Mesmo presos a 1.300 quilômetros de distância do Rio, na Penitenciária Federal de Catanduvas, região Oeste no Paraná, os chefões de uma das principais facções criminosas do estado continuam a controlar os lucros com a venda de drogas e a dar ordens aos seus subordinados que continuam em liberdade. A descoberta foi feita, nesta quarta-feira, com a apreensão de uma carta endereçada aos bandidos presos no Sul, durante uma operação de policiais do 3º BPM (Méier) na Favela do Jacarezinho. Também foram encontrados no local cerca 300 quilos de maconha e dois revólveres. Segundo a polícia, a facção é comandada pelo traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, atualmente preso na Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
No documento, de nove páginas, os traficantes do Rio informam aos "chefes" a situação financeira da quadrilha - cujo saldo era de R$350.916 até 31 de agosto; e agradecem a contribuição de 48 favelas com a "caixinha" do tráfico. Os criminosos também comunicam aos comparsas presos em Catanduvas que estão comprando armas e munição para tentar retomar os pontos de vendas de drogas de Vigário Geral - recentemente invadida por uma facção rival; e demonstram preocupação com o avanço das milícias em favelas na região do Méier.
Uma análise ainda superficial feita pela Secretaria de Segurança Pública em cinco páginas (de 2 a 6), não divulgadas oficialmente aos jornalistas pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, revela que o tráfico de drogas do Rio financiou pelo menos oito viagens ao Paraná (onde está situado o presídio federal de segurança máxima de Catanduvas) e Brasília, citando até mesmo duas viagens de um advogado à capital federal. Uma dos pontos que mais chamaram a atenção foi o volume de dinheiro destinado a compras de armas e munição (são citadas várias caixas de munição de fuzil e pistola adquiridas pelos bandidos). Num dos itens, os traficantes teriam gastado R$280 mil em dinheiro, em um só dia, na compra de armamentos como granadas e pentes de munição.
Há também, nos documentos apreendidos pela polícia e não divulgados, nome de traficantes e códigos para identificar cúmplices encarregados de ir aos presídios do Rio e do Paraná para trocar informações com bandidos. Em Catanduvas, estão presos os 12 principais chefes do tráfico do Rio. O material revela ainda que os bandidos usam mototáxis para o transporte de armas e drogas entre favelas. Toda despesa está anotada. Os bandidos chegaram ao ponto de anotar até a data do julgamento de um bandido da facção, pondo ao lado os recursos gastos para tentar livrá-lo da prisão.
Consta também uma lista com as contribuições de 49 favelas. O Jacaré aparece com a maior contribuição: R$30 mil. Entre as comunidades com valores altos estão Dona Marta e Tabajaras, com R$12 mil; Mangueira, com R$8 mil; Providência, com R$6 mil; e as outras favelas com valores de R$5 mil até a modesta quantia de R$490 dada pelo Morro do Cavalão, em Niterói. A "caixinha" da facção arrecadou, em agosto deste ano, R$168.960. Com o total acumulado no mês anterior, acumulou R$350.916.
O texto de abertura do documento mostra que o autor é uma pessoa com uma boa letra - de forma e desenhada - e que tem um certo domínio do vocabulário. O tom é de convocação, com um pedido de união entre os criminosos para o crescimento da facção.
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