O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, transformou a visita que fez ontem a Curitiba em um evento estratégico para seu projeto de integração da América do Sul. Ao retribuir a visita do governador do Paraná, Roberto Requião, que esteve em Caracas em novembro, Chávez trouxe um grupo empresários, ampliou os negócios entre Brasil e Venezuela e anunciou que as medidas fazem parte da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba).

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Além dos negócios com o Paraná – que envolvem cerca de US$ 440 milhões, segundo o governo do Paraná –, Chávez fez questão de visitar o presidente Lula em Brasília para garantir a participação do Brasil na construção do gasoduto sul-americano, que terá cerca de 12 mil quilômetros e exibe o investimento de aproximadamente US$ 20 bilhões. O projeto, discutido no Paraguai no dia anterior, promete abastecer o Cone Sul com gás da Bolívia e da Venezuela.

A ampliação do comércio e os acordos energéticos é o caminho para a formação da Alba, diz Chávez. "Chamamos os empresários a revisar seus conceitos. O capitalismo (norte-americano) rechaça o conceito de solidariedade, não é viável". O governador Roberto Requião confirmou que os contratos integram a Alba. Requião argumentou que é necessário criar uma alternativa à lógica capitalista. "O mercado se opõe à visão de nação e ao compromisso com a cidadania", justificou. Ambos alegaram que os contratos firmados entre empresários não devem visar apenas ao lucro, mas também garantir que um país complemente as necessidades do outro para que ambos se fortaleçam.

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Os planos de Chávez incluem a criação de um banco para a América do Sul, o Banco del Sur, de uma rede petrolífera, a Petrosur, e inclusive de uma força militar que defenda os interesses da região como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Ele quer ainda ampliar rede de comunicação Telesur, inaugurada em julho do ano passado.

O presidente da Venezuela declarou mais uma vez a morte da Alca, como havia feito em novembro durante a Cúpula das Américas, realizada na Argentina. Chávez disse que o enterro da Alca em Mar del Plata vem provocando "ressaca" na América do Sul, referindo-se ao Tratado de Livre Comércio (TLC) firmado pela Colômbia (país vizinho à Venezuela) com os Estados Unidos. Em sua avaliação, Washington tem o objetivo de deter a integração sul-americana ao propor acordos semelhantes a países como Uruguai e Paraguai. Chávez garantiu que a Alba não vai propor TLCs, mas TLCJs, "tratados de livre comércio com justiça".

Para deixar clara a contraposição entre Alba e Alca, citou frases atribuídas a Jesus Cristo e comparou os Estados Unidos ao Diabo. "Nem só de pão vive o homem", disse, alegando que as relações entre países precisam ser solidárias. Por outro lado, alertou que é preciso esperar uma reação dos Estados Unidos. "O império não dorme, tem mercenários por toda parte."

Chávez e Requião disseram que o presidente Lula telefonou para dar as boas-vindas ao colega venezuelano. Lula teria perguntado se Chávez estava "invadindo o Brasil pelo Sul". A resposta de Chávez foi positiva. Ele disse que pretende buscar a proximidade com todo o país.

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