A campanha na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) foi uma das mais intensas dentre todos os bairros curitibanos. Ao contrário de outros regiões da cidade em que havia pouca propaganda política, na CIC os candidatos a prefeito e vereador disputaram espaço por meio de faixas, cartazes, pinturas em veículos que circulam pelas ruas e comitês de campanha. Por trás de tanta movimentação está o fato de o bairro reunir o maior eleitorado de Curitiba. São cerca de 94,6 mil pessoas que irão votar no local, segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE) contingente capaz de decidir uma eleição, principalmente para a Câmara de Curitiba.
A CIC equivale a 7,5% do eleitorado da capital, que é de 1,2 milhão de pessoas com título. Com tanto voto reunido, o Instituto Paraná Pesquisas calcula que o bairro tem potencial para eleger 3 dos 38 vereadores, pois a cada 25 mil votos a legenda ganha uma vaga na Câmara. "A CIC é decisiva e os candidatos sabem disso", afirma o diretor do instituto, Murilo Hidalgo.
Os moradores também sabem. O presidente da associação de moradores da Vila Nossa Senhora da Luz, Israel Araújo Muniz, até se orgulha disso. "Para a gente é bom porque politicamente o bairro fica forte. O povo ainda não descobriu a força que tem no voto. Na hora que descobrir, tem o que quer no bairro."
Muniz conta que em ano de eleição os moradores já estão acostumados com a movimentação política, feita por candidatos de vários partidos e de diferentes regiões da capital. "Todo mundo vem pescar um pouco", brinca o líder comunitário.
Véspera de eleição
O cientista político Renato Perissinotto, professor da UFPR, diz que se a sociedade não pressiona, o político acaba mesmo procurando o bairro só na véspera de eleição. "As pessoas devem ter em mente que a política, na maioria das vezes, não funciona na boa vontade do candidato. Para que a população mais carente obrigue seus candidatos a manter vínculos, é preciso se organizar." Mas, ele alerta que, apesar da força do conjunto, se a comunidade do bairro não se organiza acaba não tendo poder. "Se o voto é fragmentado, como imagino que seja, esse peso (eleitoral) não se traduz em poder de influência."
Moradores do bairro dizem sentir falta de muita coisa. A aposentada Osana Nascimento, que foi presidente da associação beneficente da CIC, cita a necessidade de mais médicos, de atividades no contra-turno escolar, de linhas de ônibus e de locais para esporte. "Tem bairro que é menos povoado, mas conta com mais assistência, projetos para jovens e adolescentes. E nós não temos projeto nenhum."
Para a costureira Elienai Gomes, é no período de eleições que o poder público age mais: "A grama é cortada com mais freqüência, constroem escola e casas populares". Elienai observa que muitos avanços foram feitos na região. Mas ela é mais uma vítima da carência que os moradores dizem ser a mais comum: falta de programas para jovens e adolescentes. O filho de Elienai não conseguiu vaga para o programa Adolescente Aprendiz (antigo Menor Aprendiz), de formação profissional.
O Conselho Tutelar da CIC estima que 120 adolescentes do bairro estão fora de programas de formação. Eles têm o perfil, mas faltam vagas. "Todos os adolescentes que estão fora do programa estão com direito violado", diz a presidente do conselho, Dione Maria Oliveira dos Santos. De 15 de janeiro de 2007 a 30 de junho de 2008, a CIC registrou 2,2 mil atendimentos por causa da violação do direito fundamental de educação, cultura, esporte e lazer.
Outro desafio para a região, segundo moradores, é aumentar as vagas em creches. A estagiária Gisele Adeline Haas esperou de dois a três meses para que seus filhos gêmeos freqüentassem a creche e mais um ano para a filha mais velha. "Enquanto isso, as crianças ficavam com minha mãe. Quando não tive ajuda da mãe, fiquei desempregada e abri mão do serviço."
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