Bloco será a maior força partidária dentro do Congresso, tendo prioridade para aprovar ou rejeitar propostas.| Foto: Pedro França/Agência Senado

Na última quarta-feira (20), o líder do PP na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), anunciou a criação de um novo bloco parlamentar, com 13 partidos e 220 deputados. Apelidado de “Centrão”, esse bloco será a maior força partidária dentro do Congresso, tendo prioridade para indicar presidentes de comissões, exercer cargos na Mesa Executiva e, claro, aprovar ou rejeitar propostas que subam ao plenário.

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Em um primeiro momento, fazem parte do bloco PP, PR, PSD, PRB, PSC, PTB, SD, PHS, PROS, PSL, PTN, PEN e PTdoB. Além disso, o PMDB estuda ingressar neste grupo para engrossar a sopa de letrinhas. Caso isso se confirme, o bloco saltará de 220 para 288 deputados – maioria absoluta da Câmara, faltando apenas 21 deputados para chegar à maioria qualificada exigida para a emendar a Constituição.

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Não se trata, porém, de um fato novo – e sim da formalização de uma situação que já existia há algum tempo. Os partidos que compõem o bloco já jogavam juntos desde o início da legislatura – e, de certa forma, até antes disso. Nove deles compuseram o bloco de apoio de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na eleição para a presidência da Câmara – e parlamentares de PR, PSD e PROS apoiaram o atual presidente à revelia do partido.

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O nome “Centrão” é uma referência à Assembleia Constituinte. Em 1987, o PMDB, o PFL, o PTB e o PDS formaram um bloco chamado Centro Democrático – popularmente conhecido como “Centrão” – para representar os interesses de segmentos mais conservadores da sociedade. Como formavam a maioria, esse bloco teve forte influência nas principais disputas que ocorreram durante a elaboração da Constituição de 1988.

Após o fim da Constituinte, o nome “Centrão” serviu para designar a massa de partidos que orbita o governo independente de quem esteja no cargo, mas evita que ele radicalize posições – com o PMDB sempre no comando do processo.

Antes disso, todos, exceto o SD, integraram a base do governo Dilma. Os principais partidos do bloco, PP, PR, PSD e PRB, abandonaram o governo com o processo de impeachment em andamento. Os quatro, além do PROS, do PSC e do PTB, tiveram ministros na era petista.

O poder do bloco não se esgota no número de deputados; filiados a esses partidos ocupam posições importantes de poder. Das 11 cadeiras da Mesa Executiva (considerando Cunha, hoje afastado), sete são de partidos do bloco – oito, se o PMDB aderir. O líder do governo, André Moura (PSC-SE), é do bloco. Seis ministros dos 23 indicados pelo presidente interino Michel Temer (PMDB) estão nesses partidos – e outros sete estão com o próprio PMDB.

Distribuição

A formalização desse bloco deixa mais claro como será a distribuição de poder na Câmara durante o governo Temer. O PMDB pode não formalizar sua entrada no “Centrão”, mas atua em conjunto. Com isso, o grupo chega a 288 cadeiras. Um segundo grande bloco, PSDB, DEM, PPS, PSB e PV juntam 126 deputados. Esses partidos apoiam o governo, inclusive ocupando ministérios, mas têm se oposto ao “Centrão” em questões internas da Câmara.

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Na prática, isso significa que Temer terá um rolo compressor de 414 deputados. Restaram na oposição somente o PT e seus aliados mais próximos, PCdoB e PDT, além de PSol e Rede – que também faziam oposição a Dilma Rousseff (PT).

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Apesar do nome, grupo concentra parlamentares de direita

Apesar do apelido “Centrão”, o superbloco da Câmara busca pressionar o parlamento para a direita. Deputados filiados aos partidos do bloco correspondem a 63% da bancada evangélica e 44% da bancada ruralista. Por outro lado, mesmo contando com o SD – partido do sindicalista Paulinho da Força (SD-SP) – em seus quadros, o “Centrão” tem apenas 10% da bancada sindical. A representação feminina é baixa: apenas 13 (6%) dos parlamentares do bloco são mulheres.

Além disso, lideranças conservadoras importantes do Congresso estão no bloco. O PSC, de Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e Marcos Feliciano (PSC-SP), é um dos partidos que ingressou. Outras figuras conhecidas do espectro conservador estão representadas, como Luís Carlos Heinze (PP-RS), Paulo Maluf (PP-SP) e Celso Russomano (PRB-SP).

Curiosamente, a gênese do bloco pode ser atribuída, ao menos em parte, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT. Uma das estratégias dos governos petistas para enfraquecer a oposição ao seu governo, especialmente o PSDB e o DEM, foi fomentar o crescimento – e, no caso do PSD e do PROS, o próprio surgimento – de muitos desses partidos, cedendo nacos do governo e ministérios em troca.

O feitiço acabou virando contra o feiticeiro. Essa troca de favores está na raiz da maioria dos escândalos de corrupção que foram decisivos para o desabamento do governo Dilma Rousseff (PT) – em especial, o mensalão e a Lava Jato. E, no fim, 80% dos deputados do blocão acabaram votando pelo impeachment de Dilma – sendo um fator decisivo nesta disputa. Dá para dizer que eles derrubaram o governo para continuar no governo.