Na escola todo mundo aprende sobre a princesa Isabel e a Lei Áurea. Se a aula for um pouquinho mais a fundo, pode chegar no Visconde do Rio Branco, Joaquim Nabuco ou José do Patrocínio – todos nomes decisivos para a libertação dos escravos no Brasil. Saber deles é fundamental. Mas é igualmente interessante conhecer uma figura que estava do outro lado da batalha: Paulino Soares de Sousa.
Leia outros textos da coluna Caixa Zero
Flores, balas e votos, recém-lançado pela socióloga Angela Alonso, permite que o leitor acompanhe o movimento abolicionista entre 1868 e 1888 no Brasil. Na época, quase todos os países ocidentais já tinham acabado com a escravatura e nós éramos a exceção. Aliás, esse era um dos argumentos a favor da abolição. Rio Branco, primeiro-ministro na votação da Lei de Ventre Livre, dizia que as comunicações estavam avançando, logo estaria aqui o telégrafo: e o que pensariam de nós os estrangeiros?
Os argumentos contra a escravidão já eram todos conhecidos e para nós parecem evidentes. Mas Paulino é figura fundamental por revelar o que diziam os que eram contra a Lei do Ventre Livre, e mais tarde contra a Lei Áurea. Líder de um grupo de conservadores conhecido como Emperrados, Paulino lutou até o fim contra a libertação dos escravos. Dizia temer a instabilidade econômica, a revolução, e alegava que a escravidão podia até mesmo ser favorável ao negro.
O debate do Ventre Livre, que libertaria os filhos de escravas, mostra em que pé estavam as coisas. Moralmente, diziam os Emperrados, não havia dúvida de que a escravidão era má. “Ninguém sustenta a perpetuidade da escravidão (...). Neste século das luzes para homens que professam a lei do Evangelho a causa da escravidão está julgada para sempre.” Mas era preciso ir devagar com o andor.
“Pereça a sociedade, mas salve-se o princípio” não é decerto sentença que deva ser proferida por aqueles que receberam dos povos o sagrado mandato de vigiar na guarda de seus direitos e segurança (...). Se o nobre ministro Rio Branco tratasse de preparar o terreno, durante quarenta ou cinquenta anos, e depois desse tempo viesse às Câmaras e dissesse: ‘Decretamos a emancipação dos escravos’, eu seria o primeiro a bendizer ao ministro e a dar-lhe o meu voto.”
Prevalecesse essa opinião, teríamos escravos no Brasil pelo menos até os anos 1920. E quem acha que Paulino estava solitário em sua posição pode se surpreender. A votação não foi fácil e Rio Branco só conseguiu passar a lei suavizando-a e fazendo promessas aos parlamentares. E o restante do caminho rumo à liberdade dos negros também não foi fácil. A Lei dos Sexagenários derrubou um primeiro-ministro e só foi aprovada depois de sofrer mudanças a tal ponto que se tornou, na verdade, favorável aos donos de escravos.
Os Emperrados representavam boa parte da elite econômica, que se beneficiava do trabalho escravo e que, mesmo sabendo que um dia seria necessário fazer a transição para outro regime, tentava prolongar seus ganhos enquanto fosse possível. Não tendo argumentos frontais contra a escravidão, defendiam-na como podiam, impondo o medo que as mudanças podem sempre causar.
“A resistência a todos os excessos é um dogma conservador; nessa resistência acompanho os meus amigos da minoria, hei de auxiliá-los quanto puder”, dizia Paulino, usando o conservadorismo, como tantas vezes acontece, como um pretexto para o imobilismo. Emperrados que eram, perderam a batalha e a guerra. Perderam também a batalha moral: não se ouve sequer falar deles. Mas deixaram herdeiros, no Congresso e fora dele. Disso não há dúvidas.
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Premiê de Assad concorda em entregar poder a rebeldes da Síria
EUA alertam que Estado Islâmico pode tentar “tirar vantagem” da situação na Síria
Segurança pública de São Paulo enaltece recorde histórico de redução de crimes
Deixe sua opinião