Preocupado em blindar os militares que serão convidados a depor na Comissão Nacional da Verdade e a apresentar um contraponto a possíveis ataques às Forças Armadas, o presidente do Clube Naval, Ricardo Veiga Cabral, criou uma comissão paralela da Verdade e montou um grupo jurídico para assessorá-la.
A ideia é analisar os debates na Comissão da Verdade e oferecer orientação jurídica e acompanhamento nos depoimentos. A iniciativa pioneira do Clube Naval deve ser seguida pelos demais Clubes Militares, liderados por militares da reserva, que têm funcionado como a voz do pessoal da ativa que é impedido de falar pelo Regulamento Disciplinar das Forças Armadas.
Na quinta-feira um dia depois de a comissão oficial começar a funcionar em Brasília, após pomposa posse no Palácio do Planalto com a presença de quatro ex-presidentes as preocupações com a conduta dos trabalhos será debatida numa reunião interclubes, no Rio de Janeiro.
"Precisamos estar atentos sobre os passos da Comissão e por isso faremos este acompanhamento diuturno", disse Veiga Cabral. De acordo com o almirante, a comissão paralela poderá, ainda, "evoluir para um diálogo com a Comissão da Verdade, ou pelo menos com alguns integrantes dela, para ouvirem nossas justificativas". Ele teme que a Comissão da Verdade seja "apenas uma estratégia, um primeiro passo, para, depois, tentarem revogar a Lei da Anistia, que está em vigor e foi ratificada pelo Supremo Tribunal Federal".
"Será que eles não vão ceder à esquerda?", questiona Veiga Cabral. Para ele, decorre daí a importância da comissão paralela e de artigo recente publicado na imprensa como o do general de Exército Rômulo Bini, que pede o fim do silêncio pelos militares.
Lei do Silêncio
O texto do general Bini que convoca os militares da reserva e até os chefes para suspenderem a lei do silêncio que se impuseram, para questionarem a Comissão, que chama de revanchista, e pede que reajam aos insultos que a categoria vem recebendo desagradou ao comandante do Exército, general Enzo Peri.
Há preocupação de que um artigo de um oficial general como Bini, que sempre esteve longe de qualquer radicalismo, sirva de incentivo para outros oficiais, até mesmo da ativa, se manifestem, desencadeando um problema interno com várias vertentes, que começa com a Comissão da Verdade e passa, obrigatoriamente, pela insatisfação salarial, que é imensa. Justamente para evitar a propagação das ideias do general Bini, o artigo dele não foi incluído na resenha do Exército, nem de sábado, nem de domingo, que chega a todas as unidades militares do país.
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