Após ser empossado nesta quinta-feira na Advocacia-Geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo afirmou que o senador Delcídio Amaral (PT-MS) “não tem credibilidade” e “não tem primado por dizer a verdade”. Segundo Cardozo, a delação do ex-líder do governo no Senado seria uma retaliação.
“Vou ler primeiro, mas vamos ser francos. Primeiro, não sei se há uma delação premiada. Se houver, o senador Delcídio, com quem sempre tive excelentes relações, não tem primado por dizer a verdade. Ele não disse a verdade naquela fita, que todos conheceram”, disse Cardozo, que acrescentou: “Eu não sei dizer se há delação premiada, mas se efetivamente houve, há forte possibilidade de ser retaliação, até porque isso foi anunciado previamente. Se o governo não fizesse nada, ele retaliaria. Independe de tudo o que foi dito, o senador Delcídio lamentavelmente não tem credibilidade pra fazer nenhuma afirmação”.
De acordo com a revista “Isto É”, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) afirmou em delação que Dilma havia solicitado a ele, em encontro no Palácio da Alvorada, que conversasse com o desembargador Marcelo Navarro – nomeado para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) – para que Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo fossem soltos.“É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de promover a soltura de réus presos na operação”, afirmou Delcídio na delação, em que disse que a presidente Dilma tentou interferir na Lava Jato por três vezes.
O novo ministro da Justiça, Wellington César Lima e Silva, não comentou o caso após a cerimônia de posse no Palácio do Planalto na manhã desta quinta-feira (3). No entanto, Wellington prometeu abordar a questão à imprensa no começo da tarde, no Ministério da Justiça.
Na delação, segundo a reportagem, o senador também envolveu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-líder do governo no Senado disse que Lula foi o mandante dos pagamentos à família Cerveró, tinha conhecimento total do esquema de corrupção na Petrobras e agiu para barrar as investigações.
De acordo com a reportagem, Lula teria pedido “expressamente” para que o senador ajudasse seu amigo e pecuarista José Carlos Bumlai, porque ele estaria implicado nas delações de Fernando Baiano, operador do esquema, e Nestor Cerveró, ex-diretor da estatal.
O ministro Teori Zavascki ainda decidirá se vai homologar a delação. Delcídio, segundo a revista, teria pedido confidencialidade por seis meses.
Apreensão do governo e aliados
O teor da delação premiada do ex-líder do governo no Senado, divulgado pela revista “Isto É”, caiu como uma bomba e gera apreensão no governo e no Partido dos Trabalhadores.
Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), no entanto, Delcídio não teria poder para soltar ninguém, disse ele em referência ao encontro citado com o ministro Marcelo Navarro, do STJ. Segundo a revista, a presidente Dilma Rousseff teria pedido para o senador interceder, junto ao desembargador para soltar os presidentes da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo.
“Que poder o Delcidio tinha para soltar alguém? Não acredito nessa versão. Toda delação gera apreensão, mas quero me ater aos fatos. Esperar conhecê-los”, disse Teixeira.