer a algum cargo na eleição de 2006.

Os dirigentes das legendas lamentam o que ocorre todos os anos, quando siglas incham e encolhem de uma hora para a outra por causa da migração. "Sem fidelidade partidária, nunca vamos acabar com essa correria, essa cooptação", diz o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC).

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