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A dificuldade de quem não tem tradição

Pré-candidato a vereador pelo PPS em Curitiba, Rafael de Tarso, 25 anos, não tem um sobrenome tradicional na política, nem dispõe de verba elevada para sua campanha. "Nome e dinheiro funcionam muito na prática, principalmente em Curitiba, que é uma região conservadora. Quem não tem padrinho ou nome, é bem complicado entrar para a política", diz. Mesmo assim, ele resolveu se lançar pela primeira vez à disputa eleitoral.

A campanha de Rafael será estruturada em palestras, na internet e parcerias com gráficas para material impresso, tudo para gastar o mínimo possível. "O principal objetivo é tentar aprender como isso vai se dar. Não vou me eleger a qualquer custo. Quero que as pessoas comecem a entender a mensagem que estou tentando colocar", diz.

Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com MBA em Gestão Estratégica Empresarial e pós-graduação em Proteção Social e Rede de Direito, Rafael quer priorizar a educação e o terceiro setor. "Não proponho nada novo, mas fazer o que precisa ser feito e ainda não foi", diz.

A meta de Rafael é atingir 5 mil votos para conquistar uma vaga na Câmara Municipal e mostrar que a política "ainda tem jeito". "Meus pais são contra minha candidatura. Mas tenho a liberdade de poder tentar."

Bruna Maestri Walter

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A lista de nomes que pretendem disputar no próximo ano as 38 cadeiras da Câmara de Curitiba é formada por jovens desconhecidos da grande maioria do eleitorado, mas que carregam sobrenomes de tradicionais políticos paranaenses. Filhos, netos, irmãos e sobrinhos largam em vantagem apostando no prestígio dos parentes, na vivência familiar e, principalmente, na facilidade de poder usufruir das redes de apoios de quem já é político.

A maior concentração de herdeiros está no PMDB, partido do governador Roberto Requião, que ficou sem nenhum representante na Câmara Municipal.

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Estreando em campanhas estão Moisés Pessuti, filho do vice-governador Orlando Pessuti, Rodrigo Curi, irmão do deputado estadual Alexandre Curi e Fernando Stephanes, filho do deputado estadual Reinhold Stephanes Junior.

No PMDB estão ainda filhos de ex-deputados estaduais que não conseguiram a reeleição, como Jony Stica, filho de Natalio Stica (PT) ou parentes de integrantes do governo, como Guilherme Caron, filho do secretário de Obras Especiais Luiz Caron, Rafael Xavier, primo do secretário de Saúde do Paraná, Cláudio Xavier, e Caco Almeida, primo do deputado federal Marcelo Almeida.

Todos reconhecem que o sobrenome é fundamental, mas acreditam que não é suficiente para ganhar uma eleição. "Ajuda quem é candidato, mas tem que trabalhar. Só o sobrenome não elege ninguém mais", diz Rodrigo Curi, que se espelha no falecido avô, o ex-presidente da Assembléia Legislativa, Anibal Khury, e no irmão, Alexandre Curi.

Além do exemplo, Rodrigo também vai contar com o "grupo político inteiro" do deputado. Aos 25 anos e estudante de Direito, o pré-candidato já está em campanha. Coordena o escritório político de Alexandre Curi em Curitiba e apresenta um programa diário de rádio, abrindo espaço para lideranças dos bairros.

Mesmo contra a vontade do pai, o estudante de Direito, Fernando Stephanes, 22 anos, diz que a idéia de entrar para a política "vem criando consistência" em sua cabeça. Embora reconheça que falhou por estar sempre ausente nas campanhas eleitorais do pai e do avô, o ministro da Agricultura e deputado federal, Reinhold Stephanes, Fernando diz que agora amadureceu e precisa do apoio dos dois para ter sucesso. "Sem a ajuda deles eu não consigo chegar a lugar algum", afirma, prevendo que a eleição do próximo ano será "uma guerra".

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Se depender do conselho do pai, Fernando Stephanes deve se formar no final do ano e trabalhar na iniciativa privada. Só que o próprio Reinhold Stephanes Junior desobedeu o pai para entrar na política. "Só não quero ser radical com o meu filho como o meu pai foi comigo", desabafa Junior.

Espalhados

Os outros partidos também exibem em suas chapas jovens de famílias conhecidas. No DEM, Guilherme Guerra, filho do ex-ministro da Saúde e atual deputado federal, Alceni Guerra, é uma das apostas da legenda. O PPS vai lançar Renata Bueno, filha do presidente estadual do partido, Rubens Bueno. O PT tem Rodrigo Vanhoni, filho do deputado federal Ângelo Vanhoni.

No PP, Alexandre Leprevost, irmão de deputado estadual Ney Leprevost, também não descarta a possibilidade de candidatura.

"Sempre estive envolvido nas campanhas do meu irmão, com as lideranças e os eleitores dele. Existe um movimento que entende que seria uma forma de dar continuidade ao trabalho do Ney na Câmara", disse o empresário de 23 anos.

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O irmão, no entanto, avisa que é contra. "Ele é muito novo, tem tempo para se preparar. Se resolver sair, vai ter meu voto, mas tem vários candidatos que vou ter que ajudar e não vou poder se dedicar exclusivamente à campanha dele".

No aquecimento para 2008 tem gente até que já definiu que vai disputar a eleição, mas ainda não escolheu o partido. Ana Seleme, filha do ex-deputado estadual Cesar Seleme, está no PP, mas pretende migrar para o DEM ou para o PMDB, partido do pai.

Aos 25 anos, é formada em Direito e está familiarizada com o meio. Trabalha como chefe de gabinete do deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB) e foi presidente da juventude estadual do PP por quatro anos. Ela aposta no fato de ser mulher e jovem. "Existem poucos nomes novos de mulheres e a representatividade na Câmara ainda é pequena, com apenas 5 vereadoras", disse.

Na eleição de 2004, 552 candidatos disputaram as 38 cadeiras da Câmara Municipal, 139 candidatos a menos que em 2000, quando 691 concorreram.