Delegado diz ter feito "pacto" para não falar sobre caso PC Farias
O delegado Antônio Carlos Lessa que, com o colega Alcides Andrade, investigou a morte de Paulo César Farias e da namorada dele, Suzana Marcolino, disse ter feito um "pacto" para não falar mais sobre o caso. "Não damos nenhuma declaração a respeito do caso PC. Foi um pacto que nós fizemos, eu e Alcides, para que, a partir do momento que a gente entregasse [o inquérito] na Justiça, nós não diríamos mais nada sobre o caso. A não ser numa convocação da Justiça", afirmou o delegado.
Lessa e Andrade participaram da segunda fase do inquérito que investigou o crime ocorrido em 23 de junho de 1996, na casa de praia de PC Farias, em Maceió.
Primeira testemunha a ser ouvida no julgamento dos acusados de matar Paulo Cesar Farias, o PC Farias, o caseiro Leonino Carvalho, que trabalhava na casa de praia onde o ex-tesoureiro de Collor foi morto, disse nesta segunda-feira (6) que foi ele quem queimou, três dias após o crime, as roupas de cama, os travesseiros e o colchão onde ele e a namorada Suzana Marcolino foram encontrados mortos, em junho de 1996. "Como o mau cheiro era muito forte na casa, eu liguei para o Flávio [ex-sargento da PM Flávio Almeida, então chefe da segurança de PC Farias] e ele mandou limpar o quarto e jogar as coisas fora", afirmou.
Leonino foi a primeira testemunha de defesa a ser ouvida no julgamento dos quatro ex-seguranças de PC - Reinaldo Correia de Lima Filho, José Geraldo da Silva, Adeildo Costa dos Santos e Josemar Faustino dos Santos - acusados da morte do empresário e da namorada.
O caseiro disse também que ajudou a arrombar a janela do quarto onde o casal foi encontrado morto, por volta das 11h.Na época, Leonino e Marize Vieira de Carvalho eram casados e trabalhavam como caseiros da casa de praia de PC, na praia de Guaxuma, litoral norte de Maceió.Marize também foi relacionada como testemunha de defesa, mas não pode comparecer ao julgamento porque, segundo a defesa, está internada para tratamento de câncer.
O segundo a prestar depoimento foi o garçom Genival da Silva França, que também estava na casa de praia no dia do crime e procurou reforçar a tese de que Suzana matou PC e se suicidou em seguida. Ele disse que PC comentou que havia terminado o namoro com Suzana e que presenciou ao menos uma discussão entre o casal.
França afirmou também que Suzana havia tentado suicídio dias antes do crime. Afirmou que um irmão dele - que também trabalhava como garçom para PC - viu quando ela tentou se matar jogando-se ao mar, nas proximidades da casa de praia."Meu irmão disse que ela [Suzana] tentou se afogar, mas que ele não deixou. Ela se batia dentro d'água, dava pernadas nele e ele a tirou do mar", disse ele. "Depois da morte do doutor Paulo, eu ainda trabalhei para os filhos dele por mais de um ano. Fiquei três meses desempregado e fui admitido como segurança da empresa Tigre Vigilância, onde trabalho até hoje prestando serviço no porto de Maceió", afirmou.
Questionado pelo juiz se a Tigre Vigilância pertence ao ex-deputado Augusto Farias, irmão de PC que foi apontado pela polícia como mandante do crime (mas depois foi inocentado por falta de provas), Genival disse que não sabia, mas que já ouviu dizer que o ex-deputado é dono da empresa. Augusto Farias sempre negou ter participação na Tigre.
Tentativa de suicídio
Suzana Marcolinoteria tentado suicídio, jogando-se no mar de Guaxuma - praia localizada ao norte de Maceió - depois de discutir com Paulo César Farias por causa de um telefonema. O fato teria acontecido dias antes da morte dos dois. A revelação foi feita por Genival da Silva França, garçom da casa de praia de PC Farias, o segundo a prestar depoimento nesta segunda-feira no julgamento de quatro policiais militares acusados de participação na morte do empresário e de sua namorada.
Segundo a testemunha, depois de receber um telefonema, PC Farias teria discutido com Suzana, que saiu correndo em direção ao mar. O empresário teria pedido ao garçom para segui-la. "Eu pedi para o meu irmão, que trabalhava comigo na casa, ir atrás dela", contou, diante do júri montado no Fórum Desembargado Jairon Maia Fernandes, em Maceió. "Ela se debateu nos braços dele, mas acabou sendo retirada do mar", contou.
"Por que você não contou esse detalhe à polícia, na época?", quis saber o promotor Marcos Aurélio Gomes Mousinho. "Porque tem coisa que a gente esquece, doutor", respondeu a testemunha. Segundo o garçom, nenhum funcionário da casa mexeu nos corpos de PC Farias e de Suzana. "Assim que a porta foi aberta, o Reinaldo entrou no quarto, chamou o doutor Paulo, depois pôs a mão no pescoço dele e percebeu que ele estava morto", contou.
Atraso
Com atraso de cerca de uma hora do horário previsto, começou na tarde desta segunda-feira (6), o julgamento dos quatro policiais militares acusados de envolvimento nas mortes de Paulo César Farias e de sua namorada, Suzana Marcolino, ocorridas em 23 de junho de 1996, na casa de praia do empresário, localizada na praia de Guaxuma, litoral norte da capital alagoana.
Adeildo Costa dos Santos, Reinaldo Correia de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva são acusados pelo Ministério Público do Estado (MPE) de omissão nas mortes do casal, já que trabalhavam como seguranças de PC Farias e não impediram os crimes.
Cinco homens e duas mulheres foram sorteados para compor o corpo de jurados. O primeiro a testemunhar foi o jardineiro Leonino Tenório Carvalho, que trabalhava na casa onde aconteceram as mortes. Sua ex-mulher, Marize Vieira de Carvalho, que deveria ser a primeira a prestar depoimento, não participará do julgamento, porque, segundo o advogado José Fragoso Cavalcante, que faz a defesa dos acusados, está hospitalizada.
Leonino Tenório Carvalho foi o responsável pela limpeza no quarto onde aconteceram as mortes. Além de limpar o local do crime, o jardineiro ateou fogo no colchão da cama em que foram encontrados mortos PC Farias e sua namorada. "A ideia foi minha porque pensei que não iria 'incomodar mais'", alegou o jardineiro, diante dos jurados. "Todo bagulho que não tem mais utilidade a gente joga fora", disse.
Irmã de Suzana Marcolino rebate tese de crime passional
A jornalista Ana Luíza Marcolino, irmã de Suzana Marcolino, namorada de Paulo César Farias encontrada morta ao lado do empresário, rebateu a tese de crime passional e falou em uma "força" para que o caso não seja esclarecido. Nesta segunda-feira, 17 anos depois da morte do casal, começa o julgamento de quatro envolvidos no crime.
PC Farias e Suzana Marcolino foram encontrados mortos na manhã do dia 23 de junho de 1996, na casa de praia do empresário, localizada no bairro de Guaxuma, litoral norte de Maceió. As circunstâncias do crime até hoje deixam dúvidas. Para a polícia alagoana, Suzana matou o namorado e depois cometeu suicídio. Esta é a mesma tese do advogado José Fragoso, responsável pela defesa dos quatro policiais levados a júri popular.
"Minha família saiu de Alagoas como se fôssemos os assassinos", disse Ana Luíza Marcolino, em entrevista a uma emissora de TV local. Para a jornalista, a irmã seria incapaz de matar alguém e se suicidar. "O que se sente nessa história é que há uma força muito grande - que eu não sei de onde vem, mas eu sei que é do mal - para que nada seja esclarecido", defende ela. "Mas na Justiça alagoana tem gente séria e sabe que não foi por aí", completou.
Ana Luíza Marcolino disse ainda que teme pela vida da família. "É lógico que tenho medo. Não sei com quem eu estou tratando, não sei quem fez essa devassa na minha família", ressaltou. "Infelizmente, não posso acusar ninguém porque não sei quem foi (que matou o casal)".
Collor
Paulo César Farias foi o tesoureiro de campanha do então candidato Fernando Collor à Presidência da República. Em novembro de 1993, PC Farias - que teve a prisão preventiva decretada por crime de sonegação fiscal -, foi preso na Tailândia, para onde fugira, e transferido para o Brasil. Condenado pelo Supremo Tribunal Federal a sete anos de prisão, o empresário acabaria cumprindo parte da pena no quartel do Corpo de Bombeiros de Maceió, até ganhar a liberdade condicional. O duplo assassinato ocorreria seis meses após o empresário sair da prisão.