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Desde o início do ano, a Companhia Estadual de Água e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) vem se empenhando numa cruzada contra os grandes devedores.

Disposto a aumentar a arrecadação da empresa e acabar com o prejuízo anual de mais de R$ 1 bilhão de reais, o presidente da Cedae, Wagner Victer, está lançando uma operação que vai causar transtorno aos inadimplentes.

Apoiado na lei federal 11.445, de janeiro deste ano, que permite a Cedae cortar os serviços de quem não paga as contas, técnicos da Cedae inventaram um dispositivo - o obstrutor – que, instalado por uma espécie de cateter na saída da tubulação dos consumidores inadimplentes, impede a passagem do esgoto. Com isso, toda vez que a descarga for acionada, os dejetos voltarão jorrando pelo vaso sanitário.

Inspiração em biscoito recheado

O mais inusitado é que o obstrutor, formado por duas placas de polímero nas pontas e com uma de borracha no meio, foi inspirado num biscoito recheado. Victer, que vem trabalhando na idéia há 60 dias, diz que o princípio é o mesmo.

"Quando as duas placas de polímero comprimem a de borracha, ela se expande e impede a passagem do esgoto pela tubulação. É como apertar um biscoito recheado. Este dispositivo pode ser removido em menos de 24 horas. Trata-se de um sistema pioneiro no mundo. Só assim, podemos impedir que aqueles que não pagam a conta da Cedae usufruam dos serviços", explica o cavaleiro da Cedae.

A idéia de cortar o serviço surgiu de uma cisma. Há tempos, Victer vem tentando negociar a dívida de um grande inadimplente, uma indústria da Zona Oeste do Rio, que fornece produtos químicos para a própria Cedae. Mas o proprietário sempre conseguia se esquivar. Cansado de tentar agir de forma diplomática, o presidente da Cedae resolveu partir para o enfrentamento.

Prejuízo de R$3 bilhões

Segundo Victer, os devedores que não pagam as contas da Cedae, não se importam com o corte no abastecimento de água. Eles compram carros-pipa e continuam usando o sistema de esgoto do mesmo jeito. Segundo o presidente, cerca de 80% do valor da conta é referente ao serviço de esgoto.

"Não é justo que uma parte da população pague caro e os inadimplentes usufruam do serviço", disse Victer, que calcula o prejuízo acumulado ao longo dos anos em mais de R$ 3 bilhões. "Meu trabalho é colocar a Cedae operando no azul em quatro anos, mas pretendo fazer isso nos próximos meses. De janeiro para cá, com operações contra os inadimplentes, aumentei em 10% a arrecadação da empresa".

Destemido, o presidente da Cedae não teme possíveis processos de consumidores venham a ter o esgoto jorrando pelo banheiro. Ao contrário, é enfático: "A rede é da Cedae, não é do consumidor".

Dívidas acima de R$ 20 mil

Em princípio, a ira de Victer está voltada contra os consumidores com dívidas acima de R$ 20 mil. No início desta semana, a Cedae começou a enviar comunicados aos inadimplentes informando sobre o corte no serviço, caso as contas não sejam negociadas. Dos 30 inadimplentes contatados - indústrias, comércio, restaurantes, hotéis e grandes condomínios – cinco, com dívidas que variam de R$ 40 mil a R$ 300 mil, procuraram uma agência da Cedae para renegociar o pagamento das contas.

"Todos serão informados com antecedência e terão 30 dias a partir do recebimento do comunicado para procurar uma agência e negociar a dívida. Cada caso será analisado individualmente e as contas poderão ser parceladas. A obstrução só ocorrerá se não houver pagamento das contas. A Cedae será implacável contra os devedores, nesta cruzada", garantiu Victer.

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