O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que firmou um acordo de delação premiada na Operação Lava Jato, alterou sua versão sobre o pagamento de propina em obra da refinaria de Pasadena e retirou o nome do ex-presidente Lula do depoimento, segundo o jornal “Valor Econômico” desta quinta (14).
O “Valor” obteve documento sobre a negociação prévia da delação de Cerveró e parte do depoimento que ele prestou após fechado o acordo. Nos trechos comparados, o ex-diretor trata do pagamento de propina de US$ 4 milhões em um contrato para obra na refinaria de Pasadena, no Texas (EUA).
Na primeira versão, na qual a defesa adianta o que o delator pode revelar, está registrado que “foi acertado que a Odebrecht faria o adiantamento de US$ 4 milhões para a campanha da [sic] Presidente Lula, o que foi feito”.
No entanto, no termo de depoimento de Cerveró sobre o assunto, não há menção a Lula, segundo o jornal.
“Na reunião também se acertou que a contrapartida da UTC pela participação nas obras do Revamp [Renovação do Parque de Refino de Pasadena] seria o pagamento de propina; que se acertou que a UTC adiantaria uma propina de R$ 4 milhões, que seriam para a campanha de 2006, cuja destinação seria definida pelo senador Delcídio do Amaral”, diz o documento posterior.
A origem da propina também muda: passa a ser paga pela UTC, e não Odebrecht. As obras do Revamp acabaram não sendo realizadas, segundo a delação de Cerveró.
DILMA
Segundo o jornal, o delator também retirou menções a Dilma de seu depoimento: ele havia feito três menções à presidente Dilma Rousseff quando falou sobre Pasadena, mas no depoimento, não a citou. “Dilma incentivou Nestor Cerveró para acelerar as tratativas sobre Pasadena. Sempre esteve a par de tudo que ocorreu na compra daquela refinaria, e realizou diversas reuniões com Nestor durante todo o trâmite”, diz o documento inicial, segundo o “Valor”.
“Delcídio tinha um relacionamento muito próximo com Dilma Rousseff, sendo que participou de diversas reuniões com Dilma e Nestor, fato que isso leva a crer que Dilma tinha conhecimento [do] valor adiantado para Revamp”, disse o delator, segundo o jornal.
Cerveró ainda teria afirmado que a compra da refinaria foi muito rápida e que a responsabilidade por aprovar a aquisição “é da presidente Dilma, como presidente do conselho de administração”.
Procurado pelo “Valor”, o Instituto Lula disse que “sobre arrecadação de campanha eleitoral, o assunto é do tesoureiro responsável pela campanha ou do partido”.
O Palácio do Planalto disse que a compra de Pasadena foi autorizada com base em resumo executivo elaborado por Cerveró “técnica e juridicamente falho”.
A UTC Engenharia disse ao jornal que “nunca foi contratada e não executou obras na refinaria de Pasadena”. A defesa de Delcídio não comenta o assunto.
EDISON LOBÃO
Também nesta quinta, o jornal “O Estado de S. Paulo” revelou que, na negociação de sua delação premiada, Cerveró disse que o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB-MA), hoje senador, ordenou que um negócio do banco BVA com o fundo de pensão da Petrobras, o Petros, fosse atendido.
“Entre 2009/2010, Nestor Cerveró recebeu um telefonema do ministro Lobão, questionando quem era Fernando que trabalhava com ele, pois estava ‘atrapalhando’ a aprovação do investimento da Petros naquele Banco. Diante disso, Nestor explicou que era um funcionário especialista em investimentos, sendo respondido que deveria tirar o Fernando, caso não fosse aprovado o referido investimento. Assim, o investimento foi feito, sendo que passados alguns anos o banco faliu e a Petros perdeu o dinheiro investido”, relatou Cerveró, segundo o jornal.
Fernando Mattos, de acordo com o jornal, representava Cerveró em reuniões do comitê de investimento da Petros quando este era diretor financeiro da BR Distribuidora.
Segundo o delator, o dono do banco, José Augusto Ferreira dos Santos, é amigo de Lobão, diz a reportagem.
Ao jornal, a defesa de Lobão afirmou que ele “não se lembra de conhecer José Augusto Ferreira dos Santos, não tem relação comercial com ele ou com o Banco BVA”, não sabia que Cerveró tinha assento no comitê de investimento da Petros e que nunca tratou desse assunto com ele.
À reportagem, o Petros disse que nunca investiu diretamente no BVA, mas sim em fundos que eram geridos pelo banco e que, após a sua liquidação, foram transferidos para outros gestores. “A Fundação já recebeu mais de 90% do total investido em títulos privados estruturados pelo BVA e está na Justiça buscando o restante”, afirmou. A Petros também afirmou que suas decisões de investimento são tomadas com base em avaliações técnicas e “sempre de forma colegiada”, nunca por uma única pessoa.
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