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Olavo Noleto, responsável por Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência: equipe qualificada nas prefeituras é essencial para qualidade dos projetos | Wilson Dias/ABr
Olavo Noleto, responsável por Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência: equipe qualificada nas prefeituras é essencial para qualidade dos projetos| Foto: Wilson Dias/ABr

Falta de recursos

Habitação e saneamento são áreas mais prejudicadas

Habitação e saneamento são os setores mais afetados pela falta dos recursos obtidos por meio de projetos técnicos – a educação acaba recebendo mais repasses obrigatórios. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apenas 8% das prefeituras enviaram ao governo federal Plano de Habitação de Interesse Social para compor um sistema nacional do assunto.

No saneamento, levantamento do Instituto Trata Brasil mostra que a maior parte dos municípios com até 50 mil habitantes têm pouca capacidade técnica para apresentar projetos ao governo federal. "No PAC 1, por exemplo, 60% das obras foram paralisadas ou não iniciadas por conta de falhas nos projetos ou por conta da má qualidade. Mesmo municípios grandes, como Fortaleza, Natal, Belém e João Pessoa, apresentaram problemas", explica Édison Carlos, presidente do Instituto.

Para profissionais que estudam gestão municipal, a realização de consórcios de municípios, além da capacitação dos servidores, é uma das principais medidas para melhorar o quadro. "As soluções deveriam passar por consórcios urbanos, num projeto de abastecimento de água ou de saneamento, por exemplo, que atravessa o limite de várias cidades, elas poderiam se unir", afirma Cátia Wanderley Lubambo, professora da Universidade Federal de Pernambuco.

Emendas

A possibilidade de obter recursos por emendas parlamentares acaba se tornando a única opção para algumas prefeituras. "Por mais que o governo federal faça programas de treinamento, há déficit de capacitação no país. Às vezes até contratam um funcionário comissionado, ou um consultor, para fazer um determinado projeto, mas depois voltam a depender do repasse obrigatório e do recurso via emenda", esclarece o pesquisador do Ipea Renato Balbim.

Estudo elaborado pela Asso­­­ciação Brasileira de Municípíos em parceria com a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência mostrou que as prefeituras brasileiras enfrentam dificuldades para elaborar projetos para firmar convênios e conseguir recursos do governo federal. De acordo com o estudo da AMB, de 30% a 40% dos projetos apresentados por prefeituras aos ministérios são rejeitados por falta de qualidade técnica. Além disso, mais da metade dos municípios com até 20 mil habitantes, que equivalem a 70% das cidades do país, precisa recorrer a contadores terceirizados na hora de preparar projetos, conforme a Secretaria de Relações Institucio­­nais da Presidência.

Patos do Piauí, a 399 quilômetros de Teresina, ilustra a dificuldade de municípios em elaborar projetos. Com 6.297 habitantes, não tem maternidade, transporte público e saneamento.O prefeito, Sílvio José da Silva (PMDB), de 46 anos, é um agricultor com ensino médio e não conta com engenheiros, administradores ou arquitetos entre assessores e funcionários. "Quando quero um projeto para captar recursos, contrato um contador, e enviamos para Brasília. Mas tem muita burocracia", diz Silva.

Na área da Saúde, de acordo com o IBGE, 93 municípios de 15 estados não tinham, em 2009, nenhuma unidade de emergência, maternidade, farmácia popular, laboratório clínico ou programa de agente comunitário. Ainda de acordo com o IBGE, 1.841 cidades não tinham estrutura específica na área de habitação e 1.365, qualquer estrutura de transporte.

Um dos principais obstáculos é a falta de qualificação dos funcionários. Segundo dados da última Pesquisa dos Municípios Brasileiros do IBGE (a Munic de 2009), em 1.879 municípios, o titular do órgão de Saúde tem até o ensino médio e em 55 cidades, eles chegam a ter fundamental incompleto. A Controladoria-Geral da União (CGU), que realiza cursos de capacitação para prefeituras, afirma que apenas 1.015 ou 18% dos municípios passaram pela capacitação desde que ela foi criada, em 2006.

"Ensinamos a parte jurídica e administrativa de como fazer um pedido de convênio e quais os compromissos de quem recebe verba federal. Mas as deficiências na área técnica, como falta de engenheiros, não temos como suprir", afirma o secretário de Controle Externo da CGU, Gui­­­lher­­me de La Rocque. "Com equi­­­pe qualificada, você pode ter um cadastro criterioso mesmo com uma planilha simples de Excel, e pode ter cadastro ruim mesmo com uma ferramenta de última geração, se não houver bom corpo técnico", diz Olavo Noleto, responsável pela Secretaria de Assuntos Fede­­rativos da SRI.

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