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As declarações de bens dos políticos brasileiros não valem muita coisa – é só lembrar o caso do novo corregedor da Câmara, Edmar Moreira, que se esqueceu de avisar que tinha um castelo. Mas elas servem, sim, para algumas coisas. Por exemplo, para mostrar quantos são os integrantes da inusitada bancada das caminhonetes, no Paraná.

Sabe-se que há bancadas para todos os gostos: ruralistas, defensores de armas, bancada de apoio aos cartolas de futebol, etc. A das caminhonetes veio à tona na Assembleia Legislativa do Paraná nesta semana. Revoltados, os deputados estaduais exigiam que o governo do estado revisse a cobrança da alíquota de 2,5% de IPVA sobre algumas caminhonetes de luxo.

A bizarria da bancada fica óbvia por vários motivos. Primeiro, porque os próprios deputados aprovaram a legislação do IPVA. Ou seja: estavam se rebelando contra a própria decisão. O que só prova, mais uma vez, que na maioria dos casos nossos parlamentares votam sem nem saber o que está em jogo, apenas seguindo as orientações do líder do governo.

Segundo, porque os deputados nem sequer fingiram estar interessados em baixar outros impostos, ou em reduzir o IPVA de outros tipos de veículos. Queriam saber era das caminhonetes, conforme mostrou bela matéria de Kátia Chagas nesta Gazeta.

E por que as caminhonetes? Eis a função das declarações de bens. Fuçando nos documentos que os senhores parlamentares apresentaram à Justiça Eleitoral antes de sua última eleição, em 2006, descobre-se que perto de um terço de nossos deputados possui caminhonetes: são 15, do total de 54.

Desses, nem todos tiveram seu IPVA aumentado. O imposto só foi maior para as caminhonetes de cabine dupla com compartimento de carga: modelos tipo S-10 e Hilux. Da bancada paranaense, nove declararam ter carros desse gênero. Mas, claro, bancada boa é bancada unida. E os outros membros certamente darão total apoio a seus correligionários.

Os deputados paranaenses declararam possuir modelos que passam fácil dos R$ 100 mil. Há Hilux, Rangers, Blazers, GM Tracker, uma Mitsubishi MMC L 200, várias S-10, etc.

O próprio presidente da casa, deputado Nelson Justus – aquele que ainda não pôsem votação a proposta de transparência, lembra? – é um membro da bancada. Ele declarou ter uma Jeep Grand Cherokee. O próprio deputado avaliou o carro em R$ 51 mil. Não é o seu veículo mais caro. Ele diz ter outros três, sendo dois deles mais valiosos do que a caminhonete.

A bancada da caminhonete é maior do que a de muitos partidos. Só perderia em quantidade para a do PMDB, do governador Roberto Requião. É uma bancada poderosa. Poderia fazer muito pelo estado – desde que, claro, seus integrantes passassem a ler os projetos antes de votar, por exemplo.

Mas o que a existência da agremiação mais diz sobre a nossa Assembleia, porém, é o quanto nossos deputados estão distantes da população que deveriam representar. Não só por ter um estilo de vida muito acima da média do povo. Ser rico nunca impediu alguém de entender a vida dos outros.

O real problema é que a bancada mostrou estar muito mais interessada em defender seus próprios e mesquinhos interesses do que em outros assuntos muito mais importantes.

O presidente norte-americano, Barack Obama, diz que você descobre o que realmente é importante para você ao ver quanto esforço você gasta naquele assunto. Os deputados paranaenses mostraram o que realmente lhes interessa na semana que passou: seu próprio bolso.

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