• Carregando...
 | Daniel Derevecki/GAzeta do Povo
| Foto: Daniel Derevecki/GAzeta do Povo

Reeleito com 77% dos votos e índice de aprovação de 90%, o prefeito Beto Richa (PSDB) inicia o segundo mandato com cacife para reivindicar a candidatura a governador pelo PSDB em 2010. Ao anunciar a composição do secretariado, políticos e analistas cogitaram que ele tivesse feito suas escolhas com base nesse propósito. Em entrevista à Gazeta do Povo, o prefeito garantiu que a decisão obedeceu a critérios puramente técnicos.

Segundo ele, os cinco secretários de partidos aliados (DEM, PPS, PP, PDT) foram escolhidos a partir de conversas com representantes das legendas. O prefeito também afirmou que só decidirá sobre uma possível candidatura no "momento oportuno".

A avaliação que analistas fazem é que o novo secretariado tem forte ligação com forças políticas do interior, pensando numa possível candidatura em 2010. O que o motivou a fazer a mudança?

Essa avaliação não é verdadeira. Eu já vinha dizendo que alguns ajustes eram necessários na gestão. Algumas coisas não estavam bem como eu queria. Todas as áreas da administração avançaram, boa parte delas até recebendo destaque nacional. Mas acho que podíamos avançar mais. Os seis secretários de partidos aliados não foram escolhidos pensando em 2010.

Como o senhor pretende lidar com os descontentes dos partidos aliados, como os deputados estaduais Osmar Bertoldi (DEM) e Ney Leprevost (PP)?

Ao compor o secretariado não quis fazer uma discussão individualizada. Nós conversamos sempre no âmbito partidário. Mas não há como agradar a todos dirigentes de um partido. Já conversei por várias vezes com o deputado Osmar Bertoldi, depois do anúncio do secretariado. Devo conversar também com o deputado Ney Leprevost. Já está tudo apaziguado. Fiz o que minha consciência mandou e o critério número um foi técnico.

Alceni Guerra (novo secretário municipal do Planejamento) fez questão de mencionar a boa relação que tem no interior e que poderia ser útil ao senhor. Alguns políticos entendem isso como um prenúncio a uma candidatura em 2010...

Não tem nada disso, não. A decisão foi estritamente técnica. O Alceni é um grande quadro do Democratas, que é um aliado nosso. A vida pública de Alceni já foi mais do que testada e aprovada, como prefeito de Pato Branco, como ministro e, agora, como deputado. A razão de chamá-lo foi porque ele tem um perfil técnico, não porque tem boa articulação no interior do estado. É evidente que o lado político do Alceni ajuda para fazer a interface entre as várias secretarias, em assuntos como o do metrô, que está sendo tratado em órgãos como o Ippuc, a Secretaria de Obras, entre outros.

Um levantamento do Instituto Paraná Pesquisas indicou haver boa aceitação da população curitibana para que o senhor concorra ao governo do estado. Isso não o estimula a querer disputar em 2010?

Sou muito tranquilo e pé no chão. Não dissimulo em relação a isso. Tenho muito tempo para avaliar. Se meu nome tem sido lembrado, eu fico lisonjeado. Se isso ocorre é em função da boa administração que tenho feito em Curitiba. Se eu continuar administrando bem, talvez meu nome continue sendo lembrado. Mas meu objetivo é exclusivamente ser um bom prefeito; cumprir com minha obrigação. Lá na frente a gente volta a discutir a questão de candidatura ao governo. Iremos fazer uma avaliação conjunta com nosso grupo político. Fazem parte dele lideranças expressivas, como Alvaro (Dias, do PSDB), Osmar (Dias, do PDT), Gustavo Fruet (PSDB), Affonso Camargo (PSDB), Luiz Carlos Hauly (PSDB) e vários partidos, como PP, Democratas, PPS, PSB – enfim os 11 partidos que estão juntos hoje. O que eu defendo é que se esses partidos continuarem unidos vai ser um grupo fortíssimo para governar o estado e para obter as vagas para o Senado. Teremos de ter muita serenidade e desprendimento para manter esse grupo unido. E lá na frente vamos ver. Lançar candidatura agora é para se queimar. Gostaria de algum dia ser governador, como meu pai foi. Mas se não vier a ser, não serei infeliz. Sigo a vida.

A mesma pesquisa mostrou que 86,5% dos curitibanos não gostariam de ver parentes contratados por políticos, independentemente de suas qualificações. Nesse aspecto, o senhor concorda com a postura do governador Requião?

Não cabe a mim julgar o procedimento do governador Requião. Não sei a qualificação de seus parentes, nem o preparo que possuem para desempenhar as respectivas funções. Posso somente falar por mim. Sei que a população pensa dessa maneira. Eu também sou radicalmente contra o nepotismo. Para mim, nepotismo é um favorecimento abusivo, dar um ganho mensal a um parente que está precisando, sem saber se ele é competente ou não. Não é o caso da minha família. Meu irmão (José Richa Filho, secretário municipal da Administração) já exerceu cargos maiores no governo do estado, inclusive no governo Requião, e sempre desempenhou bem suas funções. E no caso da Fernanda (Richa, esposa de Beto), recebi uma pilha de pedidos da população para que ela retornasse ao cargo na Fundação de Ação Social (FAS). Todos sabem que ela não precisa do emprego. Faz porque gosta, com muita dedicação. A área social é a mais sensível de toda a administração. O trabalho da Fernanda é fantástico. Ela faz o máximo possível para atender as comunidades carentes da cidade. Além disso, é de praxe que a primeira-dama exerça a função social. Não considero que eu tenha favorecido meu irmão e minha esposa indevidamente. Agora, nunca questionei nenhuma lei. Se for entendimento da Justiça que ela ou meu irmão não podem trabalhar na minha administração, no dia seguinte eu os exonero.

O levantamento do Instituto Paraná Pesquisas mostrou também que a maioria da população gostaria de que o senhor e o governador Roberto Requião se reaproximassem. O senhor já fez algo para isso ocorrer?

Ninguém gosta de briga. Eu estaria disposto a um entendimento administrativo com o governador. É a minha obrigação e a dele trabalhar em favor das pessoas que nos elegeram. Amigos em comum fizeram alguns contatos informais com o governador, mas foram improdutivos. Continuo sempre aberto ao diálogo. Já com o governo federal tem sido diferente. A Caixa Econômica tem ajudado muito na política de moradia do município. Tenho bom relacionamento com os ministros, como Orlando Silva (dos Esportes) e Paulo Bernardo (Planejamento).

A prefeitura deve fazer contingenciamento em que áreas devido aos efeitos da crise financeira?

Os contigenciamentos serão feitos nos gastos de custeio. Vamos trabalhar para não diminuir os investimentos em obras na cidade. Vou assinar um contrato de gestão com os secretários, que terão de atingir uma série de metas. Vamos determinar uma redução de 10% a 15% nos gastos de custeio das secretarias. É uma nova meta, uma medida preventiva. Neste ano devemos fechar com um superávit que passa de R$ 20 milhões, o que garante a continuidade dos pagamentos. E vamos continuar num ritmo acelerado de obras.

Em 2005, quando a tarifa de ônibus foi reduzida, o senhor anunciou que iria iniciar a licitação do transporte coletivo. O mandato acabou, mas até agora não houve a licitação. Quando irá ocorrer?

É preciso lembrar que houve uma demora de mais de um ano para a aprovação da nova lei do transporte, na Câmara Municipal. Os vereadores chegaram a realizar audiências para discutir o tema, o que leva tempo. Mas o que interessa é que essa é uma decisão inadiável. Gostaria de já ter realizado. Mas, como nunca na história de Curitiba se teve uma licitação de transporte coletivo, não vejo problemas com a demora que houve. A audiência pública para a confecção do edital deve sair agora em janeiro.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]