A censura imposta ao jornal O Estado de S. Paulo por decisão judicial ultrapassa hoje a marca dos 200 dias. Para especialistas, a medida fere a Constituição Federal e prejudica o interesse público. Desde 31 de julho do ano passado, o jornal está proibido de veicular qualquer informação sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investiga negócios supostamente irregulares do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Há 201 dias, o Estadão está impedido de divulgar, por decisão do Tribunal de Justiça do DF, o teor de gravações telefônicas que comprovariam a realização de tráfico de influência por parte de Fernando. O jornal recorreu da censura ao Supremo Tribunal Federal (STF), que arquivou a reclamação. Diante da decisão, Fernando desistiu da ação, mas o veículo não aceitou o arquivamento do caso, para que o mérito seja julgado.
Na avaliação do novo presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, "a postura do Estadão é correta, do ponto de vista de esperar uma decisão do STF referente à liberdade de imprensa. A decisão do juiz, que julgou pela censura prévia, fere a Constituição Federal". Já o advogado Rodrigo Xavier Leonardo, professor de Direito Civil da UFPR, afirma que a decisão da Justiça não é contra o jornal, mas contra a população. "Trata-se de um fato muito grave, inclusive para a imagem do jornal, de modo que o Estadão quer um pronunciamento definitivo do Judiciário sobre o caso. Aceitar pura e simplesmente a decisão, depois de tudo o que aconteceu, seria um sinal de desistência do jornal."