Cerveró chega à sede da PF em Curitiba: movimentação de bens teria por objetivo evitar a devolução de dinheiro ao poder público| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Presidente da Petrobras rebate advogado de ex-diretor da estatal

A presidente da Petrobras, Graça Foster (foto), rebateu a defesa do ex-diretor da estatal Nestor Cerveró, que afirmou ontem que a executiva também deveria ser presa por movimentações supostamente ilegais de patrimônio. Em nota encaminhada pela assessoria de imprensa da estatal, a Petrobras informou que "refuta veementemente" as alegações de que as transações patrimoniais de Graça Foster tenham sido "indevidas". "A Petrobras reafirma que já prestou (...) todas as informações ao Tribunal de Contas da União sobre as movimentações patrimoniais da presidente Graça Foster e que elas foram realizadas em obediência à legislação", informa o texto. Na nota da assessoria de imprensa, a estatal também acusou seu ex-diretor. Informou que a prisão preventiva de Cerveró foi feita "em razão da sua prática continuada de ocultação e dissimulação de bens e direitos (valores e imóveis para familiares), visando frustrar a aplicação da lei penal na ação judicial em que é réu, relacionada aos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro". Apesar disso, o fato é que Graça Foster, assim como Cerveró, também realizou doações de imóveis a familiares após a descoberta do escândalo de corrupção na Petrobras.

CARREGANDO :)
Graça Foster
CARREGANDO :)
Veja também
  • Liminar do CNJ institui ‘gatilho salarial’ a juízes
  • Ex-diretor da Petrobras presta depoimento hoje
  • Temer defende ‘poder congressual’ do PMDB e candidatura de Cunha

O ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró foi preso na madrugada de ontem ao desembarcar no Aeroporto Tom Jobim, no Rio de Janeiro, vindo de Londres. Ainda pela manhã ele foi transferido à carceragem da Polícia Federal (PF), em Curitiba, onde ficará detido junto com outros presos da Operação Lava Jato. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Cerveró foi preso por indícios de que "continuava a praticar crimes". Ele é acusado de tentar repassar bens para familiares com o objetivo de burlar uma possível condenação à devolução de dinheiro aos cofres públicos.

Publicidade

INFOGRÁFICO: Veja como funcionava o esquema

O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, disse que a movimentação de bens de seu cliente foi semelhante à que a presidente da Petrobras, Graça Foster, fez no ano passado após o escândalo da Lava Jato ter se tornado público. "Se é crime para Nestor, é para Graça. Se o Ministério Público Federal pediu prisão para o Nestor por esse fato, deveria pedir para a Graça."

Ribeiro também comentou sobre a atuação de Cerveró na compra da refinaria de Pasadena (EUA), que causou prejuízo de US$ 792 milhões à estatal. Para ele, a recomendação do diretor era importante, mas não essencial. "A responsabilidade é apenas do Conselho da Petrobras, que toma as decisões." Perguntado se a responsabilidade poderia ser da presidente Dilma Rousseff, que fazia parte do Conselho à época da compra, ele assentiu: "Assim como de qualquer outro membro do Conselho".

"Sanha delitiva"

Na decisão em que decretou a prisão de Cerveró, o juiz Marcos Josegrei da Silva, da Justiça Federal em Curitiba, disse que o acusado continua com uma "sanha delitiva". No despacho, o juiz diz que Cerveró está blindando seu patrimônio e transferindo bens para familiares porque corre o risco de ser responsabilizado por desvios na Petrobras.

Publicidade

O MPF obteve informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) de que logo após o recebimento da denúncia e durante o recesso do Judiciário, o ex-diretor tentou transferir para sua filha R$ 463 mil. Ele prosseguiu com a operação mesmo sendo alertado de que perderia 20% do dinheiro, o equivalente a R$ 100 mil devido a um saque antecipado de um fundo financeiro, de acordo com os investigadores.

Além disso, também foram encontradas quatro transferências de imóveis de Cerveró para o nome dos filhos por valores bem abaixo dos de mercado. Três desses apartamentos estão localizados no mesmo prédio em Ipanema, no Rio, e foram transferidos por R$ 560 mil, embora valham R$ 7 milhões.

"Há indícios bem claros da tentativa de blindar o patrimônio e tirá-lo do alcance da Justiça", afirmou o o delegado da PF Igor Romário de Paula. Ainda de acordo com o delegado, o fato de Cerveró ter cidadania espanhola também é motivo de preocupação para os investigadores.

Cerveró viajou ao exterior em dezembro para passar as festas de fim de ano na casa de parentes da esposa, segundo o advogado. O ex-diretor só voltou um mês depois, sozinho. "Ele poderia dar um dane-se ao Brasil e ir para a Espanha, assim como tantos outros fizeram para escapar. Mas resolveu voltar e encarar a Justiça", disse o advogado. Ele também negou irregularidades nas transações financeiras do ex-diretor. Segundo Ribeiro, as transferências de bens são referente ao adiantamento de herança para os filhos.

Publicidade