São Paulo (AE) – Com a cheia, vem a malária. É assim, sazonalmente, que a doença toma toda a Amazônia e faz com que 99% dos casos brasileiros aconteçam lá: são mais de 400 mil por ano. O combate à doença, endêmica no Brasil, é dificultado por falta de recursos para equipamentos, estrutura física e equipe especializada, mas principalmente pela falta de acesso dos médicos aos doentes e vice-versa, separados por rios, floresta e grandes distâncias.

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Uma ferramenta para ajudar o país a reduzir o número de casos de malária driblando parcialmente os obstáculos foi apresentada recentemente por cientistas brasileiros. Usando um modelo matemático, eles chegaram à conclusão que o tratamento eficaz de 20% da população de infectados é suficiente para derrubar rapidamente a incidência da patologia a quase nada. Em compensação, se menos de 8% dos casos forem tratados devidamente a incidência cresce.

O trabalho foi conduzido pelo engenheiro Luiz Bevilacqua, ex-presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), e sua aluna de pós-graduação Ana Paula Wyse, ambos do Laboratório Nacional de Computação Científica, e faz parte do Projeto Geoma, rede de pesquisa sobre a Amazônia. "Do nosso ponto de vista, de suporte de políticas públicas, deve haver um esforço para tratar 20%, ou 22%, ou 23%", diz Bevilacqua. "Não é muito."

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Eles usaram dados de apenas um município, Novo Airão (AM), coletados em 2003, para estruturar o modelo. Ele leva em conta a população humana, a de mosquito Anopheles – o transmissor do plasmódio que causa a doença –, qualidade do tratamento, número de picadas. Falta incluir variáveis importantes no perfil da malária no Brasil, como migração de infectados e o desmatamento, que varia o hábitat e aproxima o homem do mosquito.

A ferramenta ainda precisa ser validada, repetindo o modelo para outras localidades e colocando-a na prática. Mas os dois acreditam que ele indica um caminho que não precisa atingir toda a população para ser efetivo. Para isso acontecer, diz Ana, o ideal seria trabalhar em conjunto com quem faz a coleta dos dados para se chegar a um índice fidedigno.