Os pré-candidatos à presidência da República, ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e o deputado Ciro Gomes (PSB), transferiram para Recife a disputa por espaço neste carnaval. Sem que nenhum admitisse o interesse pela busca de eventuais votos nas urnas em outubro, Dilma e Ciro assistiram ao desfile do Galo da Madrugada no camarote do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e do prefeito, João da Costa (PT), enquanto Serra, em ponto extremo da avenida Guararapes, fazia um corpo-a-corpo com os foliões do bloco, considerado o maior do País capaz de arrastar até dois milhões de pessoas.
Com o sol a pino, Serra acompanhou o trio elétrico e enfrentou por cerca de meia hora uma multidão compacta. Acenou, beijou, ouviu declarações de votos, posou para fotos e disse não ter ouvido o grito do nome de Dilma Rousseff, sua principal adversária na corrida presidencial, disparado por alguns foliões que o avistaram.
Distante cerca de um quilômetro de Serra, Ciro Gomes ironizava a disposição do governador paulista. Ele descartava qualquer semelhança entre Serra e o Nordeste. "É muito mais fácil boi voar do que Serra ter identificação com o Nordeste", disse Ciro. "Isso é uma questão de bofe (entranhas)", continuou o deputado. "É importante que (Serra) venha para conhecer o mundo real, pelo menos uma vezinha na vida. É legítimo que ele venha em uma das festas mais importantes do País". Ciro aproveitou para acusar Serra de, como governador de São Paulo, patrocinar uma guerra fiscal contra os Estados da região.
A resposta a Ciro partiu do deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA): "Ciro ama tanto o Nordeste que mudou o seu título de eleitor para São Paulo". Dilma fez papel mais polido do que Ciro. Disse não ter problemas com Serra e que não foi ao carnaval em São Paulo por questão de agenda e não por causa do governador. "Eu errei a data. Tinha de ter ido ao ensaio, mas não pude, porque estava com o presidente (Luiz Inácio Lula da Silva) na data. Somos todos civilizados e São Paulo tem hoje um carnaval respeitado", disse a ministra.
Dilma e Ciro aproveitaram a alta popularidade do governador Eduardo Campos. Assistiram ao desfile por cerca de duas horas, acenando do camarote. Dilma batia palmas, fazia movimentos acompanhando o ritmo dos trios elétricos e gestos demonstrando apreço à festa e, por várias vezes, batia com a mão no peito, principalmente quando ouviu a música com o refrão: "Sou brasileiro/com muito orgulho/com muito amor". Trios elétricos faziam reverência ao governador. Ele chegou a ser chamado de "o governador mais doidão" por um dos puxadores de frevo. Fafá de Belém, de cima do trio elétrico com o cantor Gustavo Travassos e após cantar o Hino Nacional em ritmo peculiar para o momento, repetia "meu coração só tem Arraes", música tema de campanha de 1986 do ex-governador Miguel Arraes, avô de Eduardo Campos.
Com calça comprida branca, Dilma chegou ao encontro do governador no Palácio das Princesas já com a camisa oficial do carnaval recifense. Em tons de azul, a camiseta tinha o desenho de uma arara na frente e de um beija flor e de borboletas atrás.
Ciro Gomes havia chegado minutos antes ao Palácio. "Em nenhuma circunstância sou adversário de Dilma. Adversário é quando há antagonismo conceitual. Nós dois não temos. Somos bons amigos, inclusive", disse. O deputado continua em campanha pela presidência, seguindo o roteiro acertado com o PSB, com o PT e com o presidente Lula, que resultará na definição sobre o seu futuro político em março.
No próximo mês, os governistas esperam que o quadro na oposição esteja mais claro com o fim do prazo para que Serra deixe o governo paulista na busca pela eleição à presidência. O governador Eduardo Campos foi diplomático com a presença dos dois pré-candidatos governistas. "Isso mostra que o projeto iniciado pelo presidente Lula vai continuar", disse Campos.
Longe de Recife, a senadora Marina Silva, candidata do PV na disputa presidencial, acabou presente na avenida Guararapes. Um grande boneco, desses que enfeitam o bloco Galo da Madrugada, com a imagem de Marina desfilou em ritmo de frevo na frente do camarote governista.
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