Preocupadas em evitar o vazamento de informações sigilosas de campanha da pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, as empresas Lanza e Pepper Interativa, contratadas para atuar na campanha, implantaram uma rotina de constante vigilância sobre o grupo de profissionais contratados para atuar na casa transformada em base para as atividades de comunicação e internet da candidatura.
Documento obtido pelo G1 mostra como o "Centro de Processamento de Dados" da campanha controla o uso de computadores, e-mails, acesso a sites e à rede interna da Lanza e da Pepper Interativa.
O documento é uma espécie de "termo de normas de conduta" utilizado em repartições públicas, mas adaptado à realidade da campanha petista. Foi elaborado em 3 de maio deste ano, antes de o episódio da suposta espionagem interna na campanha petista vir à tona e Luiz Lanzetta, dono da Lanza, ter deixado a candidatura petista e depois da reunião de 20 de abril que está na origem da crise do suposto dossiê. A reunião foi motivada pela suspeita de vazamento de informações da campanha.
O documento estipula as regras com as quais cada profissional contratado para atuar na campanha tem de se comprometer mediante assinatura. O receio com o vazamento de informações é tamanho que a empresa chega a proibir o uso de qualquer dispositivo que possa fazer cópias de conteúdos no interior da casa.
"É proibido o uso de dispositivos portáteis para cópias de arquivos no âmbito da Pepper Interativa. Exemplos: pen drive, CD, DVD, e qualquer outro dispositivo similar, sem autorização prévia do Centro de Processamento de Dados", adverte o texto. "Constitui infração a revelação de segredo do qual me apropriei em razão do cargo e constitui quebra de sigilo funcional divulgar dados obtidos por meio do uso do e-mail da empresa", afirma outro ponto do documento.
Com cerca de 30 profissionais, em sua maioria jornalistas, a central de comunicação da campanha petista passa por "vistorias de rotina" diárias nos computadores. A ação dos técnicos tenta impedir o vazamento de informações. Cada profissional a serviço da empresa tem um número individual que permite aos técnicos mapear a sua atuação nos computadores da campanha.
"O sistema de filtros de acesso irá gerar relatórios periódicos indicando os usuários que eventualmente navegam ou acessam recursos da rede corporativa, computadores, internet e utilização de e-mail indevidamente", avisa o documento.
Programas de computador impedem até mesmo o anexo de documentos a mensagens de e-mails. "A administração da Pepper Interativa/Lanza Comunicação utiliza softwares e sistemas que possam monitorar e gravar todos os usos da rede corporativa, computadores, internet ou utilização de e-mails da rede", registra outro trecho do documento. "A administração da Pepper Interativa/Lanza Comunicação se reserva o direito de inspecionar qualquer arquivo armazenado na rede, estejam no disco local da estação ou nas áreas privadas da rede", complementa a empresa.
O documento ainda afirma ser "responsabilidade" dos contratados pela empresa a "integridade, confidencialidade e disponibilidade das informações". Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa de Dilma não comentou sobre o assunto. O G1 tentou contato com o jornalista Luiz Lanzetta durante todo o dia, mas ele não foi localizado. O celular dele não completava a ligação.
O assessor da Pepper, Bartolomeu Rodrigues, informou ao G1 que desconhecia a existência do documento. "Eu desconheço esse documento, mas se existir, qual é o problema? Se existir é uma coisa natural."
Segundo ele, toda empresa mantém informações protegidas. "Se a Volkswagen está desenvolvendo um modelo de carro, ai do funcionário que vazar", disse. "É preciso ter um certo controle", declarou. Segundo ele, a Pepper presta serviços de internet voltados a redes sociais. "Quem cuida de jornalismo é a Lanza", afirmou.
O presidente do PT, José Eduardo Dutra, confirmou ao G1 na noite de sexta que a Pepper vai absorver os funcionários que eram contratados pela Lanza para a campanha de Dilma. "Não temos como fazer uma nova empresa. Vamos pegar a empresa que já temos contrato. Na verdade não haverá rompimento no trabalho da campanha."
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e apoiadores reagem a relatório da PF que indiciou 37. Assista ao Entrelinhas
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
Otan diz que uso de míssil experimental russo não vai dissuadir apoio à Ucrânia
Deixe sua opinião