O vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Antônio Celso de Queiroz, e o secretário-geral Dom Odilo Pedro Scherer condenaram o baixo nível das acusações envolvendo o caseiro Francenildo dos Santos Costa e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Os dois bispos evitaram atacar o ministro e concentraram suas críticas na política econômica.
- Tudo é muito pequenino, para não dizer baixo. Acho que o Brasil está cansado. Um país deste tamanho, que tanto tem a fazer, não pode se reduzir a uma discussão desse nível. Parece um disque disque de esquina. Me sinto envergonhado. Não há brasileiro que não esteja torcendo para que esta página seja virada, que se limpe o máximo possível e se comece um período novo - disse Dom Antônio.
Indagado sobre a permanência de Palocci à frente da Fazenda, Dom Odilo disse que é preciso investigar as acusações do caseiro e esclarecer a quebra de seu sigilo bancário na Caixa Econômica Federal.
- Acusação por acusação ainda não se justifica nenhuma tomada de decisão - disse o secretário-geral da CNBB.
Os dois bispos voltaram a criticar a política econômica, dizendo que o presidente eleito em outubro, seja ele quem for, terá de promover mudanças.
- Questiono muito mais a permanência da linha econômica, que já vem desde o governo passado. Uma política mais voltada para as questões monetárias do que sociais. Nos últimos doze, quatorze anos estamos vivendo a pagar juros - disse o vice-presidente da CNBB.
Os bispos afirmaram que questões como honestidade, ética, política social e desenvolvimento econômico deverão fazer parte do programa de governo de qualquer candidato ao Palácio do Planalto. Lembrado da recente afirmação do governador e candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, de que em São Paulo não haveria ladrões, Dom Odilo respondeu:
- Tem muito ladrão em São Paulo...
E emendou, após uma pausa, brincando com o sentido duplo da frase:
- Assalto na rua.
Cautelosos, os bispos evitaram atacar Palocci e se referiram tanto ao escândalo do mensalão quanto à quebra de sigilo do caseiro no condicional, ou seja, deixando em aberto, pelo menos na linguagem empregada, a possibilidade de que não tenha havido irregularidade. Eles deixaram claro, porém, que a violação de sigilo é um crime condenável.
- A gente não sabe onde está a verdade. Se tivesse havido (quebra de sigilo, já admitida pela Caixa), seria muito grave, algo que invade a privacidade do cidadão - disse Dom Odilo.
Num raciocínio semelhante ao do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando justificou o caixa dois no PT, classificando a irregularidade como prática recorrente no país, o vice-presidente da CNBB disse que a corrupção no Brasil tem raízes profundas e mencionou o tradicional jeitinho brasileiro, as tentativas de não pagar impostos e a impunidade que beneficia corruptos país afora.
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