Delegado polêmico
Relembre os principais momentos da Operação Satiagraha, que resultou na condenação do delegado Protógenes Queiroz:
2008
8 de julho Protógenes, com mandado do juiz Fausto De Sanctis, prende 17 pessoas na Satiagraha entre elas o banqueiro Daniel Dantas, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e o megainvestidor Naji Nahas.
10 de julho O presidente do STF, Gilmar Mendes, concede habeas corpus a Daniel Dantas. Horas depois, o juiz Fausto De Sanctis manda prender Dantas novamente. O banqueiro é detido de novo pela PF. No dia seguinte, o ministro concede o segundo habeas corpus a Dantas e ele é libertado.
15 de julho Protógenes deixa o comando da operação. A versão oficial era de que ele iria se dedicar a um curso. Porém a suspeita era de que a direção da PF o havia afastado por supostos abusos na condução da Satiagraha, como um suposto monitoramento ilegal de altas autoridades, dentre elas Gilmar Mendes. Isso, até hoje, ainda não foi comprovado.
30 de agosto A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) abre investigação para verificar a participação ilegal de agentes em um suposto grampo a Gilmar Mendes na operação. A suspeita provoca o afastamento do diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, ex-dirigente da Polícia Federal.
5 de novembro A PF investiga supostos vazamentos de dados da Satiagraha para a imprensa e outras irregularidades que teriam sido praticadas por Protógenes durante a operação. Policiais cumprem mandados de busca e apreensão na casa de Protógenes.
2 de dezembro O juiz De Sanctis condena Dantas a 10 anos de prisão pelo crime de tentar corromper um delegado da PF. Como a decisão é de primeira instância, Dantas permanece solto.
2009
9 de abril A PF afasta o delegado Protógenes Queiroz de suas atividades por tempo indeterminado. Além das suspeitas de abuso durante a Satiagraha, ele é alvo de processo disciplinar por participação em atividade político-partidária.
23 de abril O relatório final da CPI dos Grampos livra de indiciamento o banqueiro Daniel Dantas, o delegado Protógenes Queiroz e o ex-diretor da Abin Paulo Lacerda.
2010
18 de outubro Protógens, candidato a deputado pelo PCdoB, aliado de Dilma Rousseff (PT), afirma que iria a todos os debates com sua "pasta preta". Dela sairiam documentos fruto de investigações sobre segurança e privatizações munição contra o então adversário de Dilma, José Serra (PSDB).
5 de novembro Protógenes é condenado a 3 anos e 10 meses de prisão pelo juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Criminal Federal em São Paulo, a partir de uma denúncia da Procuradoria da República.
A condenação na Justiça do delegado da Polícia Federal (PF) Protógenes Queiroz, na última terça-feira, reabriu a discussão sobre excessos nas investigações policiais, que muitas vezes prejudicam os processos judiciais e beneficiam os próprios acusados dos crimes. Para especialistas consultados pela Gazeta do Povo, a decisão da Justiça Federal de São Paulo também pode representar um freio nas ilegalidades cometidas em investigações policiais em nome da justiça. E forçar um debate sobre a cobertura jornalística de ações da polícia.
Protógenes foi condenado por vazar informações à imprensa e forjar provas enquanto chefiava a Operação Satiagraha. A investigação resultou na condenação do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunnity, por corrupção ativa. Mas, segundo a própria Justiça, houve excessos.
A condenação é de 3 anos e 11 meses de prisão, mas deverá ser revertida em prestação de serviços comunitários em hospitais públicos ou privados. Ainda cabe recurso e a defesa do delegado já anunciou que irá recorrer. Mas, se a sentença for mantida nas instâncias superiores, ele pederá o recém-conquistado mandato de deputado federal pelo PCdoB de São Paulo e ficará proibido de exercer cargos públicos inclusive de continuar atuando como delegado da PF.
Marco
Para o advogado criminal Juliano Breda, o caso pode ser considerado um marco na Justiça brasileira por estabelecer limites na atuação policial. "É preciso diferenciar possíveis excessos em investigação de condutas criminosas de policiais. Esse caso é exemplar porque a Justiça demonstrou que é preciso submeter às condutas dos investigadores às regras de legalidade", disse Breda.
Breda afirma que a condenação do delegado não deve ser encarada como uma maneira de coibir investigações da polícia contra "ricos e poderosos" já que a Operação investigava um banqueiro. "Pelo contrário. As irregularidades na investigação viciam o processo e dificultam o julgamento e eventuais condenações [dos investigados]."
O mestre em Direito Penal Dante D'Aquino, professor da Universidade Tuiuti, concorda com Breda Ele diz que o caso traz à tona a antiga discussão de que os fins justificariam os meios. D'Aquino explica que o Direito não pode contemplar a contradição de uma investigação que use métodos contrários à lei.
"A finalidade de um inquérito criminal é a pacificação social. Busca-se evidenciar práticas supostamente delituosas que interferem no bem-estar coletivo", diz D'Aquino. "A polícia, portanto, não pode querer alcançar este resultado com o uso de práticas também criminosas."
Acusações
Segundo a sentença proferida pelo juiz Ali Mazloum, da 7.ª Vara Criminal Federal de São Paulo, o delegado Protógenes foi condenado por dois crimes: violação de sigilo funcional e fraude processual.
O primeiro delito ocorreu quando Protógenes vazou a realização de suas atividades da investigação para jornalistas da Rede Globo. A primeira foi uma reunião, em junho de 2008, no Restaurante El Tranvia, em São Paulo, entre os executivos Humberto Braz e Hugo Chicaroni e o delegado Victor Hugo, em que teria ocorrido uma tentativa de subornar o policial, registrada pela tevê.
O outro vazamento foi dos locais onde a Operação Satiagraha seria deflagrada, em 8 de julho de 2008, possibilitando que jornalistas registrassem imagens dos acusados entre eles o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (já falecido) e o empresário Naji Nahas.
Já o crime de fraude processual ficou configurado com a edição da fita com a filmagem feita no restaurante El Tranvía. Essa edição teria sido feita por Protógenes para ocultar a participação dos jornalistas da TV Globo. Depois disso, a fita foi inserida nos autos da investigação, como prova.
Tiririca
Protógenes deve sua vaga na Câmara dos Deputados ao palhaço Tiririca (PR-SP). Com a votação expressiva de 1,35 milhão votos, o palhaço conseguiu "puxar" três candidatos que não tiveram votação suficiente para se elegerem sozinhos, entre eles o delegado (dono de quase 95 mil votos).
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