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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua mulher, Marisa Letícia, são donos de uma cobertura na praia das Astúrias, no Guarujá, mas amargam há cinco anos na fila de cooperados da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo) para receber o imóvel. A solução encontrada pelos cerca de 120 futuros proprietários do empreendimento foi deixar de lado a Bancoop e entregar o Residencial Mar Cantábrico à construtora OAS, que prometeu concluir as obras em dois anos. Procurada, a Presidência confirmou que Lula continua proprietário do imóvel.

A construção, no entanto, permanece parada porque a empresa ainda está regularizando os documentos de transferência do imóvel. A única alusão à mudança é um painel da OAS, anunciando que ali haverá um empreendimento da construtora. O vigia do imóvel não pode abrir os portões nem aos antigos cooperados, mas o que se vê, além do muro, é que apenas uma das duas torres originais do projeto foi erguida.No local, imóvel como o de Lula pode passar de R$ 1 milhão.

O prédio, no entanto, está no osso: sem nenhum acabamento, nem portas, janelas ou elevadores. É nele que a família Lula da Silva deverá ocupar a cobertura triplex, com vista para o mar. Apesar dos imponentes 19 andares e de um projeto que prevê duas torres, com apartamentos entre 80 e 240 metros quadrados, o Mar Cantábrico é conhecido na vizinhança como "o prédio abandonado".

"As varandas estão cheias de água, e um muro caiu", conta o funcionário de um dos prédios vizinhos, que preferiu não se identificar, mas mostrou o muro. "Já pensamos até em denunciar o prédio por causa da dengue."

A segunda torre, se construída como informa a planta do empreendimento, lançado no início dos anos 2000, pode acabar com parte da alegria de Lula: o prédio ficará na frente do imóvel do presidente, atrapalhando a vista para o mar do Guarujá, cidade do litoral paulista.

Presidente declarou imóvel em 2006 no nome da primeira-dama

Na declaração de bens feita para a candidatura à reeleição, em 2006, o presidente informou sobre o imóvel, afirmando ter participação na cooperativa habitacional para o apartamento em construção. O contrato foi assinado em maio de 2005, em nome da primeira-dama. Segundo a declaração feita por Lula ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a família já havia pagado R$ 47.695,38. Mas o apartamento mais simples, de três quartos, foi oferecido pela Bancoop por R$ 192.533,20. O medo de muitos deles é que agora o preço final chegue a triplicar, já que o empreendimento foi incorporado pela OAS, que não cobrará o prometido preço de custo da Bancoop.

O GLOBO conversou com um dos cooperados que preferiu procurar a Bancoop para receber seu dinheiro de volta, cerca de R$ 80 mil. Segundo a cooperativa, o dinheiro será devolvido aos que não aderiram ao negócio. O advogado da Bancoop, Pedro de Abreu Dallari, afirmou que a entrada da OAS ou de uma incorporadora nos empreendimentos não é exclusividade do prédio de Lula.

"Foi uma decisão do Conselho Fiscal do Residencial Mar Cantábrico, mas outros conselhos também buscam essa alternativa", disse o advogado.

A solução não foi boa para a bancária Andrea Loia, que comprou um imóvel a ser construído na região de Pinheiros (Zona Oeste de São Paulo) e que preferiu, depois de uma longa briga, receber de volta os R$ 25 mil investidos. O pagamento foi a conta-gotas: 36 meses.

"O meu imóvel, orçado em R$ 140 mil, também foi transferido para uma construtora. Ele já está pronto, mas sai a R$ 362 mil. Quando desisti do empreendimento, a Bancoop queria que eu trocasse pelo apartamento de Guarujá. Eu não aceitei. Queria me livrar deles."

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