Ao subir na tribuna do Senado para comemorar sua absolvição pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) criticou o presidente da corte, Joaquim Barbosa, e disse que o tribunal "reescreveu a história do país" ao inocentá-lo dos crimes que resultaram no seu impeachment da Presidência da República, em 1992.
Collor classificou de "lamentável" a postura de Barbosa, na semana passada, ao final do julgamento da ação em que era acusado pelo Ministério Público de participação em esquema de desvio de recursos por meio de contratos da Presidência com agências de publicidade.
Ao final do julgamento em que Collor foi absolvido por unanimidade Barbosa criticou a morosidade da Justiça brasileira e afirmou que o processo passou 23 anos tramitando em diferentes instâncias da Justiça "com tropeços" e com "mil dificuldades".
"Se no Brasil a Justiça como um todo padece de letargia, como ele próprio [Barbosa] reconheceu ao final de meu julgamento, o presidente da mais alta corte judicial padece de liturgia. O senhor presidente da Suprema Corte do país tem uma carência de liturgia para o exercício do seu cargo", atacou Collor.
O senador disse que, mais grave do que "se confundir ou declarar o resultado do julgamento", foi Barbosa resumir "de forma desmerecedora e embaraçosa" o enredo da ação e do julgamento, "deturpando os fatos".
"A que crimes se refere o presidente do STF? De que provas fala o senhor, senhor ministro Joaquim Barbosa? Que ordens ou determinações esperava encontrar o senhor ministro se todos os acusados foram absolvidos, inocentados por falta de provas. A que fatos o ministro Joaquim Barbosa alega? Sinceramente, não é esta a conduta, a razoabilidade que se esfera de um chefe de Poder da República."
Collor disse que "suportou" nos últimos 23 anos todas as acusações relativas ao período em que foi presidente da República, mas que agora o país foi "passado a limpo" com a decisão do STF de inocentá-lo."
"Depois de mais de duas décadas de expectativas e inquietações pelas injustiças a mim cometidas, cabe a perguntar: quem poderá me devolver tudo aquilo que perdi? A começar pelo meu mandato presidencial e compromisso público que assumi. A tranquilidade que perdi, a retratação que todo ser humano merece a ser prejulgado sem julgamento, vitimado sem dolo e responsabilizado por atos e fatos inventados e versões forjadas."
Emocionado, Collor quase chegou às lágrimas ao falar de seu passado depois que deixou a Presidência da República. O senador disse que foi o homem público "mais investigado" desde a instauração da República no país e, agora, está absolvido de todas as acusações. "Estou inocentado de todas as delações. A ninguém é mais dado o direito, salvo por reiterada má fé, de dizer o contrário ou sequer fazer meras ilações."