A construtora Camargo Corrêa divulgou nota neste sábado dizendo que não participou do acordo de delação premiada ao qual recorreram seus executivos Dalton Avancini, presidente da companhia, e Eduardo Leite, vice-presidente. A empreiteira diz que só “tomou conhecimento do acordo de seus executivos pela imprensa”. Para a Camargo Corrêa, os dirigentes “firmaram acordos individuais de colaboração com o Ministério Público”, insinuando que eles só tomaram essa decisão devido às pressões psicológicas que sofrem pelo fato de estarem presos na carceragem da Polícia Federal.

CARREGANDO :)

“A companhia lamenta que tenham sido submetidos a longo período de prisão, antes do julgamento do caso. Embora não tenha participado do citado acordo, a companhia permanecerá à disposição das autoridades para o que for necessário e sanará eventuais irregularidades, aprimorando a governança administrativa para seguir contribuindo com o desenvolvimento do país”, diz nota da Camargo Corrêa divulgada neste sábado.

Na sexta-feira, Dalton Avancini e Eduardo Leite, conhecido por “Leitoso”, firmaram acordos de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF), em Curitiba. Eles passarão à condição de delatores, ou colaboradores com a Justiça nos processos que investigam a corrupção na Petrobras.

Publicidade

Eles passam a ser os primeiros integrantes de grandes empreiteiras a colaborarem com a Justiça para desvendar as irregularidades em obras da Petrobras. Outro dirigente da Camargo Corrêa, João Ricardo Auler, presidente do Conselho de Administração da empreiteira, também se ofereceu como delator, mas o MPF recusou sua oferta, por considerar que ele não vinha contando o que sabia sobre as irregularidades na relação da empresa com a Petrobras.

Para serem aceitos como delatores, Dalton Avancini e Eduardo Leite pagarão uma multa de R$ 5 milhões cada um. Eles já são réus na Justiça Federal do Paraná, acusados de terem pago cerca de R$ 40 milhões em propina para obter contratos com a Petrobras em obras como a Refinaria Abreu e Lima, no Pernambuco, e na modernização da Refinaria Presidente Vargas, no Paraná.

Com o acordo de Avancini e Leite, o MPF passa a contar com 15 delatores. Os principais acordos fechados até agora foram as confissões do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que permitiram dar início ao processo investigação das fraudes que lesaram a maior estatal brasileira, que sofreu desvios de aproximadamente R$ 30 bilhões.

ADVOGADO ABANDONA DEFESA DE DIRETOR DA CAMARGO

O advogado Celso Vilardi, que defende o presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, disse neste sábado que vai renunciar à defesa de seu cliente, por não ter participado de sua decisão de optar pela delação premiada.

Publicidade

— Não segunda-feira vou formalizar a desistência na defesa de Dalton Avancini, transferindo essa opção para o advogado Pierpaulo Botini, que participou do acordo de colaboração com a Justiça. A partir de agora, vou defender apenas João Ricardo Auler, que não optou pelo acordo de delação premiada — disse ao GLOBO o advogado Vilardi.

Vilardi disse que não iria “emitir juízo de valor” sobre a decisão de seu cliente de ter optado pela delação premiada e que só o fará depois de tomar conhecimento dos termos do acordo.

Já o jurista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, que defende Eduardo Leite, vice-presidente da Camargo Correa, disse que também não concorda com “o instituto da delação premiada”, mas que continuará a defender seu cliente no processo.

— A decisão de colaborar com a Justiça foi exclusiva do meu cliente, que levou em consideração uma redução de pena e até a perspectiva de obter sua liberdade. Mas não vou participar desse processo de delação, que ficará a cargo de outro advogado, o Marlos de Oliveira, de Curitiba. Entendo que meu cliente não optou pelo processo de delação para entregar outras pessoas, mas no sentido de colaborar com a Justiça. Aliás, ele já entregou farta documentação à Justiça para colaborar com as investigações. Ele não pretende apontar outros culpados — disse Mariz de Oliveira ao GLOBO.