Pai de jovem morto convida deputados para debate
Gilmar Yared, pai de Gilmar Rafael Yared um dos jovens que morreu no acidente envolvendo o deputado Carli Filho , percorreu ontem todos os gabinetes da Assembleia Legislativa. Durante a visita, feita ao lado do advogado da família, Elias Matar Assad, ele entregou um convite aos parlamentares para uma audiência no próximo sábado de manhã, na Boca Maldita, em Curitiba. No evento, serão debatidos os acontecimentos que cercaram o acidente e ainda ocorrerá o lançamento da entidade "Boca Bendita", que será presidida por Cristiane Yared, mãe de Rafael. A intenção da família é sensibilizar os deputados para que eles decidam pela cassação do mandato de Carli Filho por quebra de decoro.
A assessoria de Carli Filho não atendeu as ligações feitas pela reportagem. Ele está internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e não há previsão de alta.
O acidente envolvendo o deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho (PSB), em Curitiba, que resultou na morte de dois jovens em 7 de maio, teve um "efeito dominó" sobre os outros 53 deputados paranaenses. A partir da divulgação que Carli Filho estava com 130 pontos na carteira e não podia dirigir desde julho do ano passado, feita pela Gazeta do Povo, o histórico de multas de trânsito dos outros parlamentares veio à tona.
Dos 54 deputados, 20 receberam a notificação de suspensão da carteira, por alcançarem o limite máximo de 20 pontos em um ano ou cometerem infração gravíssima. A grande maioria só não perdeu a habilitação porque recorreu das multas.
Quatro parlamentares já devolveram as habilitações suspensas depois da polêmica em torno do acidente. O primeiro foi Plauto Miró Guimarães (DEM), tio de Carli Filho, que tem 115 pontos na carteira. Na sequência, outros parlamentares também entregaram o documento, como Péricles Mello (PT), Marcelo Rangel (PPS) e Caíto Quintana (PMDB). Todos terão de passar por um curso de reciclagem para voltar a ter permissão para dirigir.
Segundo o secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, a medida de colocar policiais para irem atrás de quem está com a habilitação suspensa é acabar com uma "sensação de impunidade" que tomou conta da sociedade. "Não haverá proteção. Cidadãos comuns e autoridades públicas que não respeitarem a ordem sofrerão consequências", declarou. "O foro (privilegiado) só determina a instância onde o processo será tramitado. Não significa que o sujeito é inimputável."
Pedido de cassação
Dos cinco deputados que integram a Conselho de Ética, quatro extrapolaram os 20 pontos na carteira de motorista e receberam notificação de suspensão. Eles recorreram das infrações e continuam com permissão para dirigir normalmente até que os recursos seja julgados em última instância. É justamente essa comissão que vai julgar o pedido de cassação de mandato de Carli Filho por quebra de decoro parlamentar, por dirigir com a carteira vencida. No momento do acidente, o deputado também estava alcoolizado.
Fazem parte do conselho o presidente Pedro Ivo Ilkiv (PT), Osmar Bertoldi (DEM), Reinhold Stephanes Junior (PMDB), Ademar Traiano (PSDB) e Mauro Moraes (PMDB). Desses, apenas Moraes não estourou os pontos na carteira. Segundo eles, o histórico de multas não vai interferir no julgamento da cassação do mandato de Carli Filho.
Dirigir com a carteira suspensa não é uma prática restrita aos parlamentares. Reportagem da Gazeta do Povo mostrou que, dos 3,9 milhões de motoristas do Paraná, 139,5 mil estão cumprindo a suspensão do direito de dirigir. Estes já que entregaram a habilitação ao Detran. No entanto, 69 mil não fizeram a entrega e podem estar dirigindo de forma irregular.
Relembre os acontecimentos do Caso Carli
7 de maio O deputado estadual Fernado Ribas Carli Filho, que dirigia um Passat importado, se envolve em uma acidente com um veículo Honda Fit por volta da 1 hora, no bairro Mossunguê, em Curitiba. Na colisão, os dois ocupantes do Honda tem morte instantânea: Gilmar Rafael Yared, de 26 anos, e Carlos Muirlo de Almeida, de 20.
12 de maio Reportagem da Gazeta do Povo mostra que Carli Filho estava com a carteira suspensa e acumulava 130 pontos por infrações de trânsito. Das 30 multas que recebeu nos últimos seis anos, 23 foram por excesso de velocidade. O deputado não poderia dirigir desde julho do ano passado.
13 de maio A família de um dos jovens mortos no acidente entra com pedido de cassação contra Carli Filho por quebra de decoro parlamentar, pelo fato de o deputado dirigir embriagado e com a carteira suspensa no dia do acidente. O PSB também decide julgar o parlamentar por quebra de decoro, ameaçando expulsá-lo da legenda.
18 de maio O exame de dosagem alcoólica feito na amostra de sangue de Carli Filho colhida pouco depois do acidente mostra que o parlamentar tinha 7,8 decigramas de álcool por litro de sangue. Taxas acima de seis decigramas caracterizam elevado estado de embriaguez e são consideradas crime.
24 de maio Levantamento do jornal Folha de Londrina aponta que um terço dos 54 deputados estaduais receberam notificação de suspensão da carteira de motorista. Entre os 18 parlamentares notificados, seis estão proibidos de dirigir, incluindo o tio de Carli Filho, Plauto Miró (DEM). Dois dias depois, outros dois nomes se somam à lista de parlamentares com processo de suspensão da habilitação.
26 de maio Apesar de quatro dos cinco membros do Conselho de Ética da Assembleia estarem entre os deputados que receberam notificação de suspensão da carteira, o presidente da Casa, Nelson Justus (DEM), garante que a comissão não será desmontada. É justamente o conselho quem julgará o processo de cassação por quebra de decoro parlamentar de Carli Filho.
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