É sempre assim: vêm as eleições e o discurso de que todos vão fazer o melhor. Todos são capazes de resolver tudo. Algum dos candidatos ganha, passa o palavreado e tudo volta ao normal. Passados alguns dias, basta olhar à volta para ver o tamanho da real inoperância dos nossos políticos, o mar de problemas em que ficamos nós depois que eles conseguiram reassegurar seus cargos.

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Desde que se passou o primeiro turno, por exemplo, os hospitais do litoral do Paraná entraram na mais absoluta crise. Pacientes, que até um mês atrás eram eleitores, disputados a tapa, precisam sair de sua cidade, andar quilômetros, pra ser atendidos em coisas simples. Médicos não recebem salários – será que o prefeito deixou de receber o dele? –, param de atender, e ninguém, nem o prefeito, nem o governador, nem o Ministério Público, faz coisa alguma para ajudar.

Em Curitiba, uma menina morre assassinada de maneira brutal e a prefeitura tem de dizer que simplesmente não pode ajudar, porque a Rodoferroviária, por onde passam milhares de pessoas por dia, tem pouquíssimas câmeras de segurança. Fico imaginando se existe um aeroporto sem câmeras. Mas quem vai a aeroporto tem grana. Câmeras na rodoviária? Para proteger quem?

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Mas o exemplo mais sólido, mais inegável de quanto nossos administradores são incompetentes acontece mesmo na Vila das Torres. Um imenso bairro no coração da capital – aquela, de mais alto índice disso e daquilo – e que nenhum prefeito conseguiu resolver nos últimos 40 anos. Por pura falta de vontade política. Passaram Lérneres, Requiões e Richas e a favela está lá, convivendo com esgoto a céu aberto e traficantes.

Agora, vem a solução. Se não conseguimos dar uma vida digna a essas pessoas, se nenhum prefeito tem coragem da fazer algo, se eles têm problemas de violência – inclusive causados por policiais truculentos – então façamos o mais fácil. Vamos "ocupar" a vila. Enche-se o lugar de policiais e pronto. O problema está resolvido. Ou melhor, não resolvido, mas escondido.

Vivemos numa terra em que os políticos são muito bons de conversa e de perfumarias. Retórica e propaganda não faltam a nenhuma instância de poder. Falta é cumprir o que a conversa promete e que a propaganda diz já existir.

Vivemos o triste contraste entre o que nossos políticos prometem, a cada dois anos, e o vazio de idéias e ações que permeiam nosso dia a dia. Os pacientes do litoral, a menina Rachel e os milhares de moradores da Vila das Torres são apenas algumas das vítimas do frio cálculo feito pelos poderosos, que preferem gastar milhões em publicidade e o menos possível na redução da pobreza e da desigualdade.

Liberalismo

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Pode ser só coincidência, mas é no mínimo curioso que pela terceira vez os norte-americanos tenham colocado na Casa Branca um presidente democrata depois de uma onda de liberalismo econômico que resultou em crise. Depois do crash da bolsa de 1929, Roosevelt foi convocado e estabeleceu o New Deal. Durante décadas o governo decidiu intervir na economia para evitar maiores problemas – e deu certo. Até que nos anos 1980 Reagan entrou na onda "neo-liberal". Em 1987, nova crise na bolsa. Em 1992, os EUA elegeram Clinton. Agora, mais uma crise e mais um democrata: Barack Obama. Por quanto tempo os liberais hibernarão agora?