Em depoimento nesta segunda-feira (18) na Justiça Federal, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró confirmou que sua saída da área Internacional da estatal ocorreu por pressão de deputados do PMDB sobre o governo na votação da CPMF, em 2008.
Ele confirmou também a negociata entre o banco Schahin e a Petrobras para quitar uma dívida do PT e citou os presidentes da Câmara e do Senado, os peemedebistas Eduardo Cunha (RJ) e Renan Calheiros (AL).
Foi a primeira vez que Cerveró falou depois de homologado seu acordo de delação premiada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em janeiro. No final da oitiva, com a voz embargada, o ex-diretor pediu desculpas a Moro por ter mentido em outros depoimentos. Ele também pediu perdão à sociedade e à Petrobras pelos “prejuízos” que causou e pelos “erros cometidos”.
Conforme o depoimento, Cerveró contava com o apoio do “PMDB do Senado” para continuar na diretoria da Petrobras, mas a bancada do partido na Câmara exigia do ex-presidente Lula a sua substituição, ameaçando não votar a “questão da CPMF”.
Cerveró acabou perdendo a disputa e o cargo passou para Jorge Zelada. Mas, como relata o ex-diretor, Lula pediu que Cerveró não ficasse “em descoberto” e ele acabou sendo nomeado diretor financeiro da BR Distribuidora.
A oitiva de Cerveró se refere a um dos processos da Lava Jato em que ele é réu. A denúncia trata do suposto desvio de recursos da Petrobras para pagar uma dívida de R$ 12 milhões do pecuarista José Carlos Bumlai no Banco Schahin – dinheiro que, na verdade, seria destinado ao PT.
O ex-diretor detalhou como funcionou a troca: segundo Cerveró, o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli o havia solicitado que “resolvesse” uma dívida de R$ 50 milhões do PT, decorrente da campanha presidencial de 2006, com o grupo Schahin. Em troca, Gabrielli “resolveria” uma pressão sofrida por Cerveró pelo então ministro Silas Rondeau para conseguir uma verba para pagar uma dívida de campanha do PMDB.
Como havia uma conversa preliminar da estatal com o grupo Schahin para operação do navio-sonda Vitoria 10.000, Cerveró relatou ter chamado Fernando Schahin para acertar a quitação da dívida petista como troca pela assinatura do contrato com a estatal.
“Relatei a reunião para o Gabrielli, que achou a ideia boa, e, em curto prazo, o Gabrielli me ligou e disse: ‘aquela pendência que você me falou foi resolvida, pode tocar o barco’. ‘Tocar o barco’ significava contratar a Schahin [para operar o navio-sonda]”, relatou Cerveró na oitiva.
Propina a Calheiros e Cunha
Na audiência, a defesa de Fernando Schahin questionou Cerveró sobre o papel de Jorge Luz no esquema de propina da Petrobras. O ex-diretor afirmou que ele era “um operador dos muitos da Petrobras”. Cerveró exemplifica o papel de Luz como o operador que pagou US$ 6 milhões da sonda Petrobras 10.000 ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
Quando iria continuar a detalhar o esquema, o juiz Sergio Moro interrompe a fala de Cerveró, alegando que o fato “não faz parte da ação em questão”.
Cerveró também cita que o operador Fernando Soares, o Baiano, conseguiu, “através de um apoio do deputado Eduardo Cunha” receber parte da propina devida da construção do navio-sonda Vitoria 10.000, pela Samsung.
“Na primeira sonda, Petrobras 10.000, houve acerto de propina com a Samsung, de US$ 15 milhões, e, na segunda sonda, a Samsung aumentou a propina para US$ 20 milhões, propina essa que não foi paga, acabou derivando uma série de dificuldades, e, finalmente, só depois de vários anos, o Fernando Soares conseguiu através de um apoio do deputado Eduardo Cunha receber parte da propina devida da segunda sonda”, disse.
Conforme da denúncia contra Cunha que tramita no STF, o deputado teria pedido US$ 5 milhões para viabilizar o contrato com a Samsung.Isso porque o operador Julio Camargo teria parado de receber repasses da empresa e, consequentemente, cessado o pagamento de propina a Cunha. O presidente da Câmara teria usado então requerimentos em uma das comissões da Casa para fazer pressão para receber o suborno.
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