O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, infringiu as regras de conduta a que estão submetidos ministros e secretários de Estado ao pegar carona de Brasília para Ribeirão Preto, em 2003, no avião do empresário Roberto Colnaghi. O jatinho é o mesmo que foi cedido pelo empresário para transportar, um ano antes, três caixas de uísque supostamente contendo dólares vindos de Cuba para a campanha eleitoral do PT.
O Código de Conduta da Alta Administração Federal, em vigor em agosto de 2000, determina que as autoridades do governo federal estão proibidas de, entre outras coisas, "receber transporte, hospedagem ou quaisquer favores de particulares de forma a permitir situação que possa gerar dúvida sobre a sua probidade ou honorabilidade", sob pena de receber advertência ou censura ética.
Nesta quinta-feira, o ex-presidente do PT José Genoino confirmou ter feito a viagem no avião de Roberto Colnaghi ao lado de Palocci, no dia 23 de julho de 2003. A informação desmente mais uma vez uma nota oficial divulgada pelo ministro no início de novembro, em que ele nega ter pegado carona no jatinho de Colnaghi em 2003. Palocci não quis comentar o assunto.
Genoino disse que os dois viajaram para Ribeirão Preto para participar da filiação ao PT do prefeito do município, Gilberto Maggione. Afirmou que eles usaram um avião particular porque o objetivo da viagem era um evento político-partidário e que chegou a discutir a questão ética com Palocci.
- Eu me lembro que conversei isso com ele (Palocci). Ele não podia ir em avião da FAB. Pela lei é proibido, pois ele foi para atividade partidária - disse Genoino. - Eu não conhecia o avião nem o empresário. Viajei num avião particular sob responsabilidade do PT de Ribeirão Preto, porque era uma atividade do PT de Ribeirão Preto.
Procurados pelo GLOBO, integrantes da Comissão de Ética da Presidência da República - que analisa desvios de conduta - disseram que o caso provavelmente entrará na pauta da próxima reunião do grupo, marcada para o dia 20 deste mês. Pelas regras do código de conduta, eles ficam proibidos de se manifestar publicamente. Se o caso for analisado pela comissão, o ministro terá cinco dias para elaborar uma defesa por escrito e pode até ser convocado para uma reunião da comissão.
O PFL analisa representar contra o ministro na comissão, caso ele não atenda ao convite para comparecer na terça-feira à CPI dos Bingos.- O aparentemente inocente depoimento de Colnaghi é um testemunho de quebra de conduta. A viagem não é compatível com a função de ministro, principalmente em se tratando de um avião sob suspeita de ter transportado os dólares de Cuba - disse o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN).
Para o relator da CPI, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), as dúvidas sobre a viagem reforçam a necessidade de o ministro se explicar na CPI:- Diante do Código de Conduta, há uma situação delicada. Acho que não podemos mais abrir mão da convocação na próxima terça-feira. Quando ele vem é outra história.
A ida de Palocci à CPI, no entanto, só deve acontecer em 2006. Mesmo que a convocação seja aprovada, não deverá haver tempo hábil para o ministro voltar ao Congresso. A CPI dos Bingos suspenderá seus trabalhos semana que vem.
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