Os detalhes da colaboração do Grupo Madero com a Operação Carne Fraca foram revelados em uma entrevista exclusiva concedida à Gazeta do Povo pelo fundador da rede, Júnior Durski. Até o momento, ele havia se pronunciado apenas por notas oficiais, pelas redes sociais e em uma breve declaração à Revista Veja.
Confira a seguir o que o Durski contou sobre a cooperação com a Polícia Federal, o caso de extorsão e as impressões dele sobre a Operação Carne Fraca:
O início da cooperação com a Polícia Federal e as câmeras escondidas
O empresário conta que foi procurado, há um ano, por agentes da Polícia Federal que disseram saber que iria acontecer, em breve, uma tentativa de extorsão. A rede havia pedido autorização para exportar para os Estados Unidos, para o restaurante de Miami, e o processo de liberação estava demorando. Interceptações telefônicas mostraram que fiscais pretendiam cobrar R$ 80 mil do Madero para conceder o certificado.
Quando foi procurado pela PF, Durski diz que concordou imediatamente em montar um esquema para flagrar a tentativa de extorsão. Câmeras escondidas foram instaladas pela PF na fábrica em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, mas o crime não chegou a ocorrer.
Segundo Durski, a chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal no Paraná (Sipoa), Maria do Rocio Nascimento, presa na Operação Carne Fraca, visitou a instalação duas vezes, sem agendar previamente, e não encontrou o diretor da unidade – que estava viajando.Depois de “perder a viagem”, Maria ligou para o chefe da unidade, reclamando, dizendo que precisava falar pessoalmente e não o encontrava.
Após esse contato, e sem qualquer pedido de dinheiro, a autorização de exportar foi negada, com o argumento de que o Madero não abate os bois. Durski não concorda com a justificativa. O empresário afirma que compra carne de um frigorífico autorizado a exportar para os Estados Unidos, e que só prepara o produto já certificado.
De pedidos de carnes a dinheiro
Embora o flagrante não tenha ocorrido, Durski conta que percebeu na ação da PF ali uma oportunidade de levar às autoridades o que já havia ocorrido na fábrica que manteve até dezembro de 2015 em Balsa Nova. Fiscais do Ministério da Agricultura pediam carnes – hambúrguer, picanha e filé mignon – cada vez que iam ao local.
“Eles sempre vinham com uma história diferente. Um dia pediam três picanhas para o aniversário da filha. Na semana seguinte era alguma festa ou coisa assim”. No início, a “doação” não foi vista como problema, mas quando passou a ser frequente e sistemática, ficou caracterizada a pressão. “Falei para o diretor negar a carne. E na semana seguinte eles fizeram uma notificação por uma bobagenzinha. Quando o diretor perguntou o motivo, lembraram da negativa da carne.”
Os pedidos de dinheiro também começaram sutis. Vinham na forma de apelos por empréstimos, justificando dificuldades financeiras. O empresário conta que foram três ou quatro vezes, em valores que variaram de R$ 3 mil a R$ 4 mil, pagos pelo diretor da fábrica, que é sócio minoritário da Rede.
Após a transferência da fábrica para Ponta Grossa, não houve mais esse tipo de pressão. Segundo Durski, o fiscal responsável por inspecionar a fábrica na cidade até pouco mais de um mês, quando se aposentou, nunca pediu qualquer favor.
Os motivos que o levaram a não denunciar antes
Questionado sobre a decisão de não fazer uma denúncia anônima sobre as cobranças dos fiscais antes de ser procurado pela PF, Durski afirma: “quem denuncia é que se ferra”. O presidente do Madero conta que acreditava que a situação ia ficar impune. “E tem mais: quando eu descobri, mandei parar e não teve mais nada. Então dei o assunto por encerrado”, diz.
A sensação de ver a empresa envolvida na Carne Fraca
O empresário diz não se conformar por ter sido “jogado na vala comum”, colocado numa lista de 21 frigoríficos investigados, quando não havia, segundo ele, nenhuma irregularidade na atuação da empresa. “Eu fiquei estarrecido”. Ele conta que na semana passada, fiscais do Ministério da Agricultura passaram dois dias inteiros inspecionando a fábrica e, ao final, recomendaram a retirada imediata da suspensão de vendas para o exterior – que havia sido preventivamente aplicada a todos os citados na Operação Carne Fraca.
Consequências da Carne Fraca para o Madero
Sobre as consequências da Operação Carne Fraca, Durski garante que não teve prejuízo. “A gente tem crédito com o cliente”, resume. Ele assegura que a negociação com fundos em investimentos, que analisam a possibilidade de adquirir uma parte da empresa, melhorou e que a investigação não afeta em nada o programa de expansão do grupo – avaliado em aproximadamente R$ 1,5 bilhão, com 87 restaurantes e 3,5 mil funcionários.
Segundo Durski, 24 horas após ser deflagrada a Operação Carne Fraca, o Grupo Madero comemorava um recorde. Naquele sábado (18), foi o dia em que a rede de restaurantes mais vendeu em toda a sua história: com mais de R$ 2 milhões negociados em um único dia. Para o empresário, só há uma explicação possível: o cliente não ficou em dúvida sobre a qualidade do que é servido no Madero.
Opinião sobre a Operação Carne Fraca
Tirando alguns exageros, o empresário diz acreditar que a operação foi “maravilhosa”, pois vai resultar num setor de carnes ainda melhor. “Todo remédio tem efeito colateral. Podia ser menor. Mas sem tomar o remédio não sara. A pior coisa seria a Polícia Federal não ter feito nada.”
Durski espera que a questão envolvendo os frigoríficos se resolva em uma semana. “A bomba foi grande, mas já está ficando claro que não tem problemas sanitários. O Brasil tem um dos maiores controles sanitários do mundo. Tomara que todos os hospitais do Brasil sejam como alguns dos frigoríficos que eu conheço”. Para ele, há problema com meia dúzia de fiscais e também casos de desonestidade de algumas empresas em relação ao produto realmente oferecido ao cliente. “Tem que tirar esses caras do mercado, porque está errado”, avalia.
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