O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), está na lista dos políticos que devem ser denunciados ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por envolvimento no escândalo de desvios de recursos da Petrobras investigado pela Operação Lava Jato. Pessoas do grupo de trabalho que atua nas ações contra os políticos disseram a interlocutores que Nogueira deverá ser denunciado no mesmo momento que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o senador Fernando Collor (PTB-AL).
As ações devem ocorrer antes da sabatina que definirá a recondução de Janot, marcada para a próxima quarta-feira (26). Segundo os interlocutores, Janot avalia ainda se oferece as denúncias junto com os pedidos de inquérito decorrentes da delação do dono da UTC, Ricardo Pessoa, que trouxe nomes de outros políticos que estariam envolvidos no esquema.
A dúvida ocorre porque um dos elementos para a denúncia contra Ciro é a delação de Pessoa. O dono da UTC afirmou ter acertado o pagamento de R$ 2 milhões para o presidente do PP a título de propina, tendo mandado entregar R$ 1,4 milhão em uma casa no Lago Sul, bairro nobre de Brasília. Pessoa contou ainda que outros R$ 780 mil foram repassados por meio de um contrato simulado de prestação de serviço com o escritório de advocacia Hughues & Hughues, do advogado Fernando de Oliveira Hughues.
Ciro foi apontado ainda como beneficiário de recursos do esquema pelo doleiro Alberto Youssef e pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, dois dos delatores do esquema. Eles afirmam que Ciro era um dos políticos que decidiam a distribuição da propina entre os parlamentares do PP. O senador já foi alvo de mandado de busca e apreensão na Operação Politeia, deflagrada por decisão do Supremo.
Defesa
O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende Ciro, afirmou que uma denúncia do cliente com base na delação de Pessoa não teria fundamento. Ele afirma que o cliente nem sequer conhece Hughues e que eventual acusação com essa base seria “abuso de poder”.
“Estive com o doutor Janot na semana passada mostrando que a Procuradoria cometeu um erro. Se vier uma denúncia com base em uma afirmação falsa será abuso de poder. Eu prefiro acreditar que não vá acontecer”, disse Kakay.
Collor
O ex-presidente Fernando Collor, por sua vez, é citado nas delações de Pessoa e de Youssef. Segundo Janot, o ex-presidente da República recebeu R$ 26 milhões de propina entre 2010 e 2014. Assim como Ciro, Collor foi alvo de busca e apreensão. Na sua residência em Brasília, a Casa da Dinda, a Polícia Federal apreendeu três carros de luxo - uma Ferrari, um Lamborghini e um Porsche. As acusações contra ele focam a BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. O senador indicou diretores da empresa e teria recebido propina por contratos firmados pela empresa. Collor alega inocência. Ele já afirmou que a Lava Jato extrapola os limites da legalidade e chegou a xingar Janot da tribuna do Senado.
No caso de Cunha, a acusação vem dos delatores Youssef e Julio Camargo, lobista. O presidente da Câmara, segundo Camargo, teria recebido US$ 5 milhões junto com o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano. A origem seria um contrato da Petrobras para a compra de sondas de perfuração. O parlamentar teria pressionado Camargo por meio de requerimentos protocolados na Câmara por aliados questionando os negócios do lobista.
O nome de Cunha aparece como verdadeiro autor dos requerimentos. O presidente da Câmara nega envolvimento com as irregularidades, afirma que foi “escolhido” por Janot para ser investigado e refuta a afirmação de que teria patrocinado os requerimentos contra Camargo.
Além de Ciro e Collor, o dono da UTC citou políticos de vários partidos como beneficiários de recursos desviados da Petrobras e da usina de Angra 3. Entre os nomes estão os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Comunicação Social) e o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que foi candidato a vice-presidente da República na chapa de Aécio Neves (PSDB-MG) em 2014.
Mercadante e Aloysio teriam recebido recursos por meio de caixa dois. Ambos negam a acusação. Edinho, por sua vez, teria feito um pedido de doação eleitoral para a campanha de Dilma Rousseff vinculando a contribuição a contratos da UTC na Petrobras. O ministro nega ter feito a vinculação e afirma que a doação foi solicitada na função de tesoureiro da campanha e foi declarada à Justiça Eleitoral.
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