A CPI dos Bingos põe frente a frente nesta quarta-feira o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, e dois irmãos do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel. Os irmãos Bruno e João Francisco Daniel acusam Carvalho de participar de um esquema de arrecadação de propina no município para favorecer o PT.
Gilberto Carvalho teria conversado com os irmãos do ex-prefeito sobre o esquema, que arrecadaria comissões de empresas prestadoras de serviços públicos. Ainda segundo os irmãos, Carvalho teria dito a eles que levava o dinheiro pessoalmente ao então presidente do PT, José Dirceu. O comentário, segundo Bruno Daniel, teria sido feito logo após o assassinato de seu irmão, durante um encontro entre João Francisco Daniel e Gilberto Carvalho. Carvalho confirma os encontros, mas nega as declarações. Os três já prestaram depoimento, separadamente, na CPI dos Bingos.
O presidente Lula cancelou uma viagem que faria nesta quarta-feira ao Sul para acompanhar a acareação. Segundo fontes do governo, o futuro de Gilberto Carvalho depende do desempenho dele na acareação, que será aberta.
Em depoimento esta terça-feira na CPI dos Bingos, o juiz João Carlos da Rocha Mattos disse que, nas 42 fitas cassete a que teve acesso sobre o caso Celso Daniel, Gilberto Carvalho não demonstrava nenhum tipo de sofrimento com a morte do prefeito. Rocha Mattos, preso sob acusação de venda de sentenças em outubro de 2003, contou que nas fitas Gilberto Carvalho instruía a viúva do prefeito, Ivone, a comportar-se como "uma viúva sofrida" no programa da apresentadora Hebe Camargo.
Segundo o juiz, o hoje chefe de gabinete de Lula orientava as pessoas envolvidas no caso sobre os procedimentos que deveriam adotar, para encobrir escândalos de corrupção do PT em Santo André. Todas orientações seriam repassadas ao deputado José Dirceu.
- Não havia o mínimo lamento de ninguém pela morte do prefeito. Era um morto muito pouco querido - ironizou o juiz, preso por venda de sentenças judiciais.
Rocha Mattos contou ainda que os diálogos envolvem várias pessoas, entre elas Klinger Luiz Oliveira, ex-secretário de Serviços Municipais de Santo André e apontado como um dos principais articuladores do esquema de corrupção na prefeitura; Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, acusado de ser o mandante do assassinato; o empresário Ronan Maria Pinto; um deputado estadual do PT; o deputado Luiz Eduardo Greenhalg (PT-SP) e o próprio Carvalho. Segundo o juiz, as fitas ainda existem e estão em poder da Justiça.
Apelidada pelos governistas de "CPI do Fim do Mundo" por causa da grande lista de convocados e por ter estendido a investigação a outros assuntos, a CPI dos Bingos é dominada pela oposição. Foi instalada em junho, para investigar as casas de bingo no país e a relação delas com a lavagem de dinheiro e o crime organizado, depois que o STF determinou que o presidente do Senado indicasse nomes para compô-la, pois o governo tentava impedir sua instalação.
Outros assuntos investigados pela CPI dos Bingos:
Doleiros: Após ter sua convocação barrada pelas CPIs Correios e do Mensalão, o doleiro Toninho da Barcelona foi chamado pela CPI dos Bingos e acabou prestando depoimento em uma sessão conjunta das três comissões. Ele revelou a existência de um suposto esquema de lavagem de dinheiro do PT, que trocava com ele dólares vindo de contas do empresário Marcos Valério no Trade Link Bank, em Nova York. Ele disse ter dado pelo menos R$7 milhões ao partido, por intermédio da corretora Bônus-Banval.
Ribeirão Preto: Ouvido pelas suspeitas de envolvimento no caso Gtech, o advogado Rogério Buratti denunciou um suposto esquema de pagamento de propina mensal de R$50 mil à prefeitura de Ribeirão Preto, na segunda gestão do ministro Antonio Palocci. A CPI ouviu suspeitos de envolvimento no caso e ameaçou convocar Palocci, que acabou sendo poupado pela CPI pelo perigo que a ida do ministro pode representar no mercado financeiro.
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