Empresa diz que relacionamento com autoridades é ético
A Alstom informou que desde a sua instalação no Brasil, há quase 60 anos, "mantém relacionamento com autoridades públicas, pautado na ética e no respeito mútuo". Em 1997, a Alstom adquiriu as instalações da Mafersa e reabriu a fábrica no bairro da Lapa, na zona oeste da cidade de São Paulo, tornando-se então a única indústria brasileira a fabricar novamente carros ferroviários de passageiros no País. "Não houve nenhuma participação pública ou qualquer tipo de incentivo externo nesse investimento e durante a sua operação."
Segundo a empresa, de 2002 a 2005, a Alstom/Lapa foi ampliada para atender a concorrências internacionais de exportação para os metrôs de Santiago, no Chile, Buenos Aires e Nova York e trens de passageiros para New Jersey (EUA). "A Prefeitura de São Paulo nunca foi cliente de material ferroviário da Alstom", alegou a multinacional.
Agência Estado
Contatos com dirigente são institucionais, diz Alckmin
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) informou, por sua assessoria de imprensa, que ele conhece o executivo José Alquéres "na condição de presidente de uma multinacional com atuação no Estado de São Paulo". Afirma que os contatos mantidos com o engenheiro e com a multinacional, como numa visita à fábrica da Alstom em 2005, tiveram como objetivo, "assim como o de todas as suas ações na vida pública", "preservar ou ampliar empregos e trazer desenvolvimento para a população de São Paulo".
A assessoria enviou à reportagem por e-mail foto em que aparecem Alckmin, Lula e o engenheiro Luiz Alquéres. "Comprova o caráter público do evento, que marcou os 50 anos de atuação da empresa no Brasil."
O ex-governador José Serra disse que não se recorda de ter sido procurado por Alquéres na condição de presidente da Alstom. "Eu o conheço, foi presidente da Associação Comercial do Rio, foi presidente da Light, um profissional de prestígio na engenharia. Notável executivo. Nunca tratei com ele como integrante de empresa privada."
Serra ponderou que a citação de Alquéres sobre a Mafersa "não bate". "O que eu soube dessa incorporação (Alstom/Mafersa) é que ela se deu muito antes do e-mail, nos anos 90."
Ele disse que a Prefeitura não faz compra de trens. Ele é categórico. "Não poderia ter nenhum tipo de relação (sua gestão e a Alstom). Mas quero destacar que se tivesse sido procurado para ajudar a reativar uma empresa eu daria todo o apoio para estimular. Traz arrecadação e geração de empregos. Bom para todo mundo. Sempre me angustiei com a indústria pesada, esvaziada com as importações, com crise. Qualquer governador recebe empresas para geração de ICMS, tem a guerra fiscal.
Agência Estado
Novos documentos enviados pela Procuradoria da Suíça ao Brasil há 20 dias reforçam, segundo investigadores do caso Alstom, suspeitas de corrupção e pagamento de propina em contratos da multinacional francesa no setor de transportes públicos em São Paulo. Em e-mail de 18 de novembro de 2004, o então presidente da Alstom no Brasil, engenheiro José Luiz Alquéres, "recomenda enfaticamente" a diretores da empresa que utilizem os serviços do consultor Arthur Gomes Teixeira, apontado pelo Ministério Público como lobista e pagador de propinas a servidores de estatais do setor metroferroviário do governo paulista, entre 1998 e 2003.
Alquéres, que não está mais no comando da Alstom, destaca o "bom relacionamento" com governantes paulistas. Teixeira, segundo as investigações em curso, era o elo da multinacional com estatais do setor de transporte público de massa.
"Temos um longo histórico de cooperação com as autoridades do Estado de São Paulo, onde fica localizada nossa planta", escreveu. "O novo prefeito recém-eleito participa das negociações que vão nos permitir a reabertura da Mafersa como Alstom Lapa. O atual governador também participa."
Na época, José Serra acabara de vencer o pleito municipal e o Palácio dos Bandeirantes estava sob gestão de Geraldo Alckmin, ambos do PSDB. A unidade Alstom Lapa claudicava, em 2004. Com uma carteira minguada de contratos públicos e reduzidos investimentos, aquele setor da empresa, na zona oeste da capital esteve na iminência de cerrar as portas.
Ao pedir empenho a seus comandados, Alquéres assinala a importância de conquistar novos contratos com o Metrô e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Cita vagamente quatro empreendimentos das estatais. "Tais projetos representam um total de cerca de 250 milhões de euros", observa. "Nesse período de mudanças sofremos duas grandes derrotas em leilões públicos, coisa que não ocorria há anos. Mas ainda podemos ter sucesso nos quatro projetos que o Estado de São Paulo vai negociar ou leiloar nas próximas semanas."
O então presidente da Alstom cita os "amigos políticos do governo" e diz confiar na recuperação da empresa. "O processo está avançando, começo a receber mensagens de parceiros em potencial, e, principalmente, dos amigos políticos do governo que apoiei pessoalmente. A Alstom deve estar presente, como no passado."
Um dos projetos que Alquéres mirava foi conquistado por um consórcio liderado pela Alstom, em 2005 - aditamento a um contrato firmado originalmente em 1995, no valor de R$ 223,5 milhões, que resultou na compra de 12 trens para a CPTM. O negócio tornou-se alvo de ação por improbidade movida pela promotoria de São Paulo, que identificou "grave irregularidade no sexto aditamento, verdadeira fraude à licitação e desvirtuamento total do contrato inicial". A investigação mostrou aumento de 73,69% no valor da compra.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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