O combate à corrupção renasce na agenda do Congresso nesta semana. Quinze dias após acusar o próprio partido de corrupto, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) promete aprofundar o tema em um discurso marcado para hoje à tarde em plenário. Ele pretende, ao mesmo tempo, apresentar um projeto de lei que proíbe indicações políticas para o comando de empresas estatais e autarquias, o que amplia a polêmica sobre a ingerência do PMDB no comando de Furnas.
Amparados nas ações de Vasconcelos, um grupo de dez congressistas reúne-se hoje pela primeira vez para articular a criação de um grupo anticorrupção no Legislativo. Encabeçam a lista os deputados federais Fernando Gabeira (PV-RJ), Arnaldo Jardim (PPS-SP) e Gustavo Fruet (PSDB-PR). O objetivo deles é cobrar agilidade na tramitação de projetos que ampliem a transparência em todas as esferas públicas.
A cruzada do senador pernambucano começou há duas semanas, quando criticou duramente a atual postura do PMDB em entrevista à revista Veja. "Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção", disse. Os ataques avançaram principalmente em relação aos acordos da legenda para eleger os presidentes da Câmara, Michel Temer (SP), e do Senado, José Sarney (AP).
As declarações provocaram reações distintas entre os peemedebistas, mas Vasconcelos não sofreu sanção interna. Hoje ele deve ampliar fogo aos demais partidos e usar o caso Furnas como munição. A empresa elétrica sofreu pressões do PMDB, que queriam o controle administrativo do fundo de pensão dos funcionários o Real Grandeza, que administra R$ 6 bilhões.
Em contrapartida, peemedebistas como o deputado federal Eduardo Cunha (RJ), articulam a criação de uma CPI para investigar os fundos de pensão. Cunha é apontado como um dos principais interessados por mudanças na diretoria do Real Grandeza. À primeira vista positiva, a CPI seria uma maneira de tirar o foco do partido no caso Furnas.
O paranaense Fruet afirma que a cadeia de ações e reações, ligada às declarações de Vasconcelos, significa um avanço no debate sobre corrupção. "Quebrou-se a apatia. Agora é o momento de não deixar o tema esfriar."
Embora considere a movimentação positiva, o professor de Ética e Filosofia Política Roberto Romano, da Universidade de Campinas (Unicamp), ressalta que os políticos brasileiros tendem a cair nas mesmas armadilhas de sempre ao tratar o assunto. Segundo ele, o tema quase é tratado mais com palavras do que ações. "Se eles se limitarem à pregação moralizante, vão continuar tratando uma doença grave com band-aid."
Há passagens concretas que comprovam a teoria do professor. Na década de 50, a UDN denunciou o "mar de lama" instalado no governo Getúlio Vargas, mas apoiou o golpe militar uma década depois. O partido elegeu Jânio Quadros presidente da República em 1960 amparado pelo discurso populista de "varrer a corrupção". Quadros ficou no Planalto durante apenas sete meses.
Fernando Collor venceu as eleições de 1989 com discurso parecido, quando adotou o slogan de "caçador de marajás", mas caiu devido a uma série de denúncias de corrupção em 1992. "Sou muito respeitoso ao senador Jarbas, mas enquanto ele não der o próximo passo, de sair do discurso e apresentar propostas concretas, não significará nada", afirma Romano.
* * * * * * * *
Interatividade
A ação de alguns parlamentares contra a corrupção pode moralizar o Congresso?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br ou comente abaixo.
Deixe sua opinião