Depois de receber alta do Hospital Albert Einstein no último sábado, o ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho continua se recuperando em um apart hotel em São Paulo, seguindo orientações médicas. De acordo com o delegado Armando Braga de Moraes Neto, titular da Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran), Carli será indiciado por homicídio com dolo eventual quando a pessoa assume os riscos de sua conduta perigosa ao final do inquérito. "O indiciamento comprova a existência de pistas que indicam a culpa do investigado. Entretanto, não significa necessariamente que o suspeito será preso", destacou.
O delegado, que esteve em São Paulo para agilizar o processo, conversou com a Gazeta do Povo poucas horas após tomar o depoimento de Carli. Moraes Neto, que também é fonoaudiólogo, revelou que o ex-deputado não tem mais a mesma fluência verbal, mas, durante o depoimento, conseguiu se expressar, apesar da perda de memória. "Ele não lembra de nada antes, durante ou depois do acidente. O que comeu, bebeu ou o itinerário percorrido", disse. Conforme o titular da Dedetran, pessoas que sofrem acidentes com pancadas fortes normalmente têm lapsos de memória. "As lesões sofridas pelo ex-deputado são compatíveis com casos em que existe um trauma muito forte e que apresentam sequelas como perda de memória", afirmou.
Segundo o delegado, Carli contou que sua última lembrança é uma visita que fez ao pai em um hospital de Curitiba, mas não sabe precisar se foi ou não no dia do acidente. "Quando nós não temos a confissão ou a prova objetiva, partimos para outros tipos de provas. E o inquérito está robusto de provas testemunhais e técnicas objetivas. O ex-deputado será processado e julgado", enfatizou.
Moares Neto informou que novas provas oficiais deverão ser integradas ao caso antes da reconstituição do acidente. Ao fabricante do automóvel conduzido pelo ex-deputado estadual, um Volkswagen Passat, foi solicitado um laudo pericial para averiguar se há algum sistema de armazenamento de dados que possa ter registrado a velocidade do veículo. Já para as companhias de telefonia móvel, o delegado pediu a captação do sinal dos dois celulares de Carli na noite do acidente, para precisar o itinerário percorrido após a saída do restaurante onde o ex-parlamentar bebeu com um casal de amigos poucos antes da colisão. A respeito dos radares da Avenida Monsenhor Ivo Zanlorenzi, local da batida, que não captaram imagens do carro conduzido pelo ex-deputado, o delegado acredita que Carli pode ter passado por outras ruas e avenidas.
A próxima etapa do processo deverá ser a reconstituição do acidente a presença do ex-deputado, no entanto, não será solicitada em função da ausência de memória. O objetivo é ter certeza sobre o exato trajeto percorrido por Carli, o ponto exato do acidente e a velocidade desempenhada pelo veículo. A reconstituição só deverá ser feita após o dia 20 deste mês, data em que retornará do interior do estado uma das peritas presentes no dia do acidente.
Ao ser questionado sobre uma possível proteção a Carli pelo fato de ele ser de uma família importante no Paraná e ter sido deputado, o delegado salientou que o caso será analisado de maneira justa e sem concessão de privilégios. "Até o julgamento, existe um longo caminho, mas esses fatores, essas características não deverão impedir que a Justiça aja de maneira isenta. O que pode ocorrer é um entendimento jurídico diferente do que estão tratando. Não soube nem recebi pressão de quem quer que fosse, nem no sentido de ser mais ou menos rigoroso", ressaltou.
Sequelas
Com a traqueostomia fechada e com uma cicatriz no rosto como se fosse uma máscara sobreposta, segundo o delegado, Carli está mais magro, ainda que já tenha voltado a comer. Toda a face foi reconstruída em virtude do trauma violento causado pelo acidente. Conforme recomendação médica, ele ainda precisa ficar em repouso absoluto por pelo menos mais 10 dias.
O ex-deputado é apontado como o responsável pelo acidente de trânsito no dia 7 de maio, em Curitiba, que deixou dois jovens mortos: Gilmar Rafael Yared, 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, de 20.
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Interatividade
O fato de ser político e de uma família influente pode beneficiar Carli no processo por homicídio?
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