A pacata cidade de Campina de Monte Alegre, no interior de São Paulo, tem apenas 5,5 mil habitantes, mas uma atividade empresarial de fazer inveja até à capital paulista. São 1.500 empresas na cidade, o que dá cerca de uma empresa para cada quatro moradores. Essa situação levantou a suspeita da polícia que foi à cidade para investigar o uso de endereços da cidade por empresas da capital que querem pagar menos impostos, configurando evasão de divisas.
Não há a cobrança do Imposto Sobre Serviço (ISS) em Campina do Monte Alegre e sim uma taxa anual fixa de R$ 50, o que reduz a contribuição tributária das empresas. Até um velório do município é usado como fachada para empresas fantasmas.
A cidade é uma das menores e mais calmas do interior do estado de São Paulo. Os cinco policiais da única delegacia têm pouco trabalho. Registram um assassinato a cada cinco anos. A lista telefônica é um caderno feito no computador. Tem apenas o primeiro nome e o apelido de cada morador.
É uma cidade tipicamente agrícola e com poucas oportunidades de emprego. Mas essa simplicidade pode estar escondendo um paraíso fiscal.
A suspeita de fraude surgiu com a descoberta de documentos em um escritório de contabilidade localizado no Jabaquara, na zona sul da capital. Uma empresa que faturou R$ 7.040 num mês pagou R$ 35,20 de ISS para todo o ano, muito abaixo do que ela deveria ter pago - R$ 1.680.
A polícia foi à cidade de Campina do Monte Alegre para confirmar a irregularidade. Uma lista de 320 empresas foi o ponto de partida dos policiais. O primeiro endereço verificado foi a Rua Domingos Camacho, onde só há duas casas.
Em outra rua onde deveriam existir 11 empresas, os policiais só encontraram o lago da cidade. Do outro lado, um terreno baldio. O endereço de outras três empresas é o ginásio municipal de esportes.
Na lista da polícia também há registro de empresas fantasmas, que deveriam estar em endereços que não existem. A sede de 21 empresas é a Rua Amâncio Borba, número 138. Mas no local, a numeração pula do 130 para o 140.
Há três anos, um galpão era a sede da prefeitura da cidade e também o endereço de cerca de 100 emprsas, que não prestam nenhum tipo de serviço na cidade, mas que usam o lugar para pagar menos impostos. Quando a polícia e os fiscais da prefeitura de São Paulo chegaram ao local, encontraram apenas uma fábrica de bolsas.
Os funcionários da fábrica estão de férias. O proprietário do local mostra à reportagem do SPTV a correspondência de 110 empresas e diz que já recebeu até encomendas.
- Tinha computador, alguns tipos de móveis - afirma Lai Shin Lin.
Há empresas particulares registradas até mesmo no endereço da nova sede da prefeitura de Campina do Monte Alegre. O prefeito não estava na cidade, por isso a lista completa de todas as empresas da cidade não foi entregue à polícia.
- Ele é a única autoridade responsável da cidade para fazer a entrega dessa documentação - disse Gerardo Vani, assessor jurídico da prefeitura.
Se todas as empresas funcionassem na cidade, sobraria empregos na cidade, mas faltaria lugar para velar os mortos. No velório do município estão registradas 11 empresas.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Deixe sua opinião