Ao sair do Palácio do Planalto, onde pediu demissão do cargo de ministro da Educação, Cid Gomes (Pros-CE) defendeu a presidente Dilma Rousseff, voltou a criticar o Congresso e disse estar “feliz” com sua saída. “A meu juízo ela tem as qualidades que são necessárias”, afirmou, após um rápido encontro com a presidente, em que pessoalmente a comunicou de sua decisão.
“Tem muito discurso de oposição, muita gente que fala em corrupção. Isso parece ser uma coisa intrínseca ao governo, mas o que Dilma está fazendo é exatamente limpar o governo de corrupção que aconteceu no passado. Isso que ela está fazendo. É por isso que a gente vive uma crise hoje. Quem demitiu esse [ex-diretor da Petrobras] Paulo Roberto [Costa, um dos delatores na Operação Lava Jato], esse [também ex-diretor da Petrobras e preso pela Lava Jato] Renato Duque, foi ela. Há muito tempo.”
Segundo ele, a atual crise ligada à Lava Jato “é anterior a ela [Dilma]”. “Ela, ao contrário, como é séria, está limpando e não está permitindo isso.”
Para Cid, é justamente a atitude contra a corrupção que fragilizou a relação da presidente com o Congresso. “E é isso que fragiliza sua relação com boa parte dos partidos, que querem isso [corrupção].”
O ex-ministro lembrou da lista de parlamentares suspeitos de relação com o esquema de corrupção na estatal que o STF (Supremo Tribunal Federal) investiga. “Você viu do PP, quantos deputados recebiam mensalidade de um diretor na Petrobras? Isso era a base do poder. E ela está mudando isso. E isso, óbvio, cria desconforto.”
Cid criticou novamente o Congresso. “A população está vivendo um momento difícil, a toda hora é bombardeada pela crônica da corrupção, mas o conceito que a população brasileira faz do Parlamento... eu considero o Parlamento fundamental para a democracia, o que é lamentável é a sua composição e a forma de o parlamento se relacionar com o poder”, disse. “Virou o antipoder. Ou tomam parte do poder ou apostam no quanto quanto pior, melhor, para assumirem o poder e muitas vezes fazerem as mesmas coisas que se está se fazendo, ou pior.”
Sobre o pedido de demissão, o ex-ministro afirmou que ele foi feito em caráter irrevogável, e que não deu espaço para Dilma dizer que não o aceitaria.
Segundo ele, suas declarações desta terça no Congresso, em que confirmou declaração anterior sobre existirem de 300 a 400 achacadores no Congresso, tornou sua situação insustentável. “A minha declaração, e mais do que ela a forma como eu coloquei a minha posição na Câmara, óbvio que cria dificuldades para a base do governo. Pedi demissão em caráter irrevogável, agradecendo a ela. Eu não dei margem [para Dilma insistir ou dizer não]. Eu disse: “Presidente, lamento muito, agradeço, mas estou aqui entregando o cargo de ministro”, afirmou.
“Falei com ela. Eu disse para ela que lamentava muito, que tinha muito prazer, que confiava nela, que acreditava nela, continuo acreditando, continuo confiando. Agora, a minha presença no ministério ficou numa situação de contraponto, de indisposição com a base que apóia o seu governo.”
Ainda assim, Cid disse estar “feliz”. “Eu estou feliz. Lamento pela educação do Brasil. Lamento porque tem muito o que fazer, e eu estava muito entusiasmado. Eu tinha muito entusiasmo pelo ministério da Educação. Já tinha visitado seis Estados em dois meses e pouco. Iniciamos projetos que são importantes para melhorar a educação pública no Brasil.”
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